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Bitcoin e IA: como a Nvidia virou a 1ª fabricante de chip a valer US$ 1 tri

Jensen Huang, CEO da Nvidia, durante Computex 2023, Taipei - AFP
Jensen Huang, CEO da Nvidia, durante Computex 2023, Taipei Imagem: AFP

Júlia Moióli

Colaboração para Tilt, de São Paulo

14/06/2023 04h00Atualizada em 15/06/2023 09h47

Maior fabricante de chips do mundo, a Nvidia se juntou ao seleto clube composto por Apple, Alphabet, Amazon.com e Microsoft ao atingir US$ 1 trilhão em valor de mercado nesta terça-feira (13).

Por trás do sucesso da indústria de games, com seus gráficos ultrarrealistas, e da febre das criptomoedas, a Nvidia superou as expectativas do mercado por ser uma das impulsionadoras da tecnologia do momento, a inteligência artificial.

Apesar de os resultados financeiros dos últimos dois trimestres (lucro de US$ 1,4 bilhão no último de 2022 e de US$ 2 bilhões no primeiro deste ano) não se compararem ao pico da pandemia, a empresa projeta ter um segundo trimestre 50% acima das estimativas de Wall Street.

Se em 30 de maio, a empresa chegou a ser avaliada acima do US$ 1 trilhão durante o pregão, foi ontem que ela encerrou acima da marca trilionária ao final do movimento na Bolsa dos Estados Unidos.

'Momento iPhone da IA'

Ainda que a IA esteja bombando, a Nvidia aposta na área há mais de uma década e abastece todo o ecossistema por trás das inovações no setor, de startups e institutos de pesquisa e desenvolvimento aos principais provedores de tecnologia, computação em nuvem, servidores e datacenter do mercado.

Nos últimos anos, a demanda crescente pelos famosos chips de inteligência artificial A100 fez a Nvidia ver a fatia dessa área crescer em seus resultados. Hoje, IA responde por mais de 60% do faturamento. Exemplo do sucesso é que os processadores, que custam US$ 10 mil cada, são usados pelo emblemático assistente virtual ChatGPT, da OpenAI.

Ainda que seja a única fabricante de chips do ramo tipo —tem como rivais AMD e Intel—, a Nvidia virou símbolo no setor. De acordo com o State of AI Report 2022, mais de 21 mil documentos descrevendo IA de código aberto usavam produtos da empresa.

Atingir o valor de US$ 1 trilhão é um resultado que surpreende, mas sabemos que colhemos agora os frutos de uma jornada trilhada há anos e que deve continuar por muito mais tempo. É a tecnologia que vai resolver o problema computacional da era da IA, e a percepção do mercado é que estamos no olho do furacão. Como diz nosso CEO, chegamos ao momento iPhone da IA
Marcel Saraiva, executivo de Enterprise da Nvidia no Brasil, que lida com inteligência artificial

Games e criptomoeda

Desde sua fundação, no início da década de 1990, a Nvidia lidera a computação gráfica. Hoje, controla 70% do mercado global de GPUs. Essas unidades são usadas em sistemas para acelerar a criação de imagens, especialmente em games. São elas que fazem os jogos funcionarem de forma mais suave e rápida.

"Do ponto de vista de computação gráfica, a Nvidia está em termos de qualidade a anos luz de seus concorrentes, como a Intel", afirmou Augusto Baffa, professor do departamento de Informática do CTC (Centro Técnico Científico) da PUC-Rio.

Graças ao alto desempenho e a eficiência energética de suas GPUs, especialmente a série GeForce RTX 30, a Nvidia atraiu, especialmente durante a pandemia, a atenção de mineradores de criptomoedas.

"Nesse sistema, o par de chaves casadas têm de ser encontrado a partir de um intenso processamento, o que demanda um computador com placas adicionais aceleradoras", explica Angelo Sebastião Zanini, coordenador do curso de Engenharia de Computação do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT).

Num momento em que as blockchains estavam se estabelecendo, a Nvidia oferecia praticamente a única solução. Mesmo hoje o papel da cripto para processadores gráficos não está em desuso: a empresa continua oferecendo soluções, mas isso não está mais tão claro porque ela está pavimentando indústrias que ainda estão surgido
João Kamradt, sócio e head de pesquisa e investimentos da empresa de venture capital Viden.VC

Ainda que tenha surfado a onda dos criptoativos, a Nvidia faz o que pode para se distanciar desse mercado, devido às turbulências do mercado e das várias fraudes associadas às moedas digitais. Este ano, por exemplo, compartilhou a opinião de que a criptomoeda não "traz nada de útil para a sociedade".

EUA x China: de olho em Taiwan

Durante a Computex 2023, maior evento de tecnologia da Ásia e segundo maior do mundo, a Nvidia sinalizou ao mercado suas prioridades. Entre ampliar escala, ganhar poder computacional e buscar eficiência, o destaque ficou por conta do reforço na atuação em Taiwan.

A companhia vai construir um centro de pesquisa de inteligência artificial de ponta para acelerar a plataforma de computação Omniverse, que vai oferecer aplicativos 3D. O projeto deve ser finalizado em 2027.

Crítica para a indústria de tecnologia e para a Nvidia, por abrigar seus principais parceiros, com sua fabricante de seus chips, a TSMC, a região é uma saída potencial para evitar a polarização entre Estados Unidos e China.

Em outubro do ano passado, por exemplo, novas regras do governo do presidente Joe Biden restringiram exportações de chips de IA para a China, de onde vem um quarto da receita da Nvidia.

Para as empresas globais de tecnologia, essa disputa cria um ambiente de negócios complexo e incerto: por um lado, a demanda por tecnologia avançada está em alta, o que traz oportunidades significativas; por outro lado, as tensões políticas limitam o acesso a mercados vitais, impactam a cadeia de suprimentos e fragmentam o mercado global
Luis Quiles, diretor líder de Inteligência Artificial da NTT DATA Brasil