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Relacionamento abusivo: o que é e como identificar se você está em um

Saiba o que é relacionamento abusivo, como denunciar e punições - oonal/Getty Images/iStockphoto
Saiba o que é relacionamento abusivo, como denunciar e punições Imagem: oonal/Getty Images/iStockphoto

Simone Machado

Colaboração para Universa, em São José do Rio Preto (SP)

20/07/2022 04h00

Ciúme excessivo, violência psicológica, verbal e até mesmo física. Esses podem ser alguns dos sinais de um relacionamento abusivo. O assunto é delicado e na maioria das vezes quem está sofrendo esse tipo de violência não percebe o ciclo em que está inserido, demora a aceitar e buscar ajuda para sair da relação - seja por medo ou até mesmo dependência emocional ou financeira da outra pessoa.

Mas será que é fácil identificar uma relação abusiva? A resposta é que na maioria das vezes não. Isso porque não é necessário ter agressão física para o relacionamento abusivo ser caracterizado, muitas vezes, esse abuso vem disfarçado de "excesso de carinho e amor", com uma boa dose de manipulação e controle sobre o outro - como do uso de roupas, amizades, redes sociais, etc.. Além disso, o abusador se coloca no lugar de vítima para fazer essa manipulação.

"Muitas vezes, essa opressão vem em razão da desigualdade de condições que existe entre os envolvidos. Há manipulação, situações que aprisionem, causem dependência. Essa desigualdade pode ser física (força de um maior que a do outro), financeira (dependência financeira e controle absoluto patrimonial), entre outras", explica Silvia Felipe Marzagão, presidente da Comissão de Advocacia de Família e Sucessões da OAB SP.

Relacionamento abusivo: o que é e como identificar

O que é um relacionamento abusivo? Veja características

Constrangimento em público, como diminuir a outra pessoa, interromper a fala, ridicularizar, não aceitar ser questionado, restrição de liberdade ou financeira são algumas das características mais comuns dos relacionamentos abusivos. Além claro, das agressões físicas como apertões nos braços, beliscões, tapas e até mesmo quebrar objetos para intimidar a outra pessoa.

"A pessoa que está sendo vítima desse relacionamento começa a se sentir ameaçada, coibida, entristecida e é colocada sempre em cheque nas suas opiniões. A outra pessoa tenta afastar a vítima dos amigos, passa a criticar a outra pessoa, as suas vestimentas e seu modo de agir. Quando essas características começam a surgir é importante ficar bastante atento" explica Katia Rosa, liderança Nacional do Projeto Justiceiras, que atende meninas e mulheres vítimas de violência doméstica em todo o país.

Como identificar um relacionamento abusivo?

A violência física é a mais conhecida e mais fácil de identificar, já que há agressões, mas as veladas, bastante comuns, não são tão fáceis assim, já que elas vêm normalmente disfarçadas de zelo e cuidado.

"As formas de um relacionamento abusivo são muitas vezes sutis e, em geral, são vistas como forma de amor, proteção, sempre para 'o bem da mulher ou da outra parte'. Por exemplo, controlar o tipo de roupa que a mulher deve usar, se pode ou não ter redes sociais, exigir ter as senhas de contas, redes sociais e aparelho celular, além de ciúmes excessivo e vitimização", relata Jamila Jorge Ferrari, delegada coordenadora das Delegacias de Defesa da Mulher (DDMs) do Estado de São Paulo.

Além disso, segundo as especialistas, essas atitudes características de relacionamentos abusivos vêm acompanhadas de frases como: "só faço isso porque te amo muito", ou "esse é o meu jeito de demonstrar amor e carinho", que buscam normalizar esse tipo de comportamento controlador.

"Como o relacionamento abusivo começa invisível é uma grande dificuldade detectar ele no começo, normalmente a vítima só percebe que está em uma relação desta depois que já está bastante envolvida emocionalmente, daí a vem a dificuldade de sair do ciclo porque a vítima se sente dependente do abusador", acrescenta Katia.

Quais os tipos de relacionamento abusivo?

Engana-se quem pensa que relacionamento abusivo é somente entre homem e mulher ou casais, as relações entre outros membros da família como pais, filhos, irmãos, primos e avós, por exemplo, também podem ser abusivas.

"Os relacionamentos podem ser abusivos em várias circunstâncias: nos namoros, noivados, casamentos, nas amizades, no ambiente de trabalho ou mesmo após a ruptura - quando se tem relação de parentalidade comum que obrigue a existência de contatos constantes", acrescenta Silvia.

O que fazer se estiver passando por um relacionamento abusivo?

Para sair de um relacionamento abusivo o primeiro passo é conseguir enxergar que está se vivendo em uma relação que não é saudável. Por isso, ter conhecimento sobre o assunto é fundamental. Após enxergar o problema, é hora de pedir ajuda para pessoas de confiança ou profissional.

"A grande dificuldade é a percepção dos atos de abuso/violências e a situação que a vítima é colocada pelo abusador, que normalmente é muito articulado, manipulador, controlador e a vítima começa a confundir a situação com demonstrações de amor, cuidado e carinho. Como as narrativas são invertidas - a culpa passa a ser da vítima, tida como responsável pelas violências que ela sofre -, fica difícil a percepção da violência", diz Silvia.

Como e onde denunciar?

Pessoas que vivem em um relacionamento abusivo podem ligar para a Central de Atendimento à Mulher, no número 180. O serviço recebe denúncias, dá orientação e faz encaminhamento para serviços de proteção e auxílio psicológico à vítima de relacionamento abusivo.

Caso a vítima seja mulher, também é possível realizar denúncias de violência pelo aplicativo Direitos Humanos Brasil e na página da Ouvidoria Nacional de Diretos Humanos (ONDH), do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH).

"Sair de um relacionamento abusivo é difícil, mas não impossível. É necessário buscar ajuda profissional e rede de apoio, existindo serviços públicos que ajudam as mulheres a saírem dessas situações. Além dos serviços psicológicos e sociais disponibilizados pelas prefeituras como CREAS, CRAS, CRMs, existem redes de organizações que oferecem esse tipo de apoio", afirma a delegada.

Havendo crime, as vítimas podem procurar as Delegacias de Polícia de Defesa da Mulher ou Delegacias de Polícia comum, bem como a DDM On-line, que realiza os BOs de forma virtual, através da Delegacia Eletrônica, sem a mulher precisar ir até uma delegacia física.

Relacionamento abusivo pode dar prisão? Quais as possíveis punições?

A Lei Maria da Penha tem alguns mecanismos importantes que podem auxiliar na questão quando envolver violência contra a mulher em contexto familiar. Como ela prevê, também, punição para as violências psicológicas, pode ser um importante instrumento para a punição das violências decorrentes do abusivo, podendo resultar em prisão em algumas situações mais graves.

"Ocorrendo algum dos tipos de violência previstos na Lei Maria da Penha - física, psicológica, moral, sexual ou patrimonial -, é possível o registro do BO, a instauração do Inquérito Policial, o Processo Criminal e a consequente punição. Com relação à prisão, dependerá da pena prevista no Código Penal para cada caso concreto", finaliza a delegada.