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Após anos sem trabalhar e divórcio, ela se reergueu no mercado das noivas

A empreendedora Cecília Soutto Mayor - Arquivo pessoal
A empreendedora Cecília Soutto Mayor Imagem: Arquivo pessoal

Renata Turbiani

Colaboração para Universa

26/01/2021 04h00

Formada em jornalismo e moda, a paulistana Cecília Soutto Mayor, 51, tinha um emprego bacana em uma grande editora nacional de revistas, mas, quando se casou, há mais de 20 anos, a rotina intensa de trabalho e as várias viagens profissionais que precisava fazer começaram a afetar a organização da vida familiar. Sem conseguir equilibrar o pessoal e o profissional e com projeto de ter filhos e se dedicar a eles, deixou o emprego.

Quando completou 46 anos, o relacionamento de quase duas décadas chegou ao fim e, a partir dali, a então dona de casa precisou de reinventar. "Após a averbação do divórcio, comecei a pensar: E agora, como vai ser? O que eu faço para ter uma renda própria? Retomar a carreira como jornalista não era o caminho ideal pelo longo período em que fiquei fora do mercado."

A solução, ela recorda, surgiu sem querer alguns meses depois, quando viajou com um grupo de amigas para a Espanha, para passar a virada do ano de 2015 para 2016. Passeando pelo país, notou que os homens de lá têm o costume de usar lapela (pequeno buquê que costumeiramente enfeita o traje dos noivos e padrinhos na cerimônia do casamento) não só em ocasiões especiais.

"Fiquei com aquilo na cabeça e comecei a pesquisar. Também conversei com um amigo cenógrafo que lida com eventos, e ele disse que seria um nicho interessante para explorar, pois, ao contrário da mulher, que tem tudo voltado para ela nas suas bodas, o homem não tem nada", conta.

De volta ao Brasil, Cecília descobriu que havia um curso de lapelas justamente na Espanha. Certa de que era esse o caminho que queria seguir, se inscreveu e, no início de 2016, ainda antes do início das aulas, abriu o negócio, batizado de Boutonniere Lapelas.

Com investimento de cerca de R$ 30 mil na época, ela desenvolveu a identidade visual, deu entrada no processo de abertura formal da empresa e alugou uma sala comercial no Itaim Bibi, bairro nobre de São Paulo. Depois, rumou para Barcelona para aprender a confeccionar o enfeite, mas saiu de lá um tanto insatisfeita.

"O que aprendi, não me agradou 100%. Achei o acabamento das peças meio grosseiro e, os materiais usados, de baixa qualidade. Quando voltei para casa, fui atrás dos melhores fornecedores e decidi que, ao invés de trabalhar com flores naturais, iria usar as permanentes, devido à durabilidade e resistência. Outra ideia que tive foi a de substituir o alfinete do enfeite por um ímã, para não danificar as roupas dos usuários."

Enfeite para noivas feito por Cecília Soutto Mayor - Divulgação - Divulgação
Enfeite para noivas feito por Cecília Soutto Mayor
Imagem: Divulgação
Lapela com detalhe - Divulgação - Divulgação
Pequeno arranjo de flores na lapela
Imagem: Divulgação

Novidade se tornou nicho de mercado

Apesar das lapelas ainda não serem tão conhecidas e utilizadas no Brasil, a empresa de Cecília chamou a atenção rapidamente, muito pelo fator novidade. Os primeiros a procurá-la foram decoradores e assessores de casamento, e, na sequência, os próprios noivos. Nos primeiros 12 meses de funcionamento, seu faturamento foi de R$ 42 mil, superando o investimento inicial, mas não cobrindo ainda os gastos mensais da empresa.

Nos anos seguintes, as vendas só cresceram, e a Boutonniere Lapelas precisou se mudar para um imóvel maior - dessa vez, próprio e com showroom. O melhor ano para Cecília, até agora, foi 2019. Ela comercializou cerca de 5.300 itens, com preços que variam de R$ 30 a R$ 1.000, para 350 casamentos. A receita daquele ano saltou para R$ 2,1 milhões.

"Quando comecei, não imaginava a proporção que o negócio tomaria e confesso que nem acreditava muito em mim mesma, mas trabalhei duro, criei praticamente tudo do zero e as pessoas perceberam a minha dedicação e a qualidade do que faço, até porque não se trata apenas da venda de lapelas, também ofereço uma consultoria especial, para ajudar na escolha do acessório perfeito e ensinar a forma correta de usar e colocar", relata.

Clientes passaram a inspirar novos produtos

No início de 2020, Cecília ampliou a gama de peças produzidas, atendendo a um pedido das próprias clientes, que queriam um enfeite - tanto para elas quanto para as mães, madrinhas e daminhas - que combinasse com o que o noivo iria usar no casamento.

Assim, ela lançou buquês, arranjos de cabeça e corsages, enfeites para o pulso. "Vislumbrei também a oportunidade de trabalhar com lapelas corporativas, para eventos e feiras, e desenvolvi uma linha de aromatizantes para a casa", conta.

Mais um projeto seu que ganhou forma no ano passado foi o e-commerce. Segundo a empresária, ele só não está no ar ainda por conta da pandemia: "Alguns dos materiais que precisamos estão em falta e isso nos obrigou a adiar, apesar de já estar totalmente pronto. A previsão, agora, é iniciar as vendas online entre março e abril deste ano e a expectativa é que elas respondam por 60% do nosso faturamento".

Ao contrário do que aconteceu com grande parte das empresas em 2020, a Boutonniere Lapelas, mesmo atuando em um mercado que foi fortemente impactado pela crise do novo coronavírus, não sofreu tantas perdas.

"Por incrível que pareça, não paramos em momento algum. Os clientes continuaram a nos procurar, e fizemos os atendimentos virtualmente, e muitos casamentos foram celebrados. Claro que houve cancelamento e reagendamento, mas vários migraram para 'mini weddings', com pouquíssimos convidados, ou foram realizados pela internet", aponta a empresária, acrescentando que fechou 2020 com mais de 7.000 produtos comercializados.

Boca a boca é o segredo do negócio

O que ajudou a manter o negócio a todo vapor durante a fase de isolamento social foram as parcerias reforçadas ou formalizadas no período. Ela conta que estreitou relações com alfaiates, costureiras, estilistas e decoradores. "Conheço muita gente neste mercado e é comum indicarmos clientes uns para os outros", diz.

Realizar editoriais e ensaios fotográficos e a divulgação nas mídias sociais, principalmente no Instagram, e em veículos especializados também foram ações importantes para a empresa ao longo desse ano atípico também para os empreendedores.

Mas Cecília assinala que foi preciso rever a projeção de crescimento que ela tinha para 2020 - de 8% para 1,5%. Para este ano, a expectativa é aumentar o faturamento em 15% e triplicar as vendas. Entre seus planos estão abrir lojas físicas - e ela estuda o modelo de franquias - e ampliar a gama das lojas que já vendem os itens Boutonniere Lapelas. Além disso, estuda uma forma de prestar consultoria para os noivos, com a experiência que adquiriu observando os casais nos últimos anos.

"Meu objetivo não é virar uma assessoria de casamentos e nem tirar o trabalho das profissionais da área, mas, como informalmente acabo ajudando muitas noivas a encontrarem fornecedores, acho que esse pode ser um caminho para ampliar os ganhos", indica.