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Ana Canosa

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Lia curtiu o novo look do marido. Mas não era pra ela, era para o Palmeiras

homem assistindo futebol em casa - izzetugutmen/Getty Images/iStockphoto
homem assistindo futebol em casa Imagem: izzetugutmen/Getty Images/iStockphoto

Ana Canosa

Colunista de Universa

06/02/2021 04h00

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Com a pandemia, Rogério deixou o cabelo crescer. Um dia, almoçando com a família, percebeu que a sua esposa Lia o estava admirando. Ele então perguntou por que ela o estava encarando e ela disse que ele estava diferente com os cabelos compridos. O filho deu uma risadinha, Ricardo perguntou o que Lia achava disso e ela respondeu que era divertido brincar de estar "casada com outro homem".

Virou a piadinha do casal. Quando qualquer pessoa fazia um comentário da cabeleira, normalmente de forma jocosa, mais ela tomava a frente e respondia bem séria: "fantasia sexual meu bem, tô adorando" e daí a brincadeira acabava no mesmo instante. Nos últimos meses ele resolveu também deixar a barba crescer. De vez em quando Lia perguntava se ele estava curtindo esse novo visual, digamos... mais rústico e ele respondia nem que sim, nem que não, que só estava experimentando.

Em algum momento, principalmente depois que a vida foi voltando parcialmente, ela achou que Rogério continuava deixando o cabelo crescer mais porque ela gostava dele assim e não por impedimento de ir a um barbeiro. Dias desses, fazendo sexo, ela o olhou e disse sedutoramente que ele parecia um guerreiro. Não o chamou de Tor, Odim, ou Arne, nem narrou uma caçada na floresta. Bastou o que disse e seu olhar admirado para o macho cabeludo, para alimentar-lhes a excitação.

Alguns casais têm a maestria de tornar o sexo a grande parte lúdica da vida, criando roteiros, vestindo fantasias, assumindo concretamente personagens. Mas para ter um sexo alegre, basta você estar atento para uma brincadeira insinuante e dar um pouquinho de trela. Se não há desejos muito específicos, que envolvam fetiche ou alguma outra prática não usual, não é preciso muito para um casal se divertir com imagens possíveis.

Outro dia Rogério perguntou para Lia se ela tinha reclamado do cabelo dele para a professora de pilates que eles têm em comum, haja vista que a mesma perguntou se Rogério queria cortar o cabelo, já que a cabelereira vinha no estúdio cortar o dela e ele poderia aproveitar a deixa. Lia disse que não, que não precisava de pombo-correio para dizer se estava ou não gostando do cabelo dele. Essa história de cabelo já estava tomando proporções desajustadas.

Dias depois, Lia que adora uma "resenha", comentou a história toda na aula de pilates, agora quase certa que Rogério estava mesmo deixando as madeixas para lhe agradar. O seu colega de aula deu risada, no que ela perguntou o que ele acharia se a mulher dele o chamasse de viking durante o sexo. Corno - ele respondeu dando risada. Homens... dessa vez ela não problematizou e só riu bem alto.

Lia decidiu se julgar musa da dedicação de Rogério, feliz porque ele continuava cultivando a cabeleira, fazendo rabinhos e tal, mas ela tem senso estético e vive no séc XXI. Chegou a propor que ele desse uma cortadinha, porque o cabelo e a barba estavam crescendo de maneira desordenada, livre, invadindo territórios e desequilibrando o meio-ambiente. Tudo tem limite nessa vida. Mas ele não se mexeu.

Foi quando chegou à final da taça libertadores e o Palmeiras ganhou. Emocionado e embriagado, Rogério, um palmeirense convicto e apaixonado, entrou no banheiro e voltou dezenas de minutos depois, com o rosto lisinho, todo baby face.

O filho deles, surpreso, perguntou por que o pai havia tirado a barba, no que Rogério, prontamente respondeu: "O Palmeiras, filhão. Agora, corto o cabelo quando ganharmos o mundial". Promessa fase 1 - cumprida, só falta a fase 2.
Pobre Lia, que de deusa do Olimpo foi rebaixada para a segunda divisão.