Quando comecei, havia mais modelos de pele escura, polemiza Naomi Campbell
Aos 44 anos, ela ainda é um dos rostos mais conhecidos da moda. A modelo Naomi Campbell reivindica o direito de ser franca, que tanto defendia seu mentor e amigo Nelson Mandela, para combater a discriminação em seu ambiente de trabalho.
A britânica de origem africana e sino-jamaicana, que reina há mais de um quarto de século nas capas das principais revistas de moda e nas passarelas de grifes importantes, voltou a falar de sua carreira durante uma entrevista exclusiva à agência francesa de notícias AFP. Mas não esqueceu da responsabilidade que acompanha o sucesso que tem. "Mandela sempre me disse: 'Você tem que aproveitar quem você é para falar em alto e bom som sobre algumas coisas'", revela.
Naomi, que foi amiga desde os anos 90 do ícone da reconciliação racial sul-africano, morto em dezembro de 2013, continua marcada pela herança imensa de quem chamava de "avô". Mas "nem tudo é fácil de dizer ou é facilmente aceitável por todo mundo, e nem todos vão gostar do que você disser", lembra a top, conhecida também por ataques de estrelismo e escândalos na Justiça com funcionários que a acusaram de maus tratos.
Sozinha no pódio
Ela diz que não gosta de estar sempre sozinha no pódio dos desfiles de moda, como única representante das modelos negras; "Uma tendência comum até pouco tempo atrás", afirma.
Claro que, seguindo seus passos, e os das também modelos Beverly Johnson e Liya Kebede, modelos negras mais novas como Jourdan Dunn, Joan Smalls e Chanel Iman conseguiram um lugar especial. A cantora Rihanna e a atriz Lupita Nyong'o também foram alçadas ao posto de ícones da moda, mais ainda falta muito. "Quando comecei minha carreira havia mais modelos de pele escura nas passarelas do que hoje", diz Naomi.
Para a bela adolescente londrina com olhos amendoados e maçãs do rosto salientes, tudo aconteceu de forma inesperada. Aos 16 anos, apenas um ano após ter sido descoberta, já desfilava para o estilista italiano Gianni Versace e fez história aos 18 anos como a primeira modelo negra na capa da edição francesa da revista Vogue. "Sempre tive um respaldo extraordinário de estilistas como Yves Saint-Laurent, Azzedine Alaïa e Karl Lagerfeld. Todos me apoiaram muitíssimo no início da minha carreira, tive sorte", conta.
Ao lado da norte-americana Christy Turlington e da canadense Linda Evangelista, Naomi foi uma das grandes modelos dos anos 90 e nega ter sofrido discriminação racial, tema sobre o qual já falou em diversas entrevistas. "Não posso dizer isso, tive o que quis, pude triunfar graças à ajuda dos estilistas e continuo aparecendo nas capas da Vogue", afirma, pouco antes de partir para uma sessão de fotos da edição italiana da revista.
"Por isso, sinto que devo ajudar agora as jovens modelos, porque sua relação com os estilistas já não é mais a mesma", explica. Segundo ela, os diretores de casting colocam muitos obstáculos para as modelos e suas carreiras parecem depender cada vez mais do humor deles.
"Nunca nos calaremos"
"Quando me diziam 'não', encontrava outra maneira de conseguir o que queria. Agora é um pouco diferente, porque as modelos negras têm medo de falar. Se fazem isso, não são selecionadas", explica. "Temos que ajudar essas meninas, sejam asiáticas, negras ou mestiças", acrescenta.
Naomi Campbell se uniu, em setembro de 2013, a uma iniciativa mundial chamada Balance Diversity, lançada pela modelo Bethann Hardison para denunciar a falta de modelos negras nas passarelas. "Não se trata de um movimento político, é simplesmente um diálogo", diz.
Desde então, segundo ela, algumas pessoas tomaram consciência do problema e tentam melhorar as coisa". "O problema está lá fora, no mundo, na mídia. Então eu acho que as pessoas não têm como escapar como fizeram antes", acrescentou.
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