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'Sexista e misógino': o que são os termos do texto da cassação de deputado?

Nathália Geraldo

De Universa, em São Paulo

13/04/2022 14h47

O Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo, a Alesp, aprovou na terça-feira (12) o pedido de cassação do mandato do deputado Arthur do Val (União Brasil). Durante a leitura do relatório sobre o caso, o deputado Delegado Olim (PP) destacou que o parlamentar enviou mensagens de áudio com teor "sexista e misógino", se confundindo, entretanto, com a pronúncia do segundo termo.

A decisão por unanimidade sobre o destino político de Arthur do Val ainda vai a Plenário. Mas a confirmação de ontem já suscitou dúvidas: afinal, o que é misoginia e sexismo? E por que esses termos foram usados para caracterizar a fala do deputado em relação às mulheres ucranianas?

Consultamos a especialista em gênero e direitos das mulheres Renata Teixeira Jardim, que também é coordenadora da área de violência na organização "Themis - Gênero, Justiça e Direitos Humanos", para entender mais sobre as palavras, ligadas a opressões sofridas pelas mulheres na sociedade.

Arthur do Val e as mensagens misóginas e sexistas

Em um áudio de WhatsApp que veio a público no início de março, o deputado Arthur do Val falou que as mulheres ucranianas "são fáceis porque são pobres". Na mensagem, ele descrevia as impressões que teve das mulheres do local, atribuindo a elas comentários com tom assediador.

O caso ganhou repercussão e impactou em sua carreira como parlamentar. No discurso no Conselho de Ética, nesta terça, Do Val se desculpou com as ucranianas. A defesa dele alega que o parlamentar enviou os áudios a grupos privados, que estava licenciado do cargo e em outro país quando fez os comentários.

Para Renata, que é Mestre em Antropologia Social pela UFRGS, sexismo é um dos termos que ajudam a entender como essa forma de pensar de Arthur do Val é mais comum entre os homens do que imaginamos.

"O sexismo é a prática discriminatória por causa do sexo da pessoa. Com o machismo, ele gera uma concepção que estabelece de forma arbitrária como se dão os papéis do homem e da mulher na sociedade. Isso está no que o deputado falou", analisa. "Ele viu o lugar de vulnerabilidade econômica delas, em um contexto de guerra, aliás, e as colocou num papel de 'fáceis'. Isso se dá dentro de um sistema machista, sexista e misógino que vivemos".

Podem ser interpretadas como ideias sexistas: associar mulheres a estereótipos como de submissa ou recatada, entender que o homem é mais competente em todas as tarefas, criticar quem não "corresponde" aos comportamentos esperados e definidos por uma construção social ligada ao sexo biológico da pessoa.

O conceito de misogonia, por sua vez, diz a especialista classifica aquele que tem "ódio ou aversão às mulheres". Seguir com discursos em que elas são subalternizadas, que colocam em xeque suas capacidades, entra nessa definição. "A misoginia mantém a desigualdade de gênero e vem de um processo histórico em que a sociedade produz essa aversão à mulher". Quando esse discurso de ódio atinge os homens se dá o nome de "misandria".

"Sexismo" e "misoginia", além do termo "machismo", fazem parte da base do conhecimento dos feminismos. Machismo é uma forma de alimentar desigualdades de gêneros: uma pessoa é machista quando acha que o sexo masculino deve ser enaltecido enquanto o sexo feminino é "frágil" ou merece ter lugares menores dentro da sociedade, entre outros pensamentos.

"Machismo é uma forma de sexismo. Por outro lado, homens também podem sofrer sexismo. Mas é preciso saber que histórica e culturalmente, as práticas sexistas fazem mulheres como vítimas", explica a especialista. "É como no caso da mulher que foi levar o filho no bar em São Paulo [o estabelecimento não permitiu a entrada dela, por estar com um menor de idade. Depois, reviu o posicionamento]. Ali, tudo está colado aos papéis de gênero que a sociedade nos impõe, em que a mulher é sempre desvalorizada".

Entender ajuda a combater opressões, diz antropóloga

Ao entender que objetificar, discriminar e excluir mulheres é algo construído historicamente, diz Renata, é que conseguimos pleitear como combater essas opressões. "O fato de esses termos se tornarem populares ajuda a combater essas opressões, que já são parte do vocabulário das lutas sociais. Só temos que ter cuidado para não banalizá-los, com apropriação dos conceitos: foi o que aconteceu quando passamos a falar de gênero e as pessoas do campo conservador criaram uma ideia falsa de ideologia de gênero. Precisamos ter responsabilidade".

Veja mais: Isabela Del Monde, colunista de Universa, comenta o que aconteceu na Alesp