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Nina Lemos

De novo? Já falta papel higiênico na segunda onda da pandemia na Europa

Na tarde de segunda-feira (19) já faltava papel higiênico no supermercado perto da minha casa, em Berlim - Nina Lemos
Na tarde de segunda-feira (19) já faltava papel higiênico no supermercado perto da minha casa, em Berlim Imagem: Nina Lemos

Colunista do UOL

20/10/2020 04h00

Em março, quando a epidemia de Coronavírus foi considerada pandemia mundial, de um dia para o outro, o papel higiênico desapareceu das prateleiras de supermercados na Alemanha. Sete meses depois, tudo está acontecendo de novo. Nos supermercados, as mesmas prateleiras estão vazias, o que é apavorante e um sinal claro de que:

1. A segunda onda do Coronavírus não é um mito, mas uma realidade.
2. O país deve implementar algum tipo de "lockdown em breve.

Na segunda-feira, pela primeira vez, um município da Alemanha declarou lum segundo lockdown. Em Berchtesgadener Land, na Bavária, escolas e restaurantes serão fechados.

Os boatos começam a correr. E papel higiênico e produtos não perecíveis começam a desaparecer das prateleiras.

Os produtos não vão faltar. Mas o temor de um novo "lockdown" é completamente realista.

Desde a semana passada, França e em Portugal estão com toque de recolher. A partir das 22h, todos têm que ficar em casa. Sair, só com explicação convincente. Em Berlim, onde moro, bares e restaurantes têm que ficar fechados entre 23h e 6h e só grupos de no máximo cinco pessoas podem se juntar. Segundo a mídia local, o governo da cidade deve implementar uma limitação de contato que durará 24h ainda essa semana.

Os números de novas infecções por dia nunca foram tão grandes nos países da Europa (nem na primeira onda, que fechou o continente). No sábado, dia 17, três países registraram recordes. A Itália teve 10.933 casos a França 32.427 e a Alemanha 7.830.

Especialistas dizem que os recordes se devem, em parte, ao maior número de testes. Mas não é só isso. Fatores como o frio (e as pessoas passarem mais tempo em lugares fechados) e a dificuldade em se fazer um isolamento completo (as escolas, por exemplo, continuam abertas, assim como os escritórios) causam aumentos exponenciais diários.

No sábado, a chanceler Angela Merkel fez um apelo à população, pedindo que as pessoas não viajem e não façam festas:

"Eu apelo a vocês: estejam com menos pessoas, seja em casa ou na rua. Por favor, abstenham-se de fazer viagens e celebrações que não sejam absolutamente essenciais. Fiquem em casa, sempre que possível", disse. Segundo ela, isso pode evitar que todas as escolas sejam fechadas. E que o comércio e a economia sejam duramente atingidos de novo.

Cadê a solidariedade?

Na primeira onda do Coronavírus, quando o continente ficou praticamente fechado entre março e abril, a solidariedade se espalhou. As pessoas batiam palmas para os médicos, jovens faziam compras para os mais velhos, cercas com comidas para os necessitados se espalharam pelas cidades. Agora? Bem, ninguém bate mais palma e o clima entre as pessoas é muito pior.

Os jovens, que eram vistos como solidários que ajudavam os mais velhos, agora recebem críticas., Segundo especialistas, o fato de muitos continuarem fazendo festas foi um dos fatores que levou ao aumento das infecções. Alguns donos de bares discordam e se revoltam. Ou seja, acabou o amor. As pessoas estão mais é mal-humoradas, cansadas e acusando uns aos outros.

Os governos também não fecham todas as cidades, pelo bem comum, criando "uma corrente", mas impõem restrições na vida social e parecem perdidos.

Eles estudam novas formas de "lockdowns" temporários e locais, mas dão poucas certezas. Na Alemanha, ontem, cientistas alertavam sobre "perda de controle da pandemia".

A falta de informações claras dos governantes sobre o futuro próximo causam uma angústia geral. Vai ter Natal? Os hospitais vão colapsar? A empresa onde eu trabalho vai falir? Ninguém sabe. A única certeza: vai ser um longo e frio inverno...