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Goiás: Vereadora tem microfone cortado ao defender mulheres na política

De Universa, em São Paulo

04/02/2022 11h19Atualizada em 04/02/2022 12h30

Camila Rosa (PSD), a única vereadora da Câmara de Aparecida de Goiânia (GO), teve o microfone cortado a pedido do presidente da Casa, André Fortaleza (MDB), durante uma discussão sobre participação feminina na política. Ao se defender, a parlamentar chorou em plenário. O caso aconteceu anteontem, e a vereadora registrou queixa do ocorrido em uma delegacia da cidade.

O debate começou com Fortaleza citando uma publicação feita por Rosa nas redes sociais, em que ela defende mais mulheres e minorias na política. Uma seguidora dela comentou a publicação, dizendo que a Câmara de Aparecida é composta por "um bando de machistas".

O presidente da Câmara, então, negou qualquer preconceito. "Não sou contra a classe feminina, sou contra cota, oportunismo, ilusionismo. Pode ser mulher, homem ou homossexual", disse. "Quero deixar bem claro para senhora e a sua amiga, eu não sou machista, eu sou contra fake news".

Rosa respondeu, afirmando não ter dito que o vereador era contra cotas de gênero. "Eu não disse que o senhor era contra cota. Se o senhor entendeu isso, a carapuça pode ter servido. O senhor sempre fala de caráter, de transparência, parece que o senhor tem algum problema com isso".

Fortaleza, então, a interrompe, e ela pede respeito enquanto está falando. É quando ele pede que o microfone dela seja cortado. "Eu sou presidente, é a senhora que vai me respeitar. Corta o microfone dessa vereadora para mim, agora. Quer fazer circo, aqui você não vai fazer, não", diz.

Boletim de ocorrência

O presidente da Casa continuou, dizendo para a vereadora procurar uma delegacia e registrar um boletim de ocorrência se achasse necessário.

"Vá à delegacia e registra um B.O. Fique à vontade, se a senhora achar que eu estou cometendo um delito", declarou.

Ao retomar a palavra, Rosa estava chorando. "É isso que fazem com as mulheres na política, é por isso que temos que procurar os nossos direitos", disse. "Agora o senhor querer me desmoralizar, por um motivo que a gente sabe qual é [...] Não venha o senhor querer me desmoralizar aqui. Não vou aceitar isso".

Ela saiu da Casa, então, para registrar a denúncia de violência política contra a mulher, que se tornou crime no ano passado. "Será punida qualquer ação que impeça ou restrinja os direitos das mulheres nos partidos e movimentos sociais, durante a campanha eleitoral ou ao longo do mandato", explicou o site do Senado quando a lei foi aprovada.

O perfil de Rosa nas redes sociais anunciou que ela cancelou o restante da agenda no dia por não estar em condições emocionais para cumpri-la.

Em nota, o vereador André Fortaleza disse que não procurou atingir pessoalmente a vereadora Camila Rosa, e disse que "sempre defendeu a classe das mulheres, apoiando todos os projetos voltados ao tema".

Em comunicado posterior, ele se desculpou e afirmou que não esperava "tamanha repercussão por ter cortado o microfone de uma parlamentar durante um debate acalorado". "Digo isso pois tal procedimento é de praxe durante as sessões, por mera questão de ordem", disse. "Porém, em respeito a todas as mulheres desse município, me sinto na obrigação de me desculpar e venho por meio deste também esclarecer meu total apoio para a classe feminina".

A assessoria da Câmara de Aparecida de Goiânia afirmou que o regimento interno prevê que o presidente da Casa mantenha a ordem durante as sessões, e que não há posicionamento oficial da Casa sobre o ocorrido até o momento.