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Cris Guterres

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A mensagem às mulheres é 'ame-se como você é'. Mas e se eu não conseguir?

Colunista de Universa

18/01/2023 04h00

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A maneira como nos relacionamos com nosso corpo é resultado de como as pressões que o corpo feminino sofre diariamente nos afetam. Nunca foi fácil para nós, mulheres, manter uma relação de amor e orgulho com nosso corpo, uma vez que ele sempre foi utilizado pelo machismo como instrumento de controle da nossa liberdade.

Ao longo dos anos, quanto mais valiosas foram as nossas conquistas no campo profissional, maiores foram as exigências que o patriarcado determinou que fossem cumpridas para que tivéssemos um corpo considerado bonito por todos. Mulheres cada vez mais magras nas capas de revista, celulites e estrias escondidas por programas de correção de imagens. Rugas tão suprimidas pelo botox como a nossa autoestima.

Há 20 anos, Rene Zellweger fez sucesso com o "O Diário de Bridget Jones", m que a protagonista era considerada gorda mesmo pesando em torno de 60 kg. Foram muitas mentes arruinadas e, como resultado, diversos distúrbios alimentares.

Renée Zellweger como Bridget Jones: no filme, personagem era considerada gorda - Reprodução / Internet - Reprodução / Internet
Renée Zellweger como Bridget Jones: no filme, personagem era considerada gorda
Imagem: Reprodução / Internet

Mas, com o passar dos anos, as mulheres foram ganhando espaço na produção dos conteúdos que diziam respeito a elas. Redes sociais, blogs e podcasts serviram de plataforma para que a gente manifestasse com maior veemência a insatisfação pela maneira como a beleza feminina era tratada, e um movimento de libertação de corpos e mentes ganhou força.

Belas fotos de mulheres gordas na praia encorajando outras a colocarem seus biquínis e se jogarem na água. Às revistas, à grande mídia e às marcas restou ouvir, entender e mudar. Quem vem insistindo no antigo padrão está em perigo, pois cada vez mais estamos envolvidas com o poder do body positive —expressão do inglês que significa olhar para o corpo de maneira positiva, sem colocar defeito em tudo.

Mas como aceitar o nosso corpo depois de tantos anos de opressão? Será que é possível, da noite para o dia, que eu passe amar a imagem que sempre achei feia quando a vi refletida no espelho?

De repente, recebo mensagens de ame-se como você é de todos os lados e me sinto mal por não conseguir me abraçar e amar como as mulheres que vejo nas redes sociais.

O body positive é um movimento incrível, que alavancou não só a autoestima das mulheres mas também de homens, pessoas com deficiência, um contingente imenso de gente mais confiante. A questão aqui é que, como todo movimento, o "ame-se a qualquer custo" também pode ser prejudicial e se tornar mais uma ditadura insistindo na maneira em como cada pessoa deve ser, e não permitindo que ela tenha liberdade para fazer suas próprias escolhas.

Se for para ser positivo, que seja do seu jeito.