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Mulherias

Natal consciente: como comprar de quem fortalece as mulheres da periferia

Colunista do UOL

10/12/2020 18h34

Com reportagem de Ariane Silva, especial para o blog MULHERIAS

Neste Natal de pandemia, de um ano que tem sido difícil para todo mundo, consumo consciente é mais que uma escolha, é uma questão solidária e capaz de impactar milhares de mulheres das periferias. De maneira formal ou informal, elas sempre foram maioria no empreendorismo e estima-se que o país conte com mais de 24 milhões de donas de seu próprio negócio. O número só tende a crescer e, agora, nesse momento, esse exército feminino está às voltas com encomendas e pedidos.

A coluna Mulherias compartilha aqui maneiras de você chegar até elas ou de iniciativas coletivas, além de sugestões de presentes criados pelas mãos de mulheres ou que fortalecem as manas das quebradas. Cada compra é impacto multiplicado. Afinal, a gente sabe: desde que o mundo é mundo mulheres fortalecem outras mulheres que, por sua vez, se unem em redes de apoio e solidariedade. Bora fortalecer uma mana da periferia?

Zkaya: roupas e acessórios que estampam a identidade da mulher negra

Lais da marca Zkaya - Reprodução  - Reprodução
Lais: bonés de sua marca, a Zkaya, saem por R$ 99
Imagem: Reprodução

A marca Zkaya nasceu em 2016 com brincos produzidos por Laís Zkaya e hoje também oferece turbantes, bolsas, calçados e até bonecas negras. Uma delas, a Nina, é uma ótima opção para presentear meninas e meninos e custa R$ 50. A história do empreendimento é economia popular e solidária na prática: começou pequeno e hoje gera renda para várias pessoas que fazem parte da rede de produtores.

"Nosso propósito é levar através das nossas estampas, criatividade, afeto, autoestima e alegria ao mundo" Laís da Zkava

Para a criadora da marca, comprar de mulheres é fortalecer a base da pirâmide social brasileira: "a grande maioria de nós empreende por necessidade porque o mercado nos exclui ou nos descrimina. Consumir de mulheres é mover as estruturas, é possibilitar que outras redes possam ser formadas e ampliadas", explica Laís. A marca prega o consumo consciente como forma de promover maior distribuição de renda, pondo dinheiro na mão de quem fortalece e não explora. Os brincos, que começaram a mover essa engrenagem, têm preço a partir de R$ 10.

E-bairro: Pôsteres, quadros, artesanato e histórias de vida

O portal de compras E-bairro valoriza o "fazer com as mãos, fazer com arte", a sustentabilidade e a criatividade do povo brasileiro. A iniciativa congrega mais de cem empreendedores da periferia da zona Sul de São Paulo e tem o compromisso de promover a geração de renda nas quebradas e o fortalecimento de novas lógicas de mercado. "Significa ter um produto com design exclusivo e único, feito com a alma e o coração de um território que emana cultura", informa o E-bairro.

Plataforma de vendas de empreendedores da periferia E-bairro - reprodução  - reprodução
imagem da plataforma de vendas de empreendedores da periferia e-bairro
Imagem: reprodução

Todos os empreendedores do portal têm sua própria lojinha onde contam um pouco de sua trajetória de vida e expõem os produtos que podem ser entregues em todo o Brasil. Entre os destaques, estão obras da artista plástica Carol Itzá, por R$ 50 (reprodução em papel couchê 200mg).

 "Florescer", gravura da artista plástica Carol Itzá, por R$ 50 (reprodução em papel couchê 200mg) à venda na plataforma E-bairro - Reprodução E-bairro - Reprodução E-bairro
"Florescer", gravura da artista plástica Carol Itzá, por R$ 50 (reprodução em papel couchê 200mg) à venda na plataforma E-bairro
Imagem: Reprodução E-bairro

"Eu me criei desenhando e cheguei aqui! Sou grafiteira, artista visual, educadora e dançarina", diz. "A pertença nas rodas e movimentos de encontro que pulsam nas beiras faz com que a gana de criar seja a força que me guia. Minhas obras são registros malokêros de quem carrega o sentimento na sola do pé." Carol Itzá, artista plástica e empreendedora do E-bairro

Roça: Cesta de orgânicos direto do campo em SP

O preço dos alimentos está pela hora da morte e dar de presente uma cesta de legumes, frutas, ervas medicinais e hortaliças orgânicas, direto da roça, pode ser o mais importante neste momento. Isso, no entanto, não precisa custar um absurdo nem contar com grandes luxos em embalagens desnecessárias. O acesso à alimentação sem veneno a preço justo é o que motiva o casal de agricultores Aline Maria e Rafael Mesquita, da Roça Distribuidora, que fazem entregas em São Paulo, até nas periferias, ao custo de R$ 6.

