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Autores deixam editora de JK Rowling após acusações de transfobia; entenda

JK. Rowling, da saga Harry Potter, foi acusada de transfobia e obrigou Warner e autores de seus filmes a se manifestar - Bruce Glikas/Bruce Glikas/FilmMagic
JK. Rowling, da saga Harry Potter, foi acusada de transfobia e obrigou Warner e autores de seus filmes a se manifestar Imagem: Bruce Glikas/Bruce Glikas/FilmMagic

De Universa, em São Paulo

22/06/2020 15h04

Quatro autores literários representados pela editora de JK Rowling — autora da franquia Harry Potter — decidiram deixar a empresa depois que Rowling fez uma declaração que foi acusada de transfobia.

Fox Fisher, Drew Davies e Ugla Stefanía Kristjönudóttir Jónsdóttir disseram que não podiam mais trabalhar com a Blair Partnership, a editora com sede em Londres, porque não estavam convencidos de que a empresa "apoia nossos direitos", se referindo à população LGBT.

No início de junho, Rowling se referiu com ironia ao termo "pessoas que menstruam", usado para incluir homens trans. Ela questionou o uso da expressão e brincou com o fato de que já existe uma palavra para denominar esse grupo: mulheres. Desde então, vem sofrendo duras críticas da comunidade LGBT.

Segundo o The Guardian, um quarto autor deixou a empresa, mas preferiu permanecer anônimo.

Em declaração conjunta, Fisher, Davies e Jónsdóttir contaram que pediram à editora "que reafirmasse seu compromisso com os direitos das pessoas trans", mas que sentiram que a companhia de JK Rowling "era incapaz de se comprometer com qualquer ação que julgávamos apropriada e significativa".

Por isso, eles deixaram a Blair Partnership, alegando que "a liberdade de expressão só pode ser mantida se as desigualdades estruturais que impedem oportunidades iguais para grupos sub-representados forem desafiadas e alteradas".

Jónsdóttir reforçou que o grupo tentou dialogar com a empresa antes de levar a questão a público.

Em resposta ao veículo britânico, a Blair Partnership afirmou que valoriza a voz de seus representados, que apoia "os direitos de todos os nossos autores de expressar seus pensamentos" e que "é nosso dever, como agência literária, apoiar a todos nessa liberdade fundamental".

A Warner, responsável pelos filmes da franquia Harry Porter, se manifestou na semana passada e reforçou seu compromisso com a diversidade.

Atores de filmes criados por Rowling também saíram em defesa das pessoas trans, como Emma Watson e Eddie Redmayne.

Entenda o caso

JK Rowling dividiu opiniões e sofreu críticas após um tuíte em que compartilhou um artigo opinativo que usava o termo "pessoas que menstruam".

Parte dos usuários do Twitter a lembrou que pessoas transgêneros podem menstruar e não necessariamente se identificam como mulheres; é o caso de homens trans que, quando nasceram, foram designados como mulheres, mas perceberam sua verdadeira identidade de gênero com o tempo. A necessidade de visibilidade desse grupo gerou, por exemplo, a criação de uma cueca absorvente para os homens que menstruam.

Mulheres trans, por sua vez, não menstruam — e não são "menos mulher" por isso. Já pessoas não-binárias também podem se sentir incomodadas ao ter a menstruação ligada a "coisas de mulher". Por essa razão, no Twitter, usuários cobraram outro posicionamento de JK Rowling.

"'Pessoas que menstruam': Tenho certeza que costumava haver uma palavra para essas pessoas. Alguém me ajude. Wumben? Wimpund? Woomud?", escreveu.

O tuíte foi apontado como transfóbico, por determinar as pessoas apenas pelo sexo biológico. Na rede, pessoas de todo o mundo se posicionaram para "não passar pano" para a autora, que marcou a vida dos fãs com os livros de Harry Potter.