Opinião

Mulheres no poder: pense no legado que quer construir para nossas meninas

Há cerca de duas semanas, recebemos uma notícia que nos choca e desafia. Uma comissão formada exclusivamente por homens discutirá políticas públicas para nós, mulheres, na cidade de São Paulo. Sim, você não leu errado: entre os sete vereadores indicados para compor a Comissão de Saúde, Promoção Social, Trabalho e Mulher de São Paulo, não há nenhuma mulher. Este caso, tão constrangedor quanto revoltante, não é um episódio isolado, mas, sim, um reflexo do nosso cotidiano diário.

Há quase um século, as mulheres conquistaram o direito ao voto. Hoje, representamos mais da metade do eleitorado brasileiro. No entanto, ainda enfrentamos muitas dificuldades para ocupar os espaços de poder: das 9 mil candidatas nas últimas eleições, apenas 311 foram eleitas. O Brasil está na 133ª posição em um ranking global de representatividade feminina na política. Esses dados não apenas destacam a sub-representação feminina, mas evidenciam uma realidade na qual as poucas mulheres em espaços de poder enfrentam com frequência assédio, preconceito e violência política de gênero.

Os casos das vereadoras de Limeira (SP), da vereadora de Toritama (PE), e de tantas outras parlamentares que já foram hostilizadas em nosso país, são apenas a ponta do iceberg. Embora tenhamos uma lei para combater a violência política de gênero, os ataques persistem, e muitos não recebem a devida punição. O legado que estamos construindo para as nossas meninas é um cenário onde somos mantidas à margem dos espaços de decisão. Isso precisa mudar.

Com as próximas eleições, temos a chance de mudar este cenário e promover um ambiente político mais inclusivo e diversificado. As mulheres — mães, meninas, executivas, donas de casa — precisam sentir que pertencem e são representadas nos espaços de poder. Não se trata apenas de ocupar, mas de fortalecer o debate com novas perspectivas.

Queremos debater e propor políticas públicas para mulheres e meninas, mas também construir soluções que melhorem a segurança, habitação, economia e saúde das nossas cidades. Ter mais mulheres nesses espaços não é apenas um avanço para nós, mas sim um ganho significativo para todos. A pergunta que fica é: que legado queremos deixar para as nossas crianças? Queremos um mundo onde elas se vejam não só representadas e valorizadas, mas também inspiradas a liderar e a transformar. Este é o futuro que queremos construir, um lugar onde o poder e a possibilidade não sejam exceções, mas sonhos reais e alcançáveis para todas.

*Marina Helou é mãe do Martin e da Lara e deputada estadual em seu segundo mandato pela Rede Sustentabilidade. Marina Bragante é mãe de trigêmeos, mestre em Administração Pública por Harvard e diretora executiva do Instituto AYA.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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