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Vitão faz tatuagem para Sonza: por que ainda fazemos provas de amor eterno?

Vitão mostrou a nova tatuagem de flores no Instagram - Reprodução/Instagram
Vitão mostrou a nova tatuagem de flores no Instagram Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista do UOL

25/11/2020 04h00

Casados, namorados e tatuados dirão que eu sou uma solteira recalcada, mas ao ver a notícia de que Vitão fez uma tatuagem em homenagem a Luisa Sonza, dois meses após o início do relacionamento, me fez pensar duas coisas:

1. em épocas de amores líquidos por que a gente ainda faz provas de "amor eterno"?
2. fazer as tais provas de amor eterno dois meses após o início da relação é um movimento que concretiza a intensidade do elo ou o reflexo de uma ansiedade para provar pra si mesmo, para parceira e para o mundo que essa relação vai ser diferente?

Nós, que pesquisamos a solteirice e os relacionamentos contemporâneos há tempos no Soltos SA, sabemos bem como está difícil estabelecer vínculos significativos. É muito match pra pouco encontro, muito papinho pra pouca troca, muito beijo na boca pra pouco brilho nos olhos. A maior parte de nossos encontros são efêmeros e os desencontros amorosos rolam soltos: estamos todos mais defendidos, mais apegados a nossas rotinas e manias e menos focados. Nesse contexto promissor, é natural que quando a paixão bata e a gente encontre um eco no outro, nosso nível de animação e expectativa vá às alturas.

Curtir essa paixão é delicioso mas querer já transformá-la em um amor pra sempre através de uma prova concreta é pra mim um misto de ingenuidade e tentativa de controle do outro, da relação e da intensidade de nosso próprio amor - que sabemos que pode minguar sem aviso prévio.

Que seja eterno enquanto dure mas que seja eterno

Me lembrei de uma fala da psicóloga portuguesa Rita de Castro que diz que "os rituais respondem à necessidade de estabilidade e funcionam como um meio de apaziguar a ansiedade sentida perante a mudança iminente". Pra mim o ato de fazer a tatuagem, assim como muitas outras provas de amor eterno são tentativas nossas de ritualizarmos nossos amores e criarmos símbolos concretos para ele. E, já que estamos todos nos afogando na tal modernidade líquida, esses símbolos concretos seriam uma maneira de oferecermos ao outro um bote salva vidas ou um espaço para ancoragem para um amor seguro e perene. Mas existe amor seguro e perene?

Dessa vez vai ser diferente

Também penso que essas provas de amor grandiosas e perenes escondem uma lógica competitiva porque colocam esse novo amor como mais intenso, mais comprometido e mais entregue dos que os anteriores (afinal de contas, "seu antigo namorado não se tatuou por você e eu nunca fiz isso por outra pessoa antes"). É como se só estar na relação não fosse o suficiente para acreditarmos que ela vai durar.

Precisamos mostrar para o parceiro e para nós mesmos que ela é diferente e melhor do que todas as anteriores. Será que essa competitividade não esconde a famigerada insegurança presente em todos nós? Por que o que garantirá a continuidade ou não da história está menos ligado ao fato dela ser melhor do que as outras e sim ao fato dela ser gostosa por si só.

Amor pra todo mundo ver

E por último, não tem como não abordar a espetacularização do amor. Eu nunca entendi aqueles americanos que pedem as namoradas em casamento no telão em meio ao jogo de basquete e ultimamente temos visto chuvas dessas demonstrações histriônicas em terras brazucas como o épico pedido de namoro de Rafa Kalimann com show de fogos de artifício e música. Por que a gente acha que as provas de amor públicas valem mais do que as privadas? Estamos transformando os seguidores em testemunhas? Ou existe aqui também um comportamento narcísico e uma espécie de sensação de vitória e superioridade ao esfregar essa demonstração de amor grandiloquente e eterno em meio a milhões de solteiros ou casais de ritualizam seus amores com um macarrão ao pesto com vinho bom?

Em vez de provar o amor pra sempre, vivenciar o amor de hoje.

Não sei se acredito no "pra sempre" e acho que nos desgastamos muito tentando controlar o incontrolável. Mais do que provas de um comprometimento futuro, acredito em relações que topam se aventurar em uma entrega no presente. E se estivermos entregues, naturalmente teremos vínculos transformadores e eternos, sem que essas marcas precisem ser concretas - e muito menos na pele.

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