Topo

Famosa por ostentar monocelha, modelo grega exalta movimento body positive

A modelo Sophia Hadjipanteli  - Reprodução Instagram @sophiahadjipanteli
A modelo Sophia Hadjipanteli Imagem: Reprodução Instagram @sophiahadjipanteli

Denise Meira do Amaral

Colaboração para Universa, de São Paulo

22/05/2022 04h00

"Não sou para todo mundo, mas também não queria mesmo #UnibrowMovement", postou em sua conta no Instagram

A modelo grega e ativista antibullying Sophia Hadjipanteli, 24 anos, acostumou-se a causar alvoroço por onde passa. E o motivo não é sua beleza, embora se enquadre perfeitamente nos tradicionais padrões estéticos ocidentais. Ela apenas optou por não depilar as sobrancelhas e ostenta seus fios da forma em que vieram ao mundo: cheios e compridos.

Em entrevista recente ao "CNN Style", a modelo, que estreou nas passarelas em 2020 na Fashion Week de Londres, conta que a monocelha é herança de seus antepassados gregos da Ilha de Chipre, no Mediterrâneo oriental, e que ela é justamente o símbolo dessa conexão. Revendo fotografias antigas, Sophia percebeu que quase todos seus familiares possuíam monocelha, seja ela assumida ou não.

"A primeira vez que notei minhas sobrancelhas foi quando quis me parecer com minha mãe, [Maritsa]. Ela costumava dizer que as sobrancelhas são lindas penteadas para cima", relembra Sophia, que cresceu entre os Estados Unidos e o Reino Unido. Criadora do movimento #Unibrowmovement, normatizando a monocelha, ela revelou ouvir frequentemente comentários de pessoas indignadas sobre sua escolha: "Olham pra mim como se estivessem vendo um OVNI (Objeto voador não identificado)", conta à CNN.

Com marcas como Guess e Chanel no currículo, além de estampar mais de 50 publicações, como "Vogue", "Elle", "Harper's Bazaar", "New York Times" e "Vanity Fair", Sophia ainda é frequentemente criticada por praticar apropriação cultural. "Todo mundo na minha linhagem tem uma única sobrancelha, e todos eles são loiros. Ser minimizada como 'apenas uma garota branca se apropriando de algo' me chateia", disse a modelo, filha de um refugiado grego que perdeu tudo ao deixar o Chipre, de acordo com entrevista à publicação inglesa "Phoenix".

Além de criticada pela monocelha, Sophia ainda é atacada por depilar os outros pelos do corpo. "Eu depilo minhas pernas e minhas axilas porque gosto da sensação, mas todo mundo quer me enquadrar em uma caixa. 'Ah, você deixa as sobrancelhas, mas depila as axilas, você é uma hipócrita!' Não sou hipócrita, estou apenas fazendo o que quero, e é isso que quero incentivar outras pessoas a fazerem", criticou, ainda na mesma publicação.

Body positive

Com quase 500 mil seguidores no Instagram, Sophia costuma quebrar a internet com posts militantes em prol da quebra de padrões de beleza. Entre fotos de campanhas de marca, selfies e passeios com o namorado, ela faz questão de mandar seu recado. "Não sou para todo mundo, mas também não queria mesmo", escreveu na legenda de uma foto em que está nua, com os cabelos escuros e compridos cobrindo o corpo.

Não se limitando às sobrancelhas, a modelo também defende que as pessoas possam assumir seus corpos como bem entenderem, seja por conterem sardas, seja pela cor do cabelo, tamanho do corpo, formato ou cor. A hashtag #Unibrowmovement tem permitido que ela testemunhe uma série de comentários positivos e do fortalecimento por meio de uma rede de apoio.

A atitude de Sophia faz parte de um movimento crescente, principalmente após a difusão das redes sociais: o body positive, que naturaliza todos os tipos de corpos e características físicas, independentemente de tamanho, sexo ou etnia. A proposta é libertar as pessoas que eram até então vistas como fora dos padrões e reconhecer a beleza justamente nas diferenças.

A monocelha faz tanto sucesso que até mesmo ganhou o apelido de Veronika. O nome veio depois de uma entrevista a um amigo da modelo que ironizou: "Por que você não dá um nome e uma carreira inteira para suas sobrancelhas?".

"Não fico mais surpresa pelas centenas ou milhares de comentários de ódio que recebo. Eu não vou mudar minhas sobrancelhas só por causa de outra pessoa, afinal, eu não só as amo, como acredito que ela precisa mesmo é ser vista por mais e mais pessoas", milita, em entrevista à CNN. Em resposta a um internauta que diz não entender por que ela não consegue se depilar, ela lacra: "Conseguir eu consigo, mas não quero", e manda um beijo pelo ar.

Em entrevista à "Harper's Bazaar", em 2017, ela ainda lembra que não está fazendo isso para cobrar que as pessoas assumam a monocelha, mas somente para mostrar que elas podem seguir com suas vidas tendo a preferência estética que bem entender. "Eu pessoalmente acho que meu rosto fica melhor assim, outros discordam, e tudo bem. Não estou tentando colocar ninguém no movimento. Se eu gosto, apenas deixe-me em paz".

Apesar dos comentários de haters e de já ter recebido até mesmo ameaças de morte por conta de seus pelos, Sophia também alcança uma quantidade enorme de apoiadores. Entre os comentários de suas fotos no Instagram, há inúmeras mensagens de incentivo, como: "Você é incrível, obrigada por ser minha inspiração", "Vim aqui só para dizer que amo seu jeito. Nunca te achei estranha, minha primeira reação foi: 'meu deus, como ela é linda'. Não podemos fazer com que todos do mundo sejam felizes com a gente. Então, vivamos do nosso jeito" e "tão orgulhosa do seu ativismo. Nós merecemos".

Questionada sobre qual conselho daria para alguém que luta para aceitar sua aparência, em entrevista à publicação inglesa "Phoenix", a modelo dispara: "No final do dia, você tem que se deitar na cama e não ser seu maior crítico, mas sim ser seu maior apoiador e protetor. Quando eu estava na escola sofrendo bullying, não tinha ninguém do meu lado, era só eu contra o mundo. É daí que vem minha força".

Veja mais: No 'E aí, Beleza?', Fabi Gomes ensina a fazer sobrancelhas expressivas e marcantes