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#NotWorthLess: Roteiristas contam casos em que ganharam menos do que homens

Simon Baker e Morena Baccarin em cena de The Mentalist - Divulgação/IMDb
Simon Baker e Morena Baccarin em cena de The Mentalist Imagem: Divulgação/IMDb

De Universa, em São Paulo

19/09/2019 14h11

A hashtag #NotWorthLess se tornou um dos assuntos mais discutidos no Twitter nesta quarta-feira, trazendo relatos de roteiristas, produtoras, diretoras e outras trabalhadoras do mundo do entretenimento que já receberam salários menores do que seus colegas homens que tinham a mesma função.

A tag pode ser traduzida como "não valemos menos", e foi inspirada pelo recente caso da roteirista Adele Lim, que pediu demissão da sequência da comédia Podres de Ricos ao saber que estava recebendo menos do que o seu parceiro na elaboração do script, Peter Chiarelli.

Centenas de histórias foram contadas na rede social, mas duas mulheres aceitaram detalhar suas histórias para a revista Variety: Ashley Gable, que enfrentou a situação em seu trabalho na série The Mentalist; e Patricia Carr, que recusou posição em NCIS: New Orleans por causa de uma discrepância salarial.

The Mentalist

No caso de Gable, a diferença de salários foi percebida pelo agente da roteirista só depois de três anos trabalhando em The Mentalist, série que ficou no ar entre 2008 e 2015 na emissora norte-americana CBS.

Durante renegociação de contratos, ela descobriu que, enquanto ganhava US$ 25 mil por episódio, seus colegas do sexo masculino embolsavam até US$ 40 mil — mesmo os que só tinham entrado na equipe da série depois dela.

Quando Gable pediu um aumento, a Warner Bros. (estúdio que bancava a produção da série) a ofereceu US$ 30 mil por episódio, dizendo que suas demandas eram "exageradas", e que ela "deveria aceitar o emprego e ser grata". O estúdio não respondeu a pedidos de comentário da Variety.

Gable quis deixar claro, na entrevista, que não acha que a culpa da situação seja dos seus colegas na série. "Eles eram ótimos, e mereciam cada centavo que ganhavam. Mas eu também era ótima, e merecia que me pagassem o mesmo", comentou.

"Os nossos empregadores é que tem a culpa. Isso não é sobre roteiristas zoando outros roteiristas, ou prejudicando a carreira uns dos outros. É responsabilidade do estúdio pagar as pessoas de forma justa, e pagar o mesmo a homens e mulheres", disse ainda.

NCIS

Enquanto isso, Carr esbarrou em problemas de negociação salarial quando foi oferecida um lugar na sala de roteiristas de NCIS: New Orleans, em 2018. Também exibida pela emissora CBS, a série em questão não era de um estúdio de fora, e sim da produtora da casa, a CBS Studios.

A roteirista diz que já havia trabalhado com o estúdio em diversas outras séries (entre elas, Reign, Beauty and the Beast e 90210), e que por isso pediu um salário um pouco maior (3%) do que havia recebido antes.

"Eles sabiam quem eu era. Eu sabia o quanto eles poderiam me pagar. Eu sabia que a série estava fazendo sucesso. Eu não pedi por um salário absurdo para a posição que eles me ofereceram, pedi por algo que achei justo", comentou.

Quando a CBS retornou a oferta de Carr com uma proposta em que ela receberia 25% a menos do que tinha pedido, ela recusou o trabalho. Depois, ouviu de colegas na sala de roteiristas da série que um homem foi contratado no seu lugar, e estava recebendo até mais do que ela havia pedido.

O roteirista contratado em questão era Adam Targun, que tinha menos experiência do que Carr. Assim como Gable, no entanto, ela frisa que o vilão é o estúdio: "Se ninguém falar sobre isso, e ninguém se revoltar com isso, é difícil para as pessoas saírem dessas situações".