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Mesmo criticadas, elas desistiram da maternidade e não se arrependem

Juliana Simon

Do UOL

23/01/2017 14h59

Por mais que as mulheres já tenham conquistado espaços importantes na sociedade e façam valer sua voz em muitos círculos, a questão da maternidade ainda é vista como "cláusula pétrea": é preciso ser mãe. Porém, mais pessoas têm tido a coragem de enfrentar as críticas e dar um basta na imposição por ter filhos. 

Não é sem motivos e reflexões que as quatro mulheres ouvidas pelo UOL escolheram uma vida sem crianças. Conheça as histórias de quem já teve vontade ou tentou ser mãe, mas acabou desistindo da maternidade e não se arrepende.

Fernanda Cassettari, empresária, 39 anos

Fernanda Cassettari - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Fernanda Cassettari
Imagem: Arquivo pessoal
“Casei em 2007, com 29 anos. No começo de 2010, parei com a pílula porque eu e meu marido queríamos ter um bebê. Na verdade, meu sonho era ter gêmeos –já tinha até os nomes– e era louca para ser mãe. Mas, por algum motivo, não engravidava e estava tudo certo com os nossos exames. Até que em setembro de 2010, meu marido faleceu. Na época, nós dois tínhamos 32 anos. Foi surreal. Por meses fiquei muito triste por não ter engravidado, pois um filho seria um elo eterno entre nós. Mas, com o tempo, tudo muda, e depois de dois anos digeri o luto e dei um novo significado à minha vida. No final, acho que perdi o 'timing' e a vontade, por vários fatores. O fato de morar sozinha, ter uma liberdade incrível, por exemplo. Na minha vida, hoje, não cabe uma criança, pois não me considero apta para esse papel que tanto admiro, de tanta doação. Além disso, tudo está tão perigoso... Eu seria uma mãe neurótica! A cada dia tenho mais certeza que educar é uma arte. Não sou frustrada por não ter tido filhos e não sofro críticas da minha família e amigos. Acho que todos entendem meu posicionamento. Alguns conhecidos acham que eu não quero mais ter filho devido ao que passei, que ainda posso estar presa ao luto, mas não é isso. Ser mãe apenas não está nos meus planos."

Silvia Vezicato, analista de sistemas, 36 anos

Silvia Vezicato - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Silvia Vezicato
Imagem: Arquivo pessoal
Logo que me casei, em 2009, tentei ter filhos. Por ter um caso de problemas de má formação congênita na minha família - minha sobrinha -, chegamos a procurar um profissional especializado, que nos orientou a continuar o plano ter filhos com acompanhamento bem de perto. Fiquei viúva nove meses após me casar, em decorrência de um acidente que ele sofreu. Entrei em um processo de depressão grave, fiquei anos usando medicação controlada, fazendo tratamento, resolvendo questões judiciais etc. Todos os planos que tínhamos feito foram ceifados, inclusive a maternidade. Após sete anos e meio da morte dele, passei uns quatro anos até me recuperar e ter condições de me relacionar novamente. Avaliando os novos rumos que minha vida tomou, atualmente, não vejo que ser mãe seja uma forma de realização e passei a ver a maternidade com um olhar menos romantizado. Hoje, não penso em filho como processo de crescimento, realização de sonho. Penso na responsabilidade que teria sobre uma vida, para toda a vida. Analisei condições econômicas e psicológicas, projetos profissionais, considero a dificuldade de levar tudo ao mesmo tempo e decidi que o tempo da maternidade passou. Foi embora junto com os planos que eram a dois, naquele momento da minha vida que tinha outro contexto. Já sofri, sim, críticas e pressões, mas, talvez pela forma como tudo aconteceu, minha família entendeu mais facilmente minha opção. A pressão atualmente acontece por parte de pessoas que me conheceram depois de eu ter ficado viúva, que não acompanharam todo o processo que me fez desistir. Amo crianças, mas meus projetos não comportam filhos. Não me culpo nem me sinto menos mulher."

Renata Nascimento, estilista, 36 anos

Renata Nascimento - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Renata Nascimento
Imagem: Arquivo pessoal
"Moro com meu namorado há 3 anos. Antes disso, quis muito e até toparia uma produção independente. Mas depois que meu sobrinho nasceu, vi o quanto é barra ter um filho. A partir daí, fui mudando meu conceito e, hoje, penso que produção independente seria loucura. Amo crianças, amo cuidar e ficar com meu sobrinho, viajar, curtir as férias, mas tem prazo, entende? Eu e meu namorado conversamos bastante sobre o assunto. Ele gosta muito de crianças também, mas não tem vontade de ter filhos. A maioria das pessoas acha que vou me arrepender, que ser mãe faz parte do amadurecimento, mas sempre falo que não vou ter filhos para satisfazer as pessoas nem para cuidar de mim quando ficar velhinha. Hoje, estou muito bem com isso. Pode parecer um pouco egoísta, mas não quero abrir mão da minha independência, do meu espaço.”

Andrea Schalken, recepcionista, 34 anos

Andrea Schalken e o marido Fred Schalken - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Andrea Schalken e o marido Fred Schalken
Imagem: Arquivo pessoal
"Eu e meu marido somos casados há 11 anos, mas estamos juntos há 17, se contar o tempo de namoro e noivado. Quisemos ter filhos no início, mas, depois, nossos irmãos foram tendo filhos e vimos as dificuldades, não somente com os gastos, mas por causa do tempo. Então, deixamos para depois de cinco anos de casamento. Mas, com o passar dos anos, colocamos outras prioridades, como faculdade e emprego. Simplesmente decidimos que seria melhor sermos apenas nós dois. Estamos bem satisfeitos com o que escolhemos: não temos nada contra crianças, apenas decidimos por nós. Sofremos, sim, críticas. As pessoas te impõem a maternidade, pois a sociedade cobra isso. Infelizmente, elas têm como modelo de família algo diferente do que ele e eu pensamos."