Por que algumas pessoas só conseguem transar se estão alcoolizadas?

A atriz paulistana Tatiana Godoi, 42 anos, se considera uma mulher livre, comunicativa e baladeira. Se conhece um homem interessante em uma festa e pinta um clima, ela não vê problemas em ir para a cama com o novo parceiro na mesma noite. No entanto, para que isso pudesse acontecer, a atriz dependia de algumas caipirinhas e cervejas a mais. "Nunca transei pelas primeiras vezes com alguém sem que tivesse bebido. Se estivesse sóbria, ficava tímida, nervosa e rolava um bloqueio", conta.
O "bloqueio" a que Tatiana se refere é mais comum do que se imagina. Muitas pessoas têm dificuldade em lidar com a entrega e a intimidade que o sexo exige e, para poder transar precisam beber. Os motivos são dos mais variados: insegurança, criação conservadora, um trauma do passado, medo de falhar na hora H. E aí, mediante tantas questões, só mesmo aquela aparente "autoconfiança" que o álcool traz para que o tesão fale mais alto.
Tatiana conta que a bebida sempre fez parte das preliminares em sua vida sexual. Foi assim desde os 18 anos, quando perdeu a virgindade. "Minha primeira vez não foi nada romântica. Eu estava nervosa, bebi bastante e, um tempo depois, descobri que o cara tinha namorada", recorda. "Depois dessa decepção, passei a beber mais antes de transar com alguém. Fazia isso para me soltar, porque eu me cobrava demais. Tinha que ser boa de cama para conquistar o cara".
"Para muitas pessoas, esse momento de estar frente a frente com o parceiro é um momento de prova, de estar sendo avaliado pelo outro", explica o terapeuta sexual Amaury Mendes Júnior, professor do Ambulatório de Sexologia da UFRJ. "Não há problemas em beber um pouquinho para aliviar a ansiedade e a insegurança. Mas quando é recorrente e em excesso, é perigoso".
Bebida ajuda a se soltar, mas limita o prazer
O terapeuta explica que o sexo casual acaba aumentando a necessidade do consumo da bebida para transar. "Existem três fases do sexo. Primeiro vem o desejo, que é mais subjetivo e tem a ver com a imaginação; depois a da excitação, que é mais física, falando no envolvimento entre os dois indivíduos; e o orgasmo", argumenta. "As pessoas ficam tão ansiosas com a coisa da performance para serem prestigiadas que elas querem ter a excitação sem ter o desejo. Não há a produção erótica. Daí, ela precisa estar alcoolizada para chegar de cara e ter uma relação sem ter um preparativo. É um fenômeno social. Elas saem à noite para que aconteça alguma coisa."
A bebida, segundo o terapeuta, ajuda a pessoa a se "soltar na cama", mas também limita o prazer. "É como se a pessoa precisasse estar anestesiada. Se você se encontra assim no momento da transa, está limitado na questão sensorial, não usufruindo das sensações que o sexo pode proporcionar".
"Aprendi a ter uma conduta mais sadia em relação ao sexo"
"O gatilho dessa necessidade de consumir álcool para transar é a falta de intimidade que se tem nesses encontros casuais", afirma a profissional. "O álcool aparece na tentativa de tampar esse buraco da intimidade que não deu tempo de construir. Não se trata de ser careta nem moralista. Às vezes, a necessidade de intimidade é não só com o outro, como também com o seu próprio desejo", explica. "A gente transa porque a gente quer transar e não porque apenas o outro quer. E esse tesão é muito mais poderoso do que qualquer bebida."
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