Disfarce de Ivete no Carnaval mostra o lado duro da vida de celebridade
Para conseguir curtir a folia de Salvador sem ser reconhecida, a cantora Ivete Sangalo se vestiu de palhaça, junto com o marido Daniel Cady e um grupo de amigos. O disfarce só foi revelado em sua conta no Instagram. A notícia levanta o questionamento: por que os famosos enfrentam tanta dificuldade para realizar tarefas cotidianas, como pular Carnaval?
Na opinião de Denise Goulart Penteado, psicóloga especialista em terapia cognitivo-comportamental, isso acontece, pois a figura pública passa a ser formadora de opinião, o que restringe sua individualidade. "O ambiente externo tem uma pressão muito mais forte no comportamento do famoso, pois, além de enfrentar o assédio, ele precisa conviver com as expectativas comerciais dos produtores [e patrocinadores] e de seus admiradores também", explica.
Essa pressão, segundo Denise, muitas vezes, traz tristeza, depressão, ansiedade e solidão para a vida da pessoa. "Gera um sofrimento emocional e prejuízo psicológico tão intensos que nenhum sucesso financeiro supera a dor do vazio emocional", afirma.
Expectativa X Realidade
Denise cita em um estudo publicado no início dos anos 2000, no periódico "Journal of Nervous and Mental Disease", em que os cientistas descobriram três dimensões da relação entre fãs e ídolos. "Tem a de entretenimento, em que os indivíduos se divertem e acompanham o trabalho dos artistas; a intensa e pessoal, na qual há sentimentos compulsivos relacionados ao famoso; e a quase patológica, em que demonstram comportamentos e fantasias incontroláveis relacionados a celebridade. Ou seja, os artistas precisam lidar com vários tipos de fãs com diferentes expectativas, é algo muito complexo", fala.
Sendo assim, Denise acredita que fica mais fácil compreender o que leva os famosos a usarem disfarces em situações onde eles querem aproveitar o evento junto com o povo, como fez Ivete. “Dançar no Carnaval é uma coisa comum e possível para qualquer um de nós, mas os famosos não são tratados como um de nós. Eles precisam corresponder às personalidades projetadas e idealizadas dos que os cercam”, fala.
Celebridade não tratada como ser humano
A psicóloga Ana Paula Magosso Cavaggioni, pesquisadora do Departamento de Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo), também acredita que as pessoas não tratam as celebridades como seres humanos. “Na verdade, eles são seres humanos como quaisquer outros, tem necessidade de privacidade, como todos nós. Eles têm relacionamentos, família e desejo de realizar as mesmas coisas que qualquer um. O dinheiro que eles ganham não compra isso, só dá a possibilidade de acesso”, fala.
Para a profissional, no fim, essa exposição toda que eles vivem serve como prisão. “Por eles não serem vistos como pessoas, mas sim como famosos, faz com que as pessoas idealizem a vida deles e ainda se sintam íntimos. Não imaginam que são pessoas que também passam por tristezas e conflitos”, fala.
Idealização dos bastidores
Ana Paula explica que ao ver o famoso como um ídolo, as pessoas têm curiosidade mais aguçada para saber como eles são na intimidade, seus hábitos e etc. “Mas a realidade é que ninguém realmente conhece os bastidores da vida do outro. Você só vê aquilo que te permitem. É como no Facebook. As pessoas só postam aquilo de que se orgulham, que querem mostrar... A pessoa pode parecer feliz, mas, na verdade, está passando por uma situação difícil”, fala.
E a pesquisadora acredita que o mesmo acontece com os famosos. “O que sai na imprensa e o que eles mostram nas redes sociais é a vida de glamour. O que passa por trás disso não é exibido. Então existe a falsa impressão de que ser famoso é lindo e maravilhoso, quando nem sempre é assim. É uma idealização que é vendida”, diz.
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