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De vendedor a farmacêutico: como a OpenAI quer usar o ChatGPT no Brasil?

Página inicial do site de inteligência artificial OpenAI, exibindo seu robô ChatGPT - Marco Bertorello/AFP
Página inicial do site de inteligência artificial OpenAI, exibindo seu robô ChatGPT Imagem: Marco Bertorello/AFP

De Tilt, em São Paulo

23/05/2023 04h00Atualizada em 19/04/2024 08h43

"Estou de ressaca. Tem algo de efeito rápido aí pra mim?". A partir da pergunta, o sistema de chatbot responde com uma lista de remédios para curar os efeitos pós-bebedeira. Assim que confirmado, o pedido chega na casa do cliente em até duas horas.

Ainda não dá para comprar remédios assim, mas é assim que o ChatGPT funcionaria no sistema de vendas de uma farmácia. Esta foi uma das demonstrações vistas por Tilt durante uma apresentação da parceira preferencial da OpenAI para o segmento corporativo no Brasil, a consultoria Bain & Company.

Tilt mostrou em reportagem especial como é a vida dura de microtrabalhadores brasileiros.

Repare que não foi necessário dar muitos detalhes. Bastou falar do problema ("estou de ressaca"), e o sistema já entendeu para em seguida sugerir remédios. Simples assim.

Os bots estão cada vez mais próximos de uma interação humana, e isso vai mudar muito a experiência das pessoas. Eu simplesmente falo o que eu quero, e já é feita a recomendação da compra Lucas Brossi, chefe de advanced analytics da Bain na América do Sul.

Esse tipo de conversa natural pode mudar a forma como fazemos compras na internet. Sai a navegação por páginas e mais páginas para fazer uma compra, entra um pedido escrito ou feito por voz, que exibe na hora o que você precisa.

"Não vai substituir a forma como compramos online, porém vai dar para fazer todo o processo de compra numa conversa. Imagine, simplesmente falar: 'preciso fazer um churrasco para 10 pessoas' e ter uma sugestão de ingredientes. Já é possível fazer isso e fechar toda a compra em um bate-papo", exemplificou Brossi.

Demonstração da Bain em que uma pessoa diz "Estou resfriado, o que posso tomar para melhorar logo?" e logo ao lado aparecem opções de medicamentos - Divulgação - Divulgação
Demonstração da Bain em que uma pessoa diz "Estou resfriado, o que posso tomar para melhorar logo?" e logo ao lado aparecem opções de medicamentos
Imagem: Divulgação

Atualmente, serviços de atendimento ao cliente por telefone ou via chat são baseados em uma árvore de decisão: você recebe algumas opções e faz escolhas apenas baseadas nelas. Muitas vezes, o que você precisa só é acessível ao optar por falar com um atendente.

Ao combinar o ChatGPT a informações da empresa (no caso da farmácia: estoque, dados do cliente e pedidos anteriores), a solução pode ser mais efetiva. Responsável por alçá-lo ao estrelato das inteligências artificiais generativas (aquelas que produzem conteúdo), um dos diferenciais do chatbot da OpenAI é a capacidade de entender conversas de forma natural —inclusive escritas com gírias ou abreviações— e interagir conforme o contexto.

Para a Bain, a inteligência artificial generativa pode atuar em áreas como:

  • monitoramento de redes sociais, classificando menções a uma empresa como positivas ou negativas e dando sugestões de respostas em publicações;
  • aconselhamento em vendas: ChatGPT pode resumir o que foi previamente conversado e auxiliar o vendedor a retomar um assunto;
  • auxílio na criação de peças de marketing (tanto parte escrita como gráfica, com o dall-e, uma ferramenta de criação de imagens da OpenAI);
  • suporte ao cliente em diversas áreas;
  • sugestão de venda de produtos em diferentes tipos de comércio online;
  • criação de rascunhos de textos jurídicos e resumo de documentos;

ChatGPT na prática

Durante apresentação, a empresa demonstrou integrações do ChatGPT que já foram criadas para:

  • Marcar exames: em vez de ficar navegando por um site, a pessoa dizia apenas, "preciso fazer um hemograma completo e tenho preferência por quintas-feiras no período da manhã". O sistema retornava com horários sugeridos, todos aderentes ao pedido da pessoa, e solicitava o upload do pedido médico. Era possível ainda interromper a conversa e perguntar, por exemplo, sobre como se preparar para fazer os exames.
  • Criar documentos jurídicos: para criar, por exemplo, um contrato de confidencialidade (os chamados NDA, aqueles em que os signatários se comprometem a não compartilhar informação até uma data específica), basta pedir numa caixa de texto em linguagem natural: "criar um contrato NDA com prazo de embargo para determinado dia e hora".
  • Comprar bebidas em um bar: para esta aplicação, é preciso pensar na situação, em que um bar solicita mais bebida a uma distribuidora. No exemplo, o dono do estabelecimento pede 10 litros de chope e 2 garrafas de vodca. No meio da conversa, ele questiona quantas doses de vodca consegue servir por garrafa. O sistema responde: 25 doses de 40 ml. E dá diferentes cenários de lucro: vendendo a dose por R$ 3,76, são 100% de lucro; se optar por ter 200% de lucro, basta vender por R$ 5,64.

Até o momento, a Bain diz que tem 20 projetos empresariais usando ferramentas da OpenAI, sendo dois na América do Sul em andamento — a empresa, porém, não revela os clientes da região.

Ainda que a companhia seja uma parceira corporativa da dona do ChatGPT para o desenvolvimento de soluções por parte de outras empresas, qualquer pessoa pode criar soluções usando o chatbot. Para usos complexos, porém, é necessário pagar pelo acesso às ferramentas da OpenAI. Como parceira preferencial, a Bain tem maior interlocução para achar soluções financeiras para clientes e que os ajudem a alimentar o chatbot com informação.