Modelos plus size relatam preconceito e resgate da autoestima
Alessandra Linder é modelo plus size há seis anos, mas só recentemente começou a revelar sua profissão. Antes, ela sofria com os olhares enviesados para seus quilos a mais e por isso dizia apenas que era do mundo da moda.
"Quando comecei nessa área, há seis anos, sofria muito preconceito", conta Alessandra, que tem 28 anos. "As pessoas perguntavam se eu era camareira, ajudante."
Para a psicanalista carioca Joana de Vilhena Novaes, esse tipo de situação revela um traço marcante do tratamento que as pessoas acima do peso recebem no país.
"Desde Gilberto Freyre, o Brasil não reconhece o preconceito. Frases como 'ele é gordo, mas é bonito de alma' revelam bem isso", diz Joana, que é coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa e Intervenção Social da PUC-Rio.
"É claro que a saúde é importante e que a obesidade é um quadro de risco, mas o que não se entende por aqui é que a estética é um direito e não um crime. E assim se coloca os gordinhos em um estado de invisibilidade, de exclusão."
Esse era um cenário mais comum para Alessandra Linder e outras de suas colegas plus size, que desfilaram na última edição do evento Fashion Weekend Plus Size, que ocorreu no mês passado em São Paulo.
Mas é justamente a moda que ajudou a mudar a realidade dessas jovens consideradas acima do peso e que vem impulsionando uma reviravolta na auto-estima das gordinhas.
Se antes elas se escondiam em roupas largas, sofriam para comprar um vestido de festa ou jamais desfilavam um biquini novo, hoje a situação é diferente.
"Nos últimos anos, houve um boom na área plus size, principalmente na moda", diz Marcella Uceda Betti, antropóloga e pesquisadora da USP.
É claro que ainda vivemos em uma sociedade lipofóbica, mas vemos cada vez mais ações para reverter esse esteriótipo negativo e transformar a imagem da gordinha, mostrar que ela também pode ser bonita, sexy, feliz."
Exclusão
O crescimento do nicho plus size agora faz com que as pessoas se sintam retratadas em um mercado de consumo em que antes elas não tinham espaço. O Brasil registra hoje um crescimento no número de marcas plus size e de grandes lojas que investem no gênero.
"Para uma gordinha, é um grande alívio não mais ter de ir em lojas de tamanhos maiores e poder fazer compras em lojas de departamento", diz Joana Novaes, autora de dois livros sobre a relação das mulheres com seus corpos.
"É claro que não soluciona o problema, mas diminuiu a exclusão à qual elas eram e ainda são submetidas, algo totalmente cruel", acrescenta.
Além de ajudar a melhorar a auto-estima delas."
Um dos fatores que fizeram com que o mercado da moda passasse a incluir as pessoas acima do peso foi a pressão das próprias gordinhas, que passaram a demonstrar seu interesse por esse mundo. E essa bandeira vem sendo levantada especialmente por blogueiras acima do peso.
Fora do país, o crescimento desses blogs é tamanho que ganhou uma matéria recente no jornal The New York Times.
"O mundo fashion não é conhecido por ser, digamos, acolhedor com qualquer pessoa cujo peso é maior do que o esperado. Então, as blogueiras plus size se uniram para formar uma comunidade própria", diz o texto, que destaca as blogueiras mais acessadas, que combatem a "ditadura da magreza".
No Brasil, há um movimento parecido, embora em menor escala. Um dos mais populares é o blog Mulherão, idealizado pela jornalista e consultora Renata Poskus. Criado em 2009, já tem mais de 10 mil seguidores no Facebook.
O sucesso foi tanto que pouco depois de criar o blog, Renata percebeu a demanda e começou a organizar a Fashion Weekend Plus Size, que está em sua sexta edição.
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