Descobrir o corpo e se masturbar são coisas diferentes, mas saudáveis

Qual pai ou mãe já não se pegou sem saber o que fazer ao ver o filho, recém-saído das fraldas, manipular insistentemente os órgãos genitais? Segundo especialistas, o comportamento só evidencia que a criança está se desenvolvendo normalmente e isso não deve despertar incômodo nos adultos.
“É comum que as crianças entre três e seis anos coloquem a mão em seus genitais, como forma de reconhecer o próprio corpo. Só que esse toque não tem qualquer carga erótica”, afirma o médico João Luís Borzino, terapeuta sexual pela Sbrash (Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana).
Para as crianças, a experiência rende uma sensação parecida com a que sentimos ao coçar, com as pontas dos dedos, uma picada de inseto. A comparação é da ginecologista e sexóloga Carolina Ambrogini, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). E, nesse estágio, a manipulação dos genitais não deve ser considerada masturbação.
“A masturbação, em si, começa a acontecer mais tarde, em geral, paralelamente ao desenvolvimento dos caracteres sexuais, por volta dos 11 anos, ou um pouco antes. Nessa fase, o toque tem conotação erótica, e o jovem se estimula com o propósito consciente de provocar o prazer”, diz o ginecologista e sexólogo Amaury Mendes Junior, professor e médico do Ambulatório de Sexualidade da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Independentemente da idade do filho, a orientação aos pais é tratar o assunto com naturalidade. No caso dos menores, observe se não há outro motivo para a criança estar colocando as mãos nos genitais com frequência. "É muito comum que elas o façam em decorrência de uma assadura, alergia ou um incômodo na região, quando a roupa está apertada, por exemplo", fala Carolina.
Mesmo quando não há outra motivação para o toque, a não ser a curiosidade relacionada ao corpo, é preciso cuidado para não reprimir a criança, retirando a mão dela do local, dizendo que o que ela está fazendo é “feio” ou “ruim” ou, ainda pior, ameaçando aplicar um castigo, caso ela não pare.
“O que os pais têm de fazer é explicar, na linguagem adequada à idade da criança, que ela não deve se tocar na presença dos outros. A distinção é entre público e privado, e não entre certo e errado”, fala Marcela Lima, psicóloga pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
Usar exemplos claros de outras atividades que a criança costuma fazer de maneira reservada pode facilitar o entendimento desse conceito, como ir ao banheiro. Deixe claro que o mesmo deve acontecer com a estimulação dos genitais.
“Reprimir a criança pode gerar traumas ou fixações, quando o indivíduo sente tanta dificuldade de superar o acontecimento que fica repetindo aquela atitude sem parar, mesmo depois de sair da infância e da adolescência”, diz o terapeuta sexual Borzino.$escape.getHash()uolbr_quizEmbed($escape.getQ()http://mulher.uol.com.br/gravidez-e-filhos/quiz/2014/01/24/voce-e-capaz-de-perceber-se-seu-filho-esta-sofrendo-bullying-na-escola.htm$escape.getQ())
Segundo o especialista, muitas pessoas que, na idade adulta, apresentam problemas sexuais, passaram por algum tipo de repressão, justamente na infância, que é uma fase de descobertas.
Mensagem clara
Ao conversar com o filho sobre o tema, o adulto não deve se alongar, já que a criança tem pouca condição de apreender as questões complexas relacionadas à sexualidade. Muita informação poderá confundi-la. Diga apenas o necessário e vá respondendo às demais perguntas que ela fizer sobre o assunto, à medida que forem surgindo, sem se antecipar.
Se, mesmo depois de algumas conversas, a criança, ainda fora da fase da puberdade, continuar se tocando de modo muito frequente, sem corresponder ao que foi combinado com os pais, é interessante observá-la com mais atenção.
“Uma criança preocupada, triste, ansiosa, cujos pais têm uma postura excessivamente crítica ou punitiva, pode usar a sensação de prazer proporcionada pelo toque como uma maneira de aliviar tanto mal-estar”, fala Marcela.
É interessante reavaliar o tratamento que está sendo dado à criança e a rotina dela. Incluir outras atividades lúdicas na agenda, que proporcionem satisfação, pode ajudar, naturalmente, a desviar um pouco a atenção da estimulação genital.$escape.getHash()uolbr_quizEmbed($escape.getQ()http://mulher.uol.com.br/gravidez-e-filhos/quiz/2012/09/04/como-voce-lida-com-o-namoro-dos-jovens.htm$escape.getQ())
Na adolescência, tudo muda
Falar sobre masturbação com adolescentes é outra história. “A masturbação passa a ser totalmente sexual quando a menina já menstrua e o menino entrou na puberdade. Nessa fase, a estimulação também é normal e ajuda os jovens a desenvolverem sua sexualidade de forma saudável”, diz o ginecologista e sexólogo Amaury Mendes Junior.
É comum que meninos e meninas cheguem a se masturbar diariamente na adolescência, por causa da revolução hormonal pela qual estão passando e pelo aumento do interesse por outros jovens.
“Os pais, em geral, não precisam se preocupar com isso. A masturbação não provoca nenhum problema físico nem tem qualquer relação com um futuro comportamento promíscuo ou perverso”, declara Carolina de Mello Nascimento, psicóloga pela UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos).
A masturbação só passa a ser um problema quando os adultos da casa percebem que o adolescente se isola para poder se tocar e que está mudando seu modo de agir, mostrando-se excessivamente triste, inseguro ou ansioso.
“A masturbação em público, mesmo após a orientação dos pais, também pode indicar problemas, como a dificuldade em aceitar limites ou a necessidade de chamar a atenção”, afirma a psicóloga Carolina. Nesses casos, conflitos emocionais provavelmente estão associados, e a orientação de profissionais especializados pode ser bem-vinda.
De qualquer forma, ao notar que o adolescente começou a se interessar pelo assunto, vale conversar sobre. Pais que se sentem envergonhados de abordar o tema podem usar livros e outros materiais ilustrativos para orientar os filhos. Também é importante deixar claro que os adultos estão abertos a responder dúvidas.
“É um excelente momento para conversar com o adolescente sobre diversos assuntos importantes relacionados à sexualidade, tais como prevenção de gravidez e doenças sexualmente transmissíveis, a importância de assumir as consequências dos próprios atos e a necessidade de respeitar a si mesmo e as pessoas com quem irá se relacionar”, diz Marcela.
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