Os agricultores Rafael e Aline: orgânicos a preço justo - Reprodução  - Reprodução
Os agricultores Rafael e Aline: orgânicos a preço justo no Natal
Imagem: Reprodução

Pelo whatsapp (11 992064410), eles enviam a lista de produtos disponíveis. Alface, escarola e alho porró, por exemplo, custam R$ 3,50 por maço. Rúcula ou couve, R$ 4 cada e o quilo de uma moranga R$ 5,60. Até o dia 15, terça-feira, estarão recebendo pedidos que serão entregues na quinta, dia 17. Além dos orgânicos, há produtos veganos, compotas, cervejas artesanais, panetones, cosméticos naturais, incensos, óleos essenciais e até colares aromáticos.

alimentos orgânicos - Getty Images - Getty Images
Cesta de alimentos orgânicos
Imagem: Getty Images

Ecoá: cosméticos veganos e biodegradáveis

Tratar o cabelo produzindo menos lixo, sem crueldade e com preço justo é a proposta do empreendimento de Belo Horizonte (MG). A Ecoá surgiu do trabalho de Nataly Sgoviah, 30, como cabeleireira em busca de produtos que atendessem às demandas das clientes. Acabou decidindo fazer ela mesma e hoje a marca atende todo o Brasil por meio do site e do Instagram. Os xampus e condicionadores em barra dispensam embalagens de plástico, custam por volta de R$ 30 e rendem até 100 lavagens.

"São produtos que se usa todo dia e trazem saúde, bem-estar, autoestima e ajudam o meio ambiente já que são biodegradáveis" Nataly da Ecoá

Ecoá Cosméticos - Reprodução Instagram - Reprodução Instagram
Ecoá cosméticos
Imagem: Reprodução Instagram


Isabella Haru: cerâmica inspirada nos povos da América Latina

A brasiliense Isabella Haru, moradora de São João del Rei, em Minas Gerais, é uma ceramista feminista que se inspira na cerâmica pré-colonização dos povos da América Latina. Ela produz colares difusores de essências aromáticas, potes, canecas e outros objetos tradicionais. As formas femininas são destaque em seu trabalho.

"É um resgate dos corpos femininos enquanto corpos naturais"

Os vasinhos antropomorfos custam R$ 50. O colar difusor sai a R$ 40 e foi pensado para uso com práticas de aromaterapia.

"Valorizar o trabalho artesanal é ir na contramão dessa forma atual de consumo dos objetos e produtos que faz de tudo algo rápido, fácil, e da mesma forma que se constrói, se compra, também se joga fora", afirma a ceramista.

"As artes manuais resgatam a ancestralidade e também nos colocam em conexão com um processo mais íntimo e caloroso com os próprios objetos, tanto para quem cria quanto de quem compra".

Feira do Livro das Periferias

São 16 editoras e selos das periferias de todo o Brasil no evento que ocorre de forma virtual por conta da pandemia. A iniciativa é da ONG Ação Educativa, e tem o objetivo de "mostrar o potencial artístico e diversificado das produções editoriais das periferias por meio de saraus, leituras de textos, incentivo a leitura e comentários sobre os livros publicados pelas editoras e selos das periferias".

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O livro Terra Fértil, de Jennyfer Nascimento, foi publicado pela Editora Mjiba: presenteie uma mana por R$ 39,90

Até o dia 15/12 é possível encontrar no site à venda livros da Editora Kitembo, da Brasilândia, zona norte de São Paulo, especializada em literatura negra fantástica; da Editora Mjiba, focada em literatura feminina, e mais 15 editoras, todas comprometidas em valorizar e divulgar a literatura periférica.

Uzuri: acessórios afro chiquérrimos da joalheria negra

Do subúrbio carioca para todo o Brasil, Uzuri é a marca da designer Thayná Trindade, mãe e historiadora. São colares, brincos, pulseiras e joias de corpo inspirados na joalheria produzida no período colonial brasileiro e utilizadas como forma de resistência. Usar joias era proibido por lei para pessoas escravizadas.

Brinco Kinah, R$120

A marca produz peças para novelas, peças de teatro e até para a abertura das olimpíadas. Também faz peças exclusivas por encomenda e entrega em todo o Brasil.