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Computador é escudo para quem gosta de brigar na internet

Provavelmente, os brigões da internet não seriam tão agressivos cara a cara - André Rocca/UOL
Provavelmente, os brigões da internet não seriam tão agressivos cara a cara Imagem: André Rocca/UOL

Heloísa Noronha

Do UOL, em São Paulo

05/06/2014 08h03

Vitória ou derrota de um time, desavenças políticas, religião, notícias cotidianas, música, novelas, reality shows, opiniões pessoais, diretas ou indiretas. Qualquer post pode virar motivo para uma discussão ferrenha nas redes sociais.

Para Wildney Feres Contrera, professora da Pós-Graduação em Comunicação, Redes Sociais e Opinião Pública do Centro Universitário Belas Artes, de São Paulo, o que ocorre é a vazão de sentimentos reprimidos que podem ser extravasados graças à impessoalidade que a internet proporciona.

"Certamente, essas pessoas já são agressivas no seu cotidiano, mas na internet se sentem protegidas de julgamentos morais ou éticos que podem prejudicar sua imagem na vida real", explica.

A docente diz que uma coisa é polemizar no mundo virtual, outra bem diferente é fazer isso no mundo real, no qual as discordâncias têm pesos diferentes. "É como ter um post com muitas curtidas, que causa o sentimento de aceitação por um grupo e alimenta a autoestima, algo que raramente acontece no cotidiano", completa.

A comunicação virtual possibilita extravasar a raiva, a revolta e até preconceitos de uma forma virulenta porque o indivíduo acha que está protegido –o computador seria uma espécie de “escudo”. Nas redes de relacionamento as pessoas –em especial, as mais jovens– mostram um lado de sua personalidade que não têm coragem de expor cara a cara.

"As redes sociais funcionam como uma forma de experimentação de sensações, principalmente para quem foi ou se sente muito reprimido e que gostaria de ter outro perfil", declara a psicopedagoga Quezia Bombonatto, presidente da ABPp (Associação Brasileira de Psicopedagogia).$escape.getHash()uolbr_quizEmbed('http://mulher.uol.com.br/comportamento/quiz/2012/08/20/voce-e-viciado-em-internet.htm')

A internet mostra quem você realmente é?


Andrea Jotta, do NPPI/PUC-SP (Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), acha que as redes sociais ajudam, sim, a refletir o ser humano por trás delas. “Embora no início as pessoas tendam a fazer o ‘bonitinho’, com o uso mais frequente, elas vão se soltando e, consequentemente, se sentindo mais confiantes e seguras para se colocar”, diz.

A tendência é de termos cada vez mais usuários nas redes e uma quantidade maior de conteúdos sendo disseminados e debatidos. “É realmente um cenário que pode se tornar mais acirrado, principalmente no momento atual em que as mobilizações por temas que nem sempre são consenso se dão primordialmente a partir dos relacionamentos pelas redes sociais. É preciso fazer o uso inteligente dos meios digitais, afinal de contas, é uma janela para o mundo, e uma janela aberta”, afirma Rodrigo Alvarez, diretor do IDIS (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social).

Na opinião da professora Wildney, do Centro Universitário Belas Artes, o comportamento polêmico/agressivo tem as duas faces de uma mesma moeda. “Pode ser positivo, pois promove o exercício do livre pensar, do uso cidadão de um meio democrático, do exercício do compartilhamento e do uso das novas linguagens midiáticas. É ruim quando usado para externar preconceitos, raivas e maledicências sem consultar fontes confiáveis espalhando mensagens virais".