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Falar sobre o que sentimos nos deixa mais fortes

Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

Colaboração para UNIVERSA

02/10/2019 12h55

Imagina a cena: você está andando na rua, tropeça e cai no chão. Entender que você acabou de se machucar e que precisa levantar é um processo rápido. Você até sente vergonha, alguns caem na risada junto, alguns choram, mas todo mundo percebeu que você caiu, tenha você se machucado ou não. Ninguém questiona: "será que você caiu mesmo?". E se você ralou o joelho e sangrou, ninguém vai dizer que aquele arranhão não está lá.

Ao contrário das dores físicas, as dores emocionais não sangram nem aparecem no raio-x. Os traumas e os transtornos psíquicos são muitas vezes invisíveis, só sente quem está passando pelo problema, sentindo aquela dor invisível. E é uma dor tão grande, mas tão grande, que mata. Mas não falamos dela, temos vergonha, temos medo do que as pessoas vão falar. Muitas vezes, nem os próprios médicos levam a questão a sério.

Eu me chamo Dora Figueiredo e desde 2017 falo abertamente sobre os meus transtornos de depressão e ansiedade. Já ouvi diversas vezes que o meu problema era falta de Deus, que eu queria chamar atenção, que eu inventava tudo aquilo para fugir das minhas responsabilidades. Na primeira vez que eu falei sobre os meus sentimentos, fui tratada como uma adolescente mimada. Eu entendo a vergonha de falar para as outras pessoas sobre essa dor, mas foi falando que eu consegui superá-la.

Aos 15 anos, comecei a fazer terapia. Lá era --e continua a ser-- um espaço seguro em que eu sabia que ninguém iria questionar os meus sentimentos. Foi na terapia que consegui entender o porquê de eu me sentir daquele jeito. Quando falamos sobre uma dor emocional --seja ela depressão, ansiedade ou transtorno bipolar-- damos o pontapé inicial no nosso processo de melhora.

Mas é importante saber para quem falar. Um interlocutor errado pode falar coisas que podem piorar a situação, como "a minha tia conhece um chá muito bom pra isso, você não precisa de psiquiatra". Então, construa uma rede de apoio com pessoas com as quais você pode contar, seja para uma simples conversa ou para te ajudar em um momento de extrema dificuldade.

Não tem ninguém com quem dividir essa dor? Ligue para o CVV, que tem voluntários preparados para falar com pessoas em risco de suicídio, o número é o 188. Se não temos vergonha de ter doenças como a diabetes, alergias ou hipertensão, por que temos vergonha de assumir a depressão?

Esqueça vergonha, busque ajuda e tenha coragem. O suicídio é um problema de saúde pública global. Segundo a OMS, 800 mil pessoas morrem por suicídio por ano no mundo. Precisamos falar sobre isso urgentemente.

Foi falando dos meus sentimentos que eu consegui enxergar que a vida valia e vale a pena, que existem pessoas que me amam e que querem o meu bem.

Hoje, depois de um ano em tratamento contínuo com remédios e terapia, eu sinto que posso, inclusive, ser o apoio de alguém.

Não tenha vergonha de falar sobre os seus sentimentos. Você, mais do que ninguém, sabe que eles são verdadeiros. Tampe os ouvidos para pessoas desinformadas que querem saber mais do que você sobre o que você mesma sente.

Procurar ajuda tem o poder de transformar uma pessoa que se sente fraca em alguém cada vez mais forte.

Você não está sozinha.

Mulher sem Vergonha é um espaço em que mulheres poderosas expressam suas ideias, desejos e confiança sem nenhum tipo de constrangimento. Para inspirar uma vida livre de padrões e julgamentos.