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Ana Canosa

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Não dá para romantizar menopausa mas libido não tem prazo de validade

Colunista de Universa

25/06/2022 04h00

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No Ageless-Talks promovido por Viva Bem e que aconteceu no último dia 23/6, me coube o papel de discutir, junto a Tânia Khalill, Penélope Nova e Adriana Ferreira Silva sobre o tema: libido não tem prazo de validade.

Sob a perspectiva fisiológica da maturidade, a diminuição do estrogênio nas mulheres no climatério e menopausa é sim um fenômeno que pode influenciar no ímpeto do desejo espontâneo, aquele que aparece sem mais nem menos, como acúmulo de tensão sexual e que nos move a pensar em sexo.

Essa baixa na produção hormonal tem outras repercussões e pode promover sintomas desagradáveis, para ao menos 50% das mulheres: ressecamento vaginal, maior risco de infecção urinária, menor sensibilidade nas zonas erógenas - sem contar os fogachos, a insônia, as oscilações de humor, as falhas na memória, a insônia e por aí vai. A lista é grande e desagradável.

A menopausa marca o fim da capacidade reprodutiva da mulher, mas não de sua vida sexual - verdade - mas que é chata, é. Não dá para romantizar.

A boa notícia é que há recursos disponíveis, desde os fitoterápicos, até os alopáticos, como a reposição hormonal, para as mulheres que podem e desejam fazer. Também é possível utilizar os benefícios do lazer CO2 vaginal que melhora as condições tróficas da região vulvo vaginal estimulando a produção de colágeno.

Lubrificantes resolvem a diminuição da lubrificação na fase de excitação, fisioterapia pélvica fortalece a musculatura do assoalho pélvico. Vibradores ajudam na obtenção de orgasmo. Mas nada disso funciona se a pessoa não tiver uma mente libidinosa.

Há uma porção de gente, em idade reprodutiva, que sofre com desejo sexual hipoativo, que não tem nenhuma alteração hormonal, mas sim pouca disposição para o prazer sexual. Seja por questões emocionais de ordens diversas, como a influência de experiências negativas anteriores, traumas sexuais, repressão sexual, autoimagem negativa, vergonha, culpa, falta de conhecimento, transtornos mentais, problemas de relacionamento, seja por serem atravessados(as) por questões socioculturais que inibem a manifestação do erotismo, o fato é que a ausência de experiências de prazer, não ajudam a criar uma memória erótica positiva.

E é essa memória que nos salva. Quando o desejo espontâneo não se manifesta, é a disponibilidade para buscar o prazer sexual que faz girar a roda da fortuna: se o tesão não aparece como necessidade física, virá como resposta a estímulos. É o que chamamos de desejo responsivo. Conhecer o que aciona a excitação é fundamental para que o desejo responsivo opere. Quanto mais envelhecemos, mais essa ativação será necessária.

Mas só quem tem sexo de qualidade e o encara como fonte de prazer, não deixa a peteca cair. Quando uma mulher aprende que só deve fazer sexo por amor, que a sexualidade feminina é mera extensão da masculina, perde a possibilidade de ter um orgasmo, por exemplo, só para relaxar um pouco.

Como a fase resolutiva feminina (pós orgasmo) é mais lenta que a masculina, ficamos mais tempo sob o efeito da dopamina, o que ajuda na motivação e no foco. Enquanto os homens tendem a ter sono logo em seguida a um orgasmo - por efeito hormonal - as mulheres saem falando, pensando, fazendo coisas. Ou seja, o sexo nesse sentido favorece a produtividade, um remédio maravilhoso, não é mesmo?

A questão principal para manter a libido em dia no envelhecimento, é curtir o processo, além do resultado. A resposta sexual pode ficar mais lenta, é fato, mas para isso é só disponibilizar mais tempo. Devemos lembrar que um bom agarramento sempre acorda o corpo e que a relação sexual tem também um efeito lúdico, fatores fundamentais para manter-se desejante por toda a vida.