Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Olimpíada nos ajudou a resgatar o verde e amarelo da bandeira brasileira
Não canso de dizer que a moda comunica o tempo todo e, no esporte, ela está presente de uma forma significativa. Sobretudo em eventos globais, como as Olimpíadas e campeonatos mundiais, os trajes carregam cores e símbolos de uma cultura. São responsáveis por sintetizar informações sobre o território que representam.
Aqui no Brasil, temos o verde e amarelo, que nunca foi uma combinação exatamente preferida por nós, exceto em momentos específicos de torcida em Olimpíadas e, principalmente, a Copa do Mundo. Era o afeto que marcava a forma como usamos essa combinação. Eu me lembro de ter, por exemplo, uma parte do armário reservada à dupla de tons para fazer as combinações específicas dessas épocas.
No entanto, temos um fenômeno recente. O verde-amarelo, que sempre foi de todo mundo, foi cooptado por um grupo político específico, que usou representação de uma narrativa de suposto nacionalismo e compromisso com o país. Narrativa esta que não se sustenta, considerando a forma como a nação vem sendo conduzida por este grupo — e que ficou escancarada com o descaso no controle da pandemia.
Logo, as cores da bandeira do Brasil ganharam novas conotações. Para alguns, passou a simbolizar as próprias visões violentas e preconceituosas. Enquanto isso, outra parcela da sociedade, na qual me encaixo, se distanciou desses símbolos, justamente por não se identificar com a atuação do tal grupo.
Foi um distanciamento imposto, empurrado goela abaixo. Fizeram com que a gente não mais se sentisse confortável em vesti-las. Tão injusto e tão violento, porque o verde e o amarelo deveriam ser representativos para todes — e todes com ''E'' maiúsculo.
Então, chegam os Jogos Olímpicos. De repente, nos emocionamos com a bandeira sendo abraçada, exaltada ou hasteada, com os tons pintando os vencedores das competições. A manifestação desta emoção é quase uma catarse, um grito guardado, uma explosão. Um misto de felicidade pela ideia de resgate com uma dor adormecida, sufocada.
E agora? Se eu tenho o desejo de torcer, como torcer sem comunicar o extremo oposto do que eu sou, do que eu quero e do que eu e muita gente acredita ser o melhor para o país?
É como se os atletas neutralizassem o que alguns grupos têm tentado atribuir de valor ao verde e amarelo. E, a partir daí, conseguimos nos conectar afetivamente e emocionalmente com esta combinação novamente
Enquanto certo grupo tenta nos oprimir, temos Rebecas, Rayssas, Anas Marcelas e Ítalos resgatando em mim, e em tantas pessoas, a emoção em torno dos códigos do verde e amarelo, dos nossos uniformes, da nossa bandeira, do nosso hino nacional.
Inclusive, quero acreditar que aí reside a cara do Brasil: Rebeca Andrade, uma mulher, negra, periférica e vitoriosa, envolta da bandeira. Imagens assim nos entregam a possibilidade de devolver as nossas cores aos lugares de onde nunca deveriam ter saído — um lugar de orgulho e um lugar de todEs.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.