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Ele perdeu 45% do cérebro e usa a web para evitar que a história se repita

Caio Branco (à direita) com o irmão mais velho, Fernando, na casa da família, em São Paulo - Reprodução/Facebook
Caio Branco (à direita) com o irmão mais velho, Fernando, na casa da família, em São Paulo Imagem: Reprodução/Facebook

Adriana Nogueira

Do UOL

29/03/2017 15h42

“Deixa eu contar um pouco da história. Estava alcoolizado e decidi pegar a minha moto para ir em uma festa. Bati (obviamente) em um táxi e voei. O capacete saiu na hora. Bati a cabeça na guia. Resultado: traumatismo cranioencefálico”, assim começa o primeiro post do paulistano Caio Branco, 22 anos, na página “Caio na Real”, que ele próprio criou no Facebook para alertar para o perigo de dirigir alcoolizado e mostrar sua recuperação.

A narrativa se torna ainda mais surpreendente quando se sabe em que condições ele chegou ao hospital. “Os médicos me disseram que ele tinha apenas 6% de chance de sobreviver.

Perdeu 45% do cérebro. Mesmo após ter resistido à primeira cirurgia, só ouvia que ele vegetaria, não andaria, não falaria, não enxergaria”, conta a decoradora de casamento Marcia Branco, mãe de Caio.

A decoradora de casamentos Marcia Branco com os filhos, Caio (na cama) e Fernando  - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Marcia Branco com os filhos, Caio (na cama) e Fernando
Imagem: Reprodução/Facebook
Passados oito meses do acidente –que aconteceu em julho de 2016--, o rapaz, que é formado em administração de empresas, começa a treinar as primeiras palavras e passos, mas tem a memória intacta, alimenta-se sozinho, comunica-se por meio da escrita (é ele quem escreve todos os posts da sua página), continua bom em matemática, pesquisa na internet tratamentos para pessoas que passaram por traumas como o dele e está participando de um processo seletivo para trabalhar em uma empresa do mercado financeiro.

As conquistas são imensas, ainda mais quando se recupera a trajetória dele até aqui. Após sofrer o acidente, Caio ficou dois meses em coma. “Minha vida girava em torno de a PIC [pressão intracraniana] subiu, a PIC desceu. Caio teve parada cardíaca, convulsões, pegou uma infecção por bactéria, teve pneumonia. Todo dia no hospital era ‘quase morreu’”, fala Marcia.

Coragem em família

A mãe fala que foi a coragem da família em lutar por Caio que tem proporcionado a ele se reabilitar. “Minha filha [Alessandra, 24] interrompeu um intercâmbio no Canadá e voltou para o Brasil. Enquanto eu trabalhava, ela ficava com o irmão à tarde, no hospital. Meu filho mais velho [Fernando, 28] cuidou de todos nós. Foi positivo o tempo todo.”

Marcia diz que nunca foi religiosa, mas, no momento em que o filho passava pela cirurgia que seria decisiva para definir se ele morreria ou viveria, foi levada por uma amiga a uma igreja. No lugar, uma senhora de 85 anos e um senhor de 87 estavam casando. “Pensei: ‘Isso é vida’ e pedi a Nossa Senhora que me entregasse meu filho vivo.”

A decoradora fala que as intercorrências foram passando, mas Caio não acordava. Um dia, ela teve um estalo e se lembrou de que ele já havia superado um coma. “Quando ele tinha três meses, do nada, ele entrou em coma. Ficou dez dias internados e saiu do hospital, sem sequelas, mas também sem diagnóstico.”

Caio, no hospital, após se submeter a uma cirurgia de colocação de calota craniana - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Caio, no hospital, após se submeter a uma cirurgia de colocação de calota craniana
Imagem: Reprodução/Facebook
Marcia conta que foi visitar Caio às 4h30 e fez com ele o mesmo que havia feito quando ele era bebê. “Pus uma música de meditação e comecei a falar: ‘volta, meu filho amado, volta’, ‘volta que a gente vai te ajudar a se recuperar’. Fiquei falando horas. Percebi que ele mexeu a mão. Chamei uma enfermeira e ela: ‘Não está se mexendo’. Ela saía, eu voltava a falar com ele e via outro pequeno movimento. A enfermeira voltava e dizia ‘não, ele não está se mexendo, não posso colocar no prontuário que a senhora o viu mexer, alguém da equipe médica precisa ver’.”

Decidida a provar que o filho estava voltando do coma, a decoradora gravou um vídeo no celular. “Quando mostrei a elas, foi uma emoção tão grande.”

Caio foi para casa com um sistema de “home care” (cuidados hospitalares em domicílio) –o qual ainda mantém, mas em uma versão mais simplificada-- porque respirava com ajuda de aparelho.

“Falaram que o Caio ia demorar seis meses para respirar sozinho. Em um mês, ele conseguiu. Não fico pensando em prognósticos daqui para a frente, mas tenho certeza de que ele vai voltar a andar”, fala Márcia.

Por meio do aplicativo Whatsapp, Caio conta ao UOL que teve seus momentos de se perguntar a razão de tudo o que aconteceu com ele. "Agora sigo muito positivo e parei de me perguntar isso. Aceitei que foi uma coisa que vai me deixar um cara melhor e mais feliz no futuro."