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Fashion Rio Inverno 2010: tricôs e brilhos foram os campeões da passarela da moda

14/01/2010 20h00

A temporada do Fashion Rio Inverno 2010 que se encerrou na quarta-feira (13), teve um balanço bastante positivo. Enxuta, manteve um bom nível de propostas de moda, com coleções densas e ousadas que enfrentaram corajosamente o pensamento acomodado que identifica o comercial com o banal.

Divulgação

FOTOS: VEJA SELEÇÃO DE LOOKS DO FASHION RIO

O inverno se apresentou forte com propostas de moda pessoais, mas visões de mundo bem semelhantes. Um futuro soturno e denso, urbano e globalizado, com etnias se infiltrando aqui e ali, e atitude de erotismo e violência latentes.

Tricôs e metalizados
O que se viu na grande maioria dos desfiles foram os tricôs e os metalizados. Os tricôs entraram como vedetes e se materializaram sob diversas formas: fininho e liso, como em Andrea Marques, conceitual e geométrico em Lucas Nascimento, grosso e artesanal, no desfile de R. Groove, moderno e tecnológico, como na apresentação de Coven, e bordados, como nas versões da Cantão e Juliana Jabour.

Os metalizados abalaram geral, aparecendo com frequência nas coleções e utilizados de variadas formas, com brilhos suaves, nas meias finas, passando pelo lurex, até os blocos e listras de paetês e vidrilhos, que deixaram as passarelas cariocas coruscantes. Eu, de minha parte, concordo.

Pedrarias e cristais
A minha porção perua também fica toda animada ao ver os bordados incríveis dessa temporada. Desde o desfile da Miu Miu, em Milão, já fiquei de olho, e no Rio eles voltaram a aparecer, bastante. São pedras e cristais grandes e reluzentes, sem medo do exagero, criados para quem gosta de se produzir. Merecem destaque os apresentados nos desfiles de Têca e Espaço Fashion.

As cores da estação
Capitaneadas pelo preto, as cores vieram sombrias ou saturadas, com alguns momentos apastelados e outros neutros. Os azuis apareceramm vivos, intensos e algumas vezes sujos. O marinho tem sido visto há várias temporadas, mas sem conseguir se sobrepor ao preto. Os laranjas são fortes e os verdes, azulados. O vermelho se fez presente em alguns momentos em looks totais, veja Giulia Borges e Andrea Marques.

Têxteis e texturas
Desde os lançamentos internacionais, sente-se um desejo pelas texturas complexas e experimentações têxteis. Isso se configurou também na temporada do Rio, em que obtiveram destaque os desfiles de Lucas Nascimento e Coven, ambas marcas especializadas em tricô. Mas também surgiram outras tentativas, como foi o caso do Melk Z-da, que tem uma técnica invejável. Canelados, misturas de materiais, aplicações de taxas, franjas e camadas de tecido foram presentes nas coleções.

Styling
Participando da visão punk e pessimista da estação, os cabelos sempre estiveram presos. Coques, efeitos de grisalho ou de algodão doce, com tranças estruturadas e gel, raramente se viram cabelos soltos e naturais. As botas tipo ankle, os sapatos masculinos e sapatos com laços lembrando os dândis foram os calçados mais vistos. O tamanco do Lucas Nascimento não passou despercebido. Cintos amarrados na cintura, meias transparentes, algumas com brilho e bijuterias grandonas completaram as produções desse inverno.

O que ficou
As apropriações de alfaiataria, a sua mistura ao design da roupa esportiva, que trouxe também o neoprene de carona, as pregas e babados, as legging e os curtos se mantêm firmes no panteão fashion.

Isso sim é atitude
As ideias movem o mundo e também devem mover a moda. A moda brasileira precisa de ideias para se desenvolver e ter condições de criar suas próprias orientações estilísticas. Os desfiles são para os profissionais: lojistas, editores, analistas e jornalistas, que ficam encarregados de traduzir a moda de forma possível para quem a consome. Só acreditando na criação de moda poderemos sair da barra da saia da moda internacional.

As escolas sabem, os estilistas sabem, os analistas nacionais e internacionais sabem. Faltam empresários modernos que acreditem e pensem na moda a longo prazo. Investir recurso e tempo dentro das grandes empresas para a pesquisa (de verdade, não para a cópia) e a criação é a única maneira de conseguirmos ter destaque pelo que pensamos, pelo que criamos e não apenas pelo que produzimos.

Colaborou para esta coluna Julia Guglielmetti.