"Tratada como princesa", na Fazenda: o feminismo é contra o cavalheirismo?

Na semana passada, alguns dos participantes do reality show A Fazenda 10 debateram um assunto polêmico a respeito do comportamento masculino. A jornalista Ana Paula Renault afirmou ser “a favor do cavalheirismo” e justificou usando o exemplo do pai, que sempre abre as portas e a ajuda a carregar as compras, mesmo estando em idade avançada.
No entanto, a mineira completou: “É uma gentileza. Não que a pessoa precisa fazer, mas quando faz você fica até horrorizada”. Em resposta, o ator e cantor João Zoli afirmou que “a mulher nasceu para ser tratada igual princesa” e que gosta de proteger as pessoas do sexo feminino.
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A frase, porém, não é bem-recebida por todas as mulheres. Cláudia Ribeiro, mestre em história, explica que o cavalheirismo é um conceito socialmente construído e que se refere a uma utopia sobre como o homem deveria agir. “No lado oposto está a figura da dama, que precisa ser cortejada”, diz. A ideia de que pessoas do sexo masculino devem sempre pagar pelas contas, por exemplo, está relacionada ao papel social do homem como provedor da família, uma das bases da sociedade patriarcal. De acordo com a profissional, tais construções sociais se encaixam no contexto do século XIX e início do XX e refletem nos dias de hoje – mas que, graças à luta dos movimentos feministas, não são mais necessárias.
Gentileza e poder de escolha
Ao contrário do que pode se pensar, o avanço das conquistas femininas não mata a gentileza, mas a amplia. “Se antes se tratava de uma obrigação masculina bancar os passeios, hoje os gastos podem ser divididos ou pagos inteiramente por qualquer pessoa, de acordo com o consenso entre os envolvidos”, relembra.
O feminismo defende que a ocupação do espaço social deve ser igualitária e surgiu porque durante anos a mulher foi privada de emitir sua opinião e de usufruir de direitos básicos, como votar. “Como estamos vivendo um processo de transformação, algumas heranças do patriarcado podem ser difíceis de serem percebidas. Mas reduzir o movimento ao fim do cavalheirismo demonstra uma falta de compreensão do que ele significa e do seu impacto para a história”, opina.
A princesa dos dias atuais
Sobre a declaração de João, a historiadora garante que, por um longo período, a classificação das princesas apontava para mulheres que esperavam para ser salvas por alguém do sexo oposto, tais como Cinderela e Bela Adormecida. “Elas não eram sujeitas de suas próprias narrativas e por isso ganhavam uma conotação submissa”, diz.
Hoje em dia, com o surgimento de personagens aventureiras, o conceito tem se transformado e a palavra ganhado outro significado, principalmente entre as crianças. Dentro dessa lógica, as novas princesas não precisam mais ser cuidadas pelos homens, porque assumem a liderança sobre suas escolhas e passam a ser protagonistas de suas próprias histórias.
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