Eleições: projetos para mulheres precisam ser foco dos presidenciáveis

Na sexta-feira (28), um grupo de cerca de 30 mulheres, entre elas eu, se reuniu para pensar o futuro do país. Organizado pela ex-senadora Marta Suplicy, o encontro do Brasil Mulheres teve como resultado uma carta em que presidenciáveis e candidaturas ao Congresso Nacional a incluírem em seus programas de governos propostas de políticas públicas que o valorizem e que emancipem as mulheres.

Acreditamos que não há prosperidade possível nem democracia sólida sem que haja um olhar atento para a população feminina, principalmente porque são as mulheres que manejam as vidas de outras pessoas, como crianças e idosos, por exemplo. Por causa da importância que o cuidado tem na vida e da contradição que é a sua desvalorização, a carta destaca bastante esse tema.

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Importante frisar que qualquer pessoa, de qualquer gênero pode estar apta a cuidar de outra, mas, como sabemos, essa foi uma tarefa imposta às mulheres pela divisão sexual do trabalho. A misoginia, porém, tratou de dar o seu toque na desvalorização das atividades de cuidado e manutenção da vida. E cuidar passou a ser exaustivo, desgastante e aprisionador.

Só que a verdade é que nenhuma pessoa adulta está viva sem ter sido cuidada por alguém — sendo esse alguém possivelmente uma mulher. Está, portanto, mais do que na hora (na verdade, está bem atrasado) de a tarefa ser valorizada, com dinheiro, segurança e respeito.

Propomos, por exemplo, a criação de espaços de cuidado para crianças no local de estudo da mãe; o reconhecimento do trabalho doméstico e de cuidados por meio de políticas públicas e arcabouço normativo que valorize essas atividades, remuneradas ou não, das mulheres que cuidam; o fortalecimento da economia dos cuidados para melhoria das condições de vida e bem-estar das mulheres; e uma educação masculina para os cuidados.

Outros aspectos que destaco de nossa carta são o compromisso de qualquer candidatura em não aceitar retrocesso nas leis que garantam os direitos das mulheres; a proposta de regulamentar em leis a paridade de gênero e raça nas instituições públicas, políticas e privadas; o acesso a crédito para mulheres empreendedoras; a adoção de uma abordagem pacífica para a reforma da política de drogas; a reforma no modelo de segurança pública; a manutenção e expansão dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres; a formulação de um marco civil de gênero; e o desenvolvimento de um programa nacional de prevenção à violência sexual e de acolhimento às vítimas e às famílias de vítimas.

Foram quase 12 horas de trabalho ininterrupto para chegarmos à forma final desse documento, que foi construído com vontade, esperança e compromisso com a reconstrução do Brasil. E com muito, muito amor pelo nosso povo.

Mulheres brilhantes, sensíveis, corajosas e com bom humor e alegria se debruçaram gratuitamente para oferecer a toda nação e a todas as candidaturas algumas ideias de caminhos. Esperamos poder contar com a boa-fé e o respeito de todas as pessoas que pretendem ocupar um cargo eletivo nos próximos anos na utilização desse documento para a formulação de suas propostas e planos de governo.

A carta completa pode ser acessada na íntegra e assinada por qualquer pessoa no site brasilmulheres.com.br. Ousamos sonhar um novo país e não espero a hora de botar a mão na massa e colocar nossa esperança em prática. Vem com a gente?