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Família brasileira vende tudo pra viajar de Kombi: 'Meta é chegar ao Havaí'

Thaisa e Fellipe Barros com os filhos, Imolé e José, na Kombi da família - Arquivo pessoal
Thaisa e Fellipe Barros com os filhos, Imolé e José, na Kombi da família Imagem: Arquivo pessoal

Gisele Rodrigues

Colaboração para Universa, de Barcelona

13/06/2022 04h00

"Eu sempre tive o sonho de viajar pelo mundo e, quando engravidei do nosso primeiro filho, meu marido e eu achamos que isso seria um bom plano para o nosso futuro. Quando eu não aguentei mais o meu trabalho fixo, decidimos cair na estrada. Assim seguimos o roteiro —o diferente, aqui, é que somos uma família preta, somos a @familyontheroad21."

Assim se apresenta a socióloga, terapeuta e empreendedora Thaisa Barros, 28 anos, que decidiu deixar a estabilidade no Rio de Janeiro ao lado do marido, Fellipe Barros, 36, professor de educação física, para viver uma vida nômade. O casal, que está junto há 10 anos, teve a ideia de reformar a Kombi do pai de Thaisa para poder rodar pelas estradas e realizar o sonho de Fellipe, que tem paralisia cerebral, de chegar ao Havaí para participar de uma competição.

Os dois deixaram o Rio em março de 2017, quando deram início a uma viagem para o litoral paulista com os filhos Imolé, hoje com 7 anos, e José, 6. "O mais novo ficou quase 40 dias na UTI quando nasceu, e isso nos fez perceber que a vida estava passando e nós só trabalhávamos. Fellipe atuava como professor, mas também era motorista de Uber à noite, o que me deixava muito preocupada. Um dia, abri o meu computador e vi a foto de uma mulher sentada em uma Kombi: era aquilo que eu queria", relembra.

A primeira parada foi em Ubatuba (SP), onde tentaram morar em uma ecovila, mas acabou não acontecendo e eles seguiram viagem até São Paulo. Por lá, realizaram diversos projetos, como transformar a Kombi em uma brinquedoteca com o objetivo de reverter as atividades em dinheiro, e assim também ter uma reserva financeira.

Em seguida dirigiram rumo à Bahia, porque a ideia era percorrer o nordeste brasileiro antes de sair do país. Adotando um estilo de vida mais tranquilo e sem condicionar dias para uma estadia em cada lugar, conheceram o estado de norte ao sul e acabaram ficando por lá. A ideia, diz Thaisa, é inspirar as pessoas, mostrando que elas podem viver a vida da forma que quiserem.

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A socióloga Thaisa Barros decidiu deixar a estabilidade no Rio de Janeiro ao lado do marido, o professor Fellipe Barros, para viver uma vida nômade
Imagem: Arquivo pessoal

'Não tínhamos reserva financeira, mas tínhamos a vida'

Com o desejo de cair na estrada, a família optou por adotar o estilo nômade mesmo sem uma reserva financeira alta para realizar o sonho de chegar ao Havaí. "Não tínhamos um planejamento muito certo, mas tínhamos coragem para nos reinventarmos, então definimos um roteiro em que a gente pudesse conhecer alguns lugares antes, e uma estrutura para morar —já que a Kombi havia sido reformada para transporte, e não como moradia."

A ideia de chegar até o Havaí surgiu porque Fellipe, que também é paratriatleta, quer se desafiar a completar uma prova de ultralonga distância no arquipélago americano, em outubro de 2023. "Meus planos eram chegar nas Paralimpíadas de Tóquio, mas a minha deficiência não foi incluída nas categorias", diz ele.

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A ideia, diz Thaisa, é inspirar as pessoas, mostrando que elas podem viver a vida da forma que quiserem
Imagem: Arquivo pessoal

Furto e acidentes no caminho

No início de 2018, eles já tinham ficado um bom tempo na Bahia quando a Kombi foi roubada. "O veículo estava todo carregado com as nossas coisas. Arrombaram e quebraram os vidros. Eram pelo menos uns R$ 20 mil investidos ali, tinha equipamento, bicicleta de competição, ficamos arrasados", contam.

Após o furto, decidiram ficar mais um tempo em Salvador para recuperar aos poucos os pertences perdidos e reformar as partes quebradas, quando um novo acidente aconteceu. "Depois de quatro meses de reforma, quando saímos do mecânico nossa Kombi perdeu o freio em uma ladeira. Paramos na traseira de um ônibus, mas graças a Deus toda a família usava cinto e nada aconteceu. Tivemos de gastar cerca de R$ 10 mil com tudo, e alguns dias depois descobri uma nova gravidez. Mas, infelizmente, perdi o bebê com sete meses de gestação", diz Thaisa.

Já em 2020, quando decidiram voltar à estrada, a pandemia fez com que eles precisassem parar novamente. "Passamos quatro meses em Corumbau, e depois nove meses em Caraíva. Entendemos que a dinâmica era viajar de forma mais calma. E quando estávamos voltando a Salvador, em abril de 2022, nossa Kombi mais uma vez perdeu o freio em Trancoso. Naquela hora, sentamos na beira da estrada e quase desistimos de tudo. E até agora ela está no mecânico."

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Thaisa: 'Nosso filho mais novo ficou quase 40 dias na UTI quando nasceu, e isso nos fez perceber que a vida estava passando e nós só trabalhávamos'
Imagem: Arquivo pessoal

Vaquinha online

Já faz quase dois meses que o transporte da família segue em um mecânico na cidade de Trancoso, mas como o valor ficou alto demais para poder rebocar o veículo até Salvador ou mesmo consertá-lo no local, eles criaram uma vaquinha online com o objetivo de arrecadar R$ 10 mil para cobrir os gastos.

"Criamos a vaquinha online e usamos nosso Instagram para pedir doações a quem puder nos ajudar para voltarmos a viajar com a família. Sem esse dinheiro, o nosso sonho continua em pausa. Mas sabemos que viagem é o nosso valor, é o valor da família, e se tiver que ser desse jeito, vamos chegar até lá. Nós vamos chegar ao Havaí."