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Ana Canosa

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Diferença de ritmo sexual: o grande dilema dos casais tem solução?

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Imagem: Getty Images

Colunista de Universa

06/08/2022 04h00

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"Frequência sexual ou qualidade da relação?" De longe essa é uma das queixas mais comuns dos consultórios de sexólogos, vinda de casais monogâmicos (ou supostamente), que se veem frustrados com a preguiça alheia. Quando você só tem uma parceria para fazer sexo, creio que fica digamos, um pouco limitado na sua vontade de exercê-la como mais aprecia a sua disposição.

Quando me perguntam se a frequência é importante na atividade sexual de um casal, a resposta é óbvia - importante mesmo é a qualidade da relação. No entanto, reafirmo que a frequência tem sim o seu valor. Há muitas pesquisas que trazem benefícios sobre atividade sexual regular, que favorece não só o bem-estar físico como a melhora do bem-estar geral, humor e disposição - em decorrência das substâncias secretadas no cérebro como dopamina e ocitocina - mas também o emocional: ser desejado(a) pela outra pessoa, amado, acolhido, reforçando a intimidade do casal. E é aqui que a qualidade entra na equação. Porque sexo ruim simplesmente pode se tornar um martírio.

Um estudo recente publicado no Archives of Sexual Behavior fez a comparação entre frequência sexual e qualidade do sexo em pessoas casadas. Os pesquisadores analisaram dados de 168 casais heterossexuais que foram entrevistados quatro vezes ao longo de um período de 13 anos. O estudo ocorreu nas décadas de 1980 e 1990 e começou quando os participantes eram recém-casados. Ao longo da pesquisa, ambos os parceiros foram entrevistados periodicamente sobre como sentiam seus relacionamentos e a sua vida sexual.

Os pesquisadores analisaram especificamente como a satisfação geral com o casamento estava relacionada à frequência com que os casais relataram fazer sexo, quão satisfeitos estavam com suas vidas sexuais e até que ponto cada parceiro se engajou em comportamentos emocionais positivos (como dizer "Eu amo você" e fornecer afeto físico) e comportamentos emocionais negativos (como demonstrar raiva ou irritar propositalmente o parceiro).

Quando a frequência sexual foi considerada em conjunto aos outros fatores, ela não estava associada à satisfação sexual, nem para os maridos, nem para as esposas. Ambos os parceiros pareciam mais satisfeitos quando consideravam que suas vidas sexuais eram boas - reforçando o aspecto qualitativo da avaliação. E corroborando esse dado, homens e mulheres se sentiam mais felizes com casamentos cuja parceria apresentava comportamentos emocionais positivos e afetivos.

Isso significa que mesmo que não haja uma frequência ideal, o toque, o carinho e a demonstração de afeto são capazes de alimentar a reserva de felicidade de alguém.

Esses resultados aparecem em outras pesquisas, como as que investigam sexo durante a gravidez e o puerpério: fica muito mais fácil atravessar um período de seca, quando o casal amplia suas possibilidades e tira o foco exclusivamente da relação com penetração.

Nas palavras dos autores do estudo, 'os casamentos mais felizes não são necessariamente aqueles em que os parceiros têm uma vida sexual mais ativa. Em vez disso, os casais mais satisfeitos são caracterizados por "ter uma vida sexual satisfatória e uma vida emocional calorosa."

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