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Vargas Llosa ataca John Galliano, Woody Allen e Paul Auster

06/10/2008 16h34

Madri, 6 out (EFE).- John Galliano, Woody Allen, a revista "Olá" e Paul Auster foram classificados hoje pelo escritor peruano Mario Vargas Llosa como parceiros do que ele chama a "civilização do espetáculo", para ele, o que construíram as democracias no Ocidente para fugir da reflexão e tudo o que não seja divertido.

Vargas Llosa foi o protagonista de uma conferência organizada pela Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) por ocasião de seu 64ª Assembléia.

Seu discurso foi apresentado pelo diretor do jornal espanhol "El País", Javier Moreno, para quem o Jornalismo vive "um momento difícil" e de transição cujos perfis não estão ainda definidos.

Para o autor de "Pantaleão e as Visitadoras", como "conseqüências" da "civilização do espetáculo", a literatura, as artes plásticas, a crítica, o cinema, a política, o sexo e o jornalismo, desapareceram em sua essência mais pura.

Isso ocorre, disse, porque há um total "desdém" por tudo o que lembra que "a vida não só é diversão, também drama, dor, mistério e frustração".

Segundo o escritor, no campo do jornalismo, a difusão da frivolidade "se alimenta do escândalo".

A revista "Olá" e seus "congêneres", precisou, são "os produtos mais genuínos da civilização do espetáculo" porque dão "respeitabilidade" ao que antes era "produto marginal e quase clandestino: escândalo, intriga e inclusive a calúnia".

"A triste verdade é que nenhum meio pode manter um público fiel se ignora a moda imperante", disse, baseando sua conclusão "pessimista" de que o problema não está no jornalismo mas num estilo de vida que tem no entretenimento passageiro "a maior aspiração humana".

A obrigação de pôr a cultura ao alcance de todos teve "em muitos casos" o indesejável efeito do desaparecimento de "a alta cultura", minoritária pela complexidade de seus códigos, em favor de um "amálgama na qual tudo cabe".

Por isso, não lhe soa estranho que a literatura mais representativa seja "leve, ligeira, fácil", aquela que "sem o menor rubor se propõe antes de tudo e sobretudo divertir".

Assegurou que não condena a esses autores porque há entre eles, "verdadeiros talentos" como Julian Barnes, Paul Auster e Milan Kundera, mas lamenta que já não se empreendam aventuras literárias como as de Joyce ou Proust.

Desapareceram os intelectuais e "praticamente" os críticos, mas a cozinha e a moda ocupam boa parte das seções dedicadas à cultura, um mundo controlado pela publicidade que dá carta de "cidadão honorário" a John Galliano e a seus "espantalhos indumentários".

No cinema se privilegia o engenho sobre a inteligência, "e já não produz criadores como Bergman, Visconti ou Buñuel. Coroado como ícone é Woody Allen, que está para um David Lynch ou um Orson Wells como Andy Warhol para Gauguin".

Mas é a política, disse Vargas Llosa, que experimentou maior banalização, porque tiques nervosos da publicidade tomam o lugar das idéias, e, assim, Carla Bruni com seu "fogo de artifício midiático", mostram como "nem sequer a França" pôde resistir à "frivolidade imperante".