Empresas e fundos de capital de risco se unem para investir em startups
SÃO PAULO (Reuters) - O crescimento do mercado de startups no Brasil está criando o que há alguns anos seria uma aliança improvável: fundos de capital de risco e companhias tradicionais se unindo para desenvolver plataformas e projetos que permitam reduções de custos, ampliação da base de clientes e criação de valor.
Em meio a restrições de crédito e capacidade instalada ociosa após dois anos de recessão, as oportunidades para financiamento para startups estão se multiplicando, uma vez que não demandam tanto capital e são potencialmente benéficas a setores tradicionais.
O setor, antes dominado pelos fundos de capital de risco, agora vê companhias como Itaú Unibanco buscando parcerias para procurar por plataformas compatíveis com seus negócios e, porque não, talvez encontrar uma nova Amazon.com ou um novo Uber.
Embora estes fundos ainda sejam responsáveis pela maioria dos investimentos, cada vez mais corporações de vários setores se interessam em apostar nas empresas iniciantes de tecnologia, obtendo em troca acesso à inovação - processo que deve continuar a se expandir.
"No Brasil, deve ter aproximadamente mil grandes empresas que investem em inovação de forma frequente. Dessas mil, talvez menos de cem tenham programa de acompanhamento de startups. Então as 900 ainda estão por se mexer", disse o professor da Fundação Getúlio Vargas, Newton Campos.
Na tentativa de atrair talentos, os fundos já estabelecidos contam com a dianteira, mas perdem para as corporações em requisitos importantes para as startups, como oferecimento de mentores especializados e instalações para testes de produtos.
Para compensar suas fraquezas e conquistar as melhores posições no mercado, fundos e grandes companhias vem encontrando uns nos outros potenciais parceiros para investimentos.
"As corporações estão atuando de formas diferentes para conseguir tirar melhor proveito desse ecossistema de inovação em etapas diferentes das startups. Quando a corporação quer, de alguma forma, entender o que está acontecendo num estágio um pouquinho mais avançado, ela costuma investir nos fundos de capital de risco", disse Romero Rodrigues, fundador da empresa de comparação de preços Buscapé e sócio do Red Point Eventures, parceiro do Itaú no coworking Cubo.
"Para os fundos de investimentos também é muito bacana ter essas empresas próximas, porque a gente consegue entender a necessidade de tecnologia delas. E com isso a gente consegue ajudar a desenvolver essas tecnologias", disse Romero.
O resultado dessa simbiose pode ser observado em fundos financiados por grandes companhias, como o BR Startups, que foi concebido pelo braço de investimentos da Microsot, e que hoje conta com Monsanto, Banco Votorantim, Algar, BB Seguridade, Qualcomm e Age-Rio como investidores.
"A gente consegue ajudar a startup não só com capital, mas com pessoas para dar apoio, acesso para ela testar o seu produto. Isso é um diferencial muito grande em relação aos demais fundos", disse o diretor de operações da Microsoft Participações, Franklin Luzes, responsável pelo fundo BR Startups.
O fundo, que pretende investir mais 20 milhões de reais em áreas estratégicas como educação, saúde, manufatura, varejo, segurança e soluções para cidades inteligentes até 2020, também não vê as demais iniciativas das empresas como uma ameaça. "Os fundos das empresas são mais parceiros que concorrentes", acrescentou Luzes.
Pierre Schurmann, sócio do fundo Bossa Nova Investimentos - no qual o banco BMG tem participação -, entende que, mais do que beneficiar fundos e companhias, a parceria pode ajudar a consolidar o setor no país.
"O mercado (brasileiro) está engatinhando e nós temos que fomentá-lo", disse Schurmann. "A gente acredita na cooperação. Toda inciativa que promove investimentos em startups em que eu consigo colocar capital, conhecimento, mentores, isso é cooperativo."
Embora a concorrência entre fundos de investimentos e corporações não seja um cenário provável no momento, isso não significa que futuros embates estejam descartados.
Para Schurmann, ainda deve levar mais cinco ou seis anos para que as startups brasileiras atinjam o status de unicórnios - em que o valor estimado é acima de 1 bilhão de dólares - e a maioria está longe de um IPO. Num estágio como esse, é possível que as corporações enfrentem a competição de fundos de private equity, além da opção de que as startups abrirem o capital.
(Por Natália Scalzaretto e Guillermo Parra-Bernal)
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