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Nina Lemos

Caso Robinho: 2020 e ainda tentam desqualificar mulher por ser baladeira

Justiça italiana confirma condenação de 9 anos por estupro - Ettore Chiereguini/AGIF
Justiça italiana confirma condenação de 9 anos por estupro Imagem: Ettore Chiereguini/AGIF

Colunista do UOL

15/12/2020 04h00

O julgamento em segunda instância do jogador Robinho aconteceu semana passada e o jogador foi considerado culpado. Sim, o jogador ainda pode recorrer à terceira instância, mas cada dia fica mais provável que Robinho seja preso por estupro.

Um detalhe chamou atenção no julgamento: os advogados do jogador apresentaram um dossiê CONTRA a vítima.

É incrível como em casos de acusação de estupro em vez de defender seus clientes, advogados ainda se ocupem de desqualificar vítimas. Mas como eles não são bobos, vamos ser realistas, muitas vezes a tática deve funcionar.

O tal arquivo teria fotos da moça bebendo em boates com amigas. Detalhe, segundo reportagem do UOL, a defesa alegou querer checar se a vítima estava acostumada a beber, mas nas 42 fotos apresentadas, em apenas uma ela tem um copo na mão. Ou seja, o objetivo era mesmo mostrar que a moça era baladeira, saía, não era "séria".

Como se uma mulher beber e ir a festas justificasse alguma agressão ou tornasse a vítima menos confiável.

Alguém está surpreendido? Sinceramente, não estou. A tática foi a mesma usada pelo advogado Cláudio Gastão, que representa o empresário André de Camargo Aranha, acusado de estuprar Mariana Ferrer. Quem viu o vídeo chocante do julgamento do acusado deve lembrar do advogado falando para Mariana: que suas fotos tinham "pose ginecológica" e que ela postava fotos com o "dedo na boquinha".

Sim, em 2020, época em que 99% das pessoas têm redes sociais, elas estão sendo usadas para tentar desacreditar as mulheres. A sua famosa foto "biscoitando" pode ser um dia usada contra você.

Nos casos de Mariana e a moça que acusa Robinho, o recado dos advogados parece ser o mesmo: tentar mostrar que mulheres que saem à noite e gostam de dançar não são "sérias" e que, por isso, seriam "golpistas", interessadas em dinheiro.

Lembrando o óbvio: estupro é crime hediondo seja a mulher prostituta, dona de casa, dançarina, enfermeira. A gravidade do crime não tem a ver com os hábitos sociais da vítima ou sua profissão.

Estupro de vulnerável

No caso de Robinho e Mariana, o álcool pode fazer diferença. Mas é o contrário do que os advogados tentam pregar. Se a mulher estiver bêbada durante o ato, o crime será mais grave. Isso qualifica o caso como esturpo de vulnerável.

No caso de Mariana, a influenciadora afirma ter sido drogada, o que é ainda pior.

Agora, o fato de uma mulher ter ou não o hábito de beber não vem ao caso. Não é porque uma mulher frequenta boates e bebe que o seu depoimento é menos real.

Resumindo: se uma mulher beber todo dia, isso é problema dela. Agora, se ela estiver bêbada ou drogada na hora do ato, isso torna o abuso ainda mais grave,

No caso de Robinho, a justiça italiana pelo menos parece ter percebido que esse argumento de "olha só as fotos que ela posta!" não cola. Que sirva de exemplo.