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Dia V

Dois dias de conversa e 18 mulheres pra falar de autoconhecimento e autocuidado íntimo, sexualidade e descoberta do prazer


Abertura de Dia V traz reflexões sobre saúde feminina e sexualidade

22/10/2020 16h25

Para mulheres, menstruar em algum momento da puberdade é algo tão natural quanto respirar. Ou deveria ser. Porém, este é um tema ainda cercado de muitos estigmas e preconceitos. E também, o primeiro dos muitos tabus em relação à saúde e sexualidade com os quais todas terão de lidar ao longo da vida.

Por isso para abrir o primeiro dia de debates do Dia V, Universa propôs um papo sobre ciclicidades femininas, da menarca à menopausa. Na sequência, um painel dedicado a liberdade e autonomia no sexo reuniu um time de especialistas para refletir sobre por quê mulheres ainda sentem tanta dificuldade e constrangimento para explorar suas zonas íntimas.

TRANSPARÊNCIA E EDUCAÇÃO SEXUAL

A menarca, nome dado à primeira menstruação, costuma acontecer entre os 10 e 15 anos das meninas, período em que elas passam pela puberdade. Rapper e compositora, Mc Soffia, 16, dividiu sua experiência, ao lado de sua mãe e empresária, Kamilah Pimentel. E contou como se sentiu quando, aos 12 anos, menstruou pela primeira vez. "Estava em um dia cheio de gravações, acompanhada apenas do meu pai", contou a artista.

Ao constatar o sangramento, ligou para a mãe chorando. Mas embora tenha ficado sem jeito por estar na casa do pai, Soffia sabia o que estava acontecendo e como proceder graças a relação transparente com a mãe. "Sempre tivemos um diálogo aberto, pois se os pais não dão essa abertura, a internet dá. Então precisamos falar e explicar melhor", pontua Kamilah.

Para aqueles que não se sentem seguros para orientar as filhas, um caminho é buscar uma consulta ginecológica prévia quando os sinais da puberdade se tornam mais evidente. A médica Isabela Correia, que atua no projeto de sexualidade feminina Afrodite, da Unifesp, lembrou ainda que conversas sobre desenvolvimento e sexualidade precisam acontecer com adolescentes de ambos os sexos.

"Educação em sexualidade não é ensinar alguém a fazer sexo, mas a entender como lidar com o amadurecimento sexual e de seus órgãos. A menina vai menstruar, o menino vai ter polução noturna e tudo isso deveria ser visto de forma mais natural."

Além da medicina, um novo olhar sobre a menstruação tem conquistado adeptas, sobretudo aquelas que tentam atenuar incômodos como cólica e TPM. Trata-se da terapia menstrual, que ajuda mulheres a conhecer de forma mais profunda as fases de seus ciclos e as reações do corpo, percebendo inclusive como traumas e questões emocionais afetam este período.

"A observação dessas camadas todas da ciclicidade são importantes também porque elas sempre nos mostram algo novo sobre nós mesmas, como um espelho de nossas existências.", explicou Taciana Fortunati, terapeuta menstrual.

ESCUTA PARA A LIBERDADE

Três em cada dez mulheres nunca experimentaram um orgasmo, avisou Mayumi Sato, colunista de Universa e CMO da plataforma Sexlog, ao abrir o debate sobre sexo e liberdade de escolhas, acompanhada de Ana Canosa, Ana Gehring e Yasmine Sterea.

Educadora e terapeuta sexual, Ana Canosa, que é também uma das apresentadoras do podcast Sexoterapia, comentou que ainda hoje muitas mulheres procuram investigar sua sexualidade mais a fundo, quando os problemas estão relacionados ao casamento ou com o afeto pelo outro como pano de fundo. "Elas ainda depositam a autonomia sexual muito no outro", alertou.

Esse comportamento leva a aceitar e normalizar aspectos como dor e outros desconfortos durante o sexo. Fisioterapeuta pélvica por trás do famoso perfil Vagina Sem Neura, Ana Gehring explicou que muitas pacientes não entendem, por exemplo, o quanto a pressão emocional e tensões na musculatura íntima interferem na relação - que deveria acontecer sem dor sempre.

Yasmine Sterea, que comanda a plataforma FreeFree, de incentivo à liberdade feminina, acredita que este comportamento é decorrente do fato de que a mulher historicamente é avalizada a partir de seu corpo e aparência, condicionada a se encaixar em caixinhas e padrões. "E da mesma forma que tentamos nos adequar aos padrões de aparência, acontece com a sexualidade. Também ali não estamos livres para sermos quem somos", disse.

"Em compensação, quando você se conhece, está bem lubrificada e na companhia de um bom parceiro, não tem como dar errado", afirmou Ana Gehring. Para Ana Canosa, "é preciso escutar o corpo, o que se deseja e então se posicionar. Pois sexualidade é um desenvolvimento que passa pelo que eu: o que seu sinto e desejo e como comunicarei isso para minha parceria.".