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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Por que a ansiedade me faz viver em eterno estado de plantão da Globo

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto
Bruna Braga

Colaboração para o UOL

03/03/2022 04h00

A sensação é de estar sempre no aeroporto esperando para embarcar, só não sei muito bem onde estou tentando chegar, mas tenho sempre muita certeza de que o avião vai cair. Às vezes, é um misto de "como vim parar aqui, meu Deus, eu só tenho 6 anos" — mesmo com quase 30 — com "quero café" — mesmo tendo gastrite e sensibilidade nos dentes. Acho que é mais ou menos assim que enxergo a ansiedade. Ou, pelo menos, é assim que (quase) todos os dias ela se apresenta.

A minha primeira crise de ansiedade foi às vésperas da minha primeira festa de aniversário, aos cinco anos. Ao contrário das crianças de hoje em dia, que possuem comemorações mensais desde o nascimento, demorei a ter uma festa. Às vezes, me pego pensando: será que se tivesse sido diferente e eu tivesse tido contato com esse sentimento de expectativa de comemoração todo ano, seria menos ansiosa? Será que eu seria mais ansiosa ainda? Será que a Barbie faria uma versão com ansiedade com uma bolsinha de remédios e um Ken terapeuta? Aliás, fica aí a sugestão.

Se tem uma coisa que aprendi é que a ansiedade é aquela amizade sem noção que não aprendeu ainda que convidado não convida porque, no meu caso, ela nunca vem sozinha. Se fosse um casamento, ela seria a convidada que sempre vem com uma prima, a sabotadora que faz a gente duvidar da própria capacidade porque só ela passou em concurso público e ganha bem, que também vem com um amigo sem noção que deixa um climão de constrangimento porque bebeu e tentou beijar as senhorinhas da festa, mas que, ele também, vem com uma tia meio — gatilho de memórias ruins que faz a gente refletir sobre a vez que levou um fora de um amor.

Não conheço outra realidade que não seja a de lidar com isso porque ela sempre esteve presente. Me lembro de sempre passar mal na escola, ter dor de barriga, fazer xixi na roupa, me sentir culpada. Na adolescência tive a fase da ânsia. A de viver? Não, a de vômito mesmo. Na faculdade ia no banheiro a cada dois minutos e não conseguia saber o que queria sair de mim. Na real o que queria sair de mim era: eu.

Já chorei no caminho do show do Belo porque sabia que ia chorar durante o show e quis me antecipar. Conheci um cara massa e já chorei ouvindo uma música que vai me lembrar o nosso término quando isso acontecer, mas a gente nem namora ainda. Já chorei hoje porque achei que talvez esse texto não faça o menor sentido e vocês possam me odiar.

Ainda esperam de mim uma versão nada ansiosa que talvez eu nunca consiga atingir. Medicada sim, ótima já não posso garantir. Boneca em total situação de Brasil, vivendo em estado de vinheta do plantão da Globo.