Cristina Fibe

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Opinião

Silêncio dos jogadores diante de condenação de Daniel Alves é ensurdecedor

O silêncio dos "grandes" jogadores brasileiros diante da condenação de Daniel Alves por estupro é ensurdecedor. Devem estar todos estupefatos.

Uns estão olhando para o que já fizeram, agradecendo a Deus por não terem sido pegos ainda. Outros, aqueles poucos que não sucumbem a um modo coletivo de tratar mulheres, talvez estejam secretamente pensando "bem que eu avisei".

Nos jornais, a notícia lembra um obituário, elencando as grandes conquistas do jogador baiano, agora ex, que, segundo a "Folha de S.Paulo", conquistou 42 títulos — "empatado com Messi como maior detentor de troféus em nível mundial".

A sentença que estampa na testa de Daniel Alves o carimbo de "culpado" apaga a importância do que conquistou antes e o faz entrar para a história como mais um que usou seu poder para violentar mulheres.

Ele deve estar se lamentando por ter feito isso na Espanha. Como Robinho se arrependeu de ter estuprado coletivamente uma jovem de apenas 23 anos, mesma idade da vítima de Daniel, numa boate em Milão, em 2013.

Mas, condenado a nove anos de prisão, Robinho conseguiu escapar pro Brasil sem cumprir sua pena. Aqui, ele vive solto.

Daniel Alves não teve tempo de fugir. Foi preso preventivamente menos de um mês depois de cometer o crime, graças a um ágil protocolo espanhol de proteção às vítimas, acionado desde o primeiro momento, na boate de Barcelona.

A seriedade com que Itália e Espanha investigaram os crimes cometidos em seus territórios deveria servir de exemplo para o Brasil. Aqui, muitos casos parecidos sucumbiram a desculpas de que já não restavam vestígios para comprovar as versões das mulheres — que, sabemos, sempre têm menos credibilidade do que as palavras de homens como eles.

Uma política de tolerância zero a violência sexual passa por um pacto coletivo de proteção às meninas e mulheres.

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Passa pelos contratos publicitários, que em geral saem inabalados de acusações a suas estrelas.

Passa pela educação sexual e pelo exemplo que esses jogadores estão dando às futuras gerações.

Passa, inclusive, pela CBF, a Confederação Brasileira de Futebol, que também precisa parar de tratar mulheres como seres indignos de respeito, assediando funcionárias e contratando prostitutas para servir a seus convidados.

A sentença dada hoje a Daniel Alves mostra que o poder dos jogadores tem, sim, limite. É hora do "país do futebol" mostrar se concorda ou não com isso.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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