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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Transfobia no limite: por que prostituição não é "questão de escolha"

Ariadna Arantes (à esq.) e Íris Stefanelli discutiram sobre prostituição no "No Limite" (Globo) - Reprodução/Globoplay
Ariadna Arantes (à esq.) e Íris Stefanelli discutiram sobre prostituição no "No Limite" (Globo) Imagem: Reprodução/Globoplay
Giovanna Heliodoro, @transpreta

Especial para Universa

20/05/2021 04h00

O episódio desta semana do reality "No Limite" (Globo) trouxe em pauta uma discussão muito necessária sobre a vivência de pessoas trans e travestis. Por meio de uma conversa entre as participantes Ariadna Arantes e Íris Stefanelli, abriu-se a discussão: trabalhar com prostituição é uma escolha?

Conhecida por ter sido a única participante trans da história do "Big Brother Brasil", Ariadna revelou que teve de se prostituir no começo da vida adulta por falta de oportunidades de emprego. Discordando dessa afirmação, Iris julgou a outra participante ao dizer que ela teve sim outras opções além do trabalho sexual.

A partir dessa discussão, Ariadna deu então uma aula em TV aberta proporcionando oportunidade para muitos espectadores conhecerem mais sobre a realidade de travestis e transexuais no Brasil.

Ariadna: "Só o fato de ser mulher trans já me tira todos os privilégios"

Atualmente, o Brasil é considerado o país que mais assassina pessoas transgênero no mundo inteiro e contraditoriamente é também o país que mais consome pornografia trans e travesti, segundo dados do RedTube. Essas informações nos ajudam a compreender o paradoxo que existe entre a violência, o fetiche e exclusão que Ariadna vivenciou ao longo da sua história.

Segundo levantamento da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), 90% da população trans no Brasil tem a prostituição como fonte de renda e única possibilidade de subsistência.

A subordinação dessa população ao trabalho sexual é resultado de um longo processo de exclusão social que se se inicia na expulsão da família, perpassa pela evasão escolar e consequentemente implica a exclusão do mercado de trabalho formal.

A fala de Ariadna no "No Limite" representa a realidade de boa parte da população trans. Afinal, a prostituição não é uma questão de escolha, mas sim uma consequência de todo esse processo de exclusão social que vivemos.
E é impossível negar essa afirmação, basta você se questionar:

Com quantas pessoas trans você trabalhou nos últimos anos?
Quantas pessoas trans que você conhece ocupam cargos nas principais empresas do país? Quantas pessoas trans você tem como referência de carreira no mercado de trabalho?

* Giovanna Heliodoro é historiadora, afrotransfeminista e produtora do Festival TransViva! Integra a ONG EQUI articulando ações acerca da inclusão de diversidade no mercado de trabalho. É produtora de conteúdo do perfil @transpreta e autora do livro "Raízes - Resistência Histórica" (ed. Venas Abiertas)