Cristina Fibe

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Contaminada por denúncias de assédio sexual, CBF é exemplo para jogadores

Na segunda-feira (5) começa o julgamento, por estupro, do jogador Daniel Alves, aquele das cinco versões para o mesmo caso.

O seu colega Neymar, que também já foi acusado de agressão sexual e por esse motivo foi desligado da Nike, cedeu advogado e enviou R$ 800 mil para reduzir a pena de Daniel, segundo reportagem publicada pelo UOL.

Outro jogador da geração dele, Robinho foi condenado a nove anos de prisão por estupro coletivo na Itália, mas escapou da sentença voltando ao Brasil, onde vive solto e impune.

Áudios revelados pelo podcast "Os Grampos de Robinho" mostram a pouca importância que o jogador dá para o que foi feito, em grupo, contra a vítima. Entre ele e os seus amigos, as mulheres são tratadas como objetos sem direito ao mínimo de dignidade.

Os três mencionados já foram grandes nomes da seleção brasileira, formada pela nata dos jogadores no país do futebol.

Um país em que esses esportistas servem de exemplo pra meninos que desejam ser como eles, ostentam os seus nomes nas camisas, brigam por figurinhas com os seus rostos. A instância máxima da idolatria no futebol.

Acima deles, só quem manda neles: a CBF.

Mas, do jeito que a Confederação Brasileira de Futebol está estruturada, podemos esperar pouco ou quase nada. O exemplo que vem de cima é o da misoginia travestida de esforço por equidade de gênero.

Uma reportagem publicada nesta semana por Lúcio de Castro, fundador da agência de jornalismo investigativo Sportlight, mostra que a propagandeada "primeira diretora mulher" da entidade acusa a cúpula da CBF de discriminação, assédio moral e sexual.

No texto, disponível no portal internacional The Inquisitor, o jornalista conta que a ex-diretora de infraestrutura e patrimônio Luísa Rosa foi demitida, em julho de 2023, depois de denunciar irregularidades à Comissão de Ética da confederação.

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Na peça, ela cita ter sido usada como um "objeto, símbolo para o público externo de que a CBF estaria caminhando, sob sua liderança, para tornar-se uma entidade que respeita e valoriza a mulher". E conclui: "era tudo uma grande farsa".

Em dezembro, ela entrou com ação trabalhista que aponta, além de um incrível esquema de espionagem comandado pelo presidente Ednaldo Rodrigues, práticas recorrentes de assédio.

No processo, ilustrado por mensagens de WhastApp e emails, a executiva afirma que era "diminuída, objeto de piadas de cunho sexual" e convidada para sair por outros integrantes da alta cúpula, como o diretor de comunicação Rodrigo Paiva.

Em mensagens trocadas com ele, Luísa Rosa era chamada de "anjo" e "linda". Observações como "achei que você ia chorar", "saudades", "tenho que te ver" ultrapassam a fronteira profissional e mostram didaticamente o que é uma mulher sendo diminuída num ambiente de trabalho masculino. Nas palavras do próprio Paiva em diálogo anexado ao processo, o "centro nervoso do machismo".

Na ação, que ainda será julgada, a ex-diretora conta que ouvia comentários misóginos de todo tipo — e cita a contratação de prostitutas para "servir" a convidados da CBF em eventos. É essa a confederação de Ednaldo Rodrigues, presidente que sucedeu Rogério Caboclo, afastado em 2021 por denúncias de assédio moral e sexual.

É essa a CBF que, claramente, não está caminhando para se tornar uma entidade que respeita a mulher.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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