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Revolução de sistemas como ChatGPT não está na IA, diz cientista do Google

Cassie Kozyrkov, cientista de dados líder do Google, em palestra no Web Summit Rio 2023 - Stephen McCarthy/Web Summit Rio/Sportsfile
Cassie Kozyrkov, cientista de dados líder do Google, em palestra no Web Summit Rio 2023 Imagem: Stephen McCarthy/Web Summit Rio/Sportsfile

Vitória Azevedo

Colaboração para Tilt, do Rio de Janeiro

03/05/2023 17h02Atualizada em 04/05/2023 11h47

O robô de conversas ChatGPT não impressiona só pela capacidade, mas por toda a sua interface de interação, destacou a cientista de dados do Google Cassie Kozyrkov, durante participação no Web Summit Rio, um dos maiores eventos globais de tecnologia e inovação, que acontece nesta semana no Rio de Janeiro.

Para ela, o que esse sistema de Inteligência Artificial (IA) tem — e que cresce aos olhos do público — é justamente a estratégia pensada de UX Design, termo em inglês para a área voltada à experiência do usuário. A profissional destacou suas percepções no painel "A IA automatiza o trabalho de quem?", realizado hoje (3).

O "segredo" de sistemas como o ChatGPT

Kozyrkov ressaltou que a inteligência artificial está por toda a parte. O que acontece é que nem todos a percebem.

Quando você usa a Netflix, por exemplo, você está interagindo com a IA e, muitas vezes, o usuário nem se dá conta. Isso acontece porque a preocupação do sistema é gerar bem-estar, não fazer com que o indivíduo se preocupe com o que está debaixo dos panos.

O objetivo de bem-estar e a praticidade da tecnologia citados pela cientista é o mote do UX Design, segundo ela. Neste campo, o que mais importa é a interação das pessoas com o produto, trazendo ao máximo uma percepção positiva e uma aproximação com o sistema.

Para Kozyrkov, é isso que promove o sucesso de programas como o ChatGPT, e não o aspecto de revolução do poder da inteligência artificial.

Os primeiros artigos sobre sistemas como o ChatGPT foram publicados há seis anos pela Google. Cientistas e pesquisadores do mundo todo já estudavam o tema, e apenas agora o público se encantou com o sistema. Se você se encantou com o tema há seis anos, você se encantou pela IA. Se você se encantou com o tema agora, você se encantou com o UX Design

Cassie Kozyrkov, cientista de dados líder do Google, no Web Summit Rio 2023 - Stephen McCarthy/Web Summit Rio/Sportsfile - Stephen McCarthy/Web Summit Rio/Sportsfile
Imagem: Stephen McCarthy/Web Summit Rio/Sportsfile

"Hoje, outra coisa está acontecendo. O usuário está sendo incentivado a ver o programa como um sistema criado com IA e pensar sobre o seu funcionamento. Devemos encarar a revolução da inteligência artificial pelo que ela realmente é: uma mudança no que consideramos ser um design", acrescentou.

IAs criadas para agradar, não informar

Ao abordar os sistemas generativos (IA capaz de criar conteúdos), a cientista de dados alertou que é preciso ter cuidado com o nível de confiança nas respostas geradas por eles.

"O que você coloca no sistema, ao interagir com ele, serve de exemplo para a interação com você e com os outros usuários. O algoritmo da inteligência artificial busca similaridade entre os exemplos e os transforma em instruções", explicou.

"No fim das contas, são instruções automatizadas. A verdade é que a inteligência artificial generativa é a criação de informações falsas que parecem plausíveis ao público. Os sistemas estão sendo feitos para agradar, não informar", completou.

O futuro das IAs

Ao analisar a evolução dos sistemas de inteligência artificial nos últimos anos, Kozyrkov relembrou que, inicialmente, a interação era maior entre plataformas e empresas.

Agora, os programas são voltados aos usuários e criados para gerar soluções individuais: "O indivíduo se tornou o alvo dos sistemas, não mais as empresas. Os usuários se tornaram os maiores divulgadores dos programas de inteligência artificial e a utilizam para resolver seus problemas."

Dentro desse aspecto, as soluções individuais não podem ofuscar o potencial desse tipo de ferramenta tecnológica:

O que me preocupa é a distribuição desigual das tecnologias na sociedade. O que significa se poucas pessoas podem ter acesso a uma ferramenta que melhora a produtividade? Nós precisamos pensar nisso. Não podemos nos distrair com as funções robóticas dos sistemas. É animador poder usar a inteligência artificial para resolver problemas individuais, mas estou mais ansiosa pelo momento em que vamos começar a resolver problemas da sociedade como um todo.

Web Summit Rio 2023

@tilt_uol Já ouviu falar no Web Summit? É o maior evento de inovação do mundo! O encontro reúne gente das big techs, das small techs, e um monte de startupeiros. São 974 startups exibindo seus produtos e ideias geniais. Vem saber mais aqui! Patrocínio: @bancobv #TechTok #TikTokNotícias #WebSummit #RioDeJaneiro #Startups #BigTechs #SmallTechs ? som original - Tilt UOL

A 13ª edição do Web Summit começou na segunda-feira (1º) e vai até esta quinta-feira (4), no centro de convenções Riocentro, localizado na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Com caráter internacional, o objetivo é promover discussões sobre novas tecnologias e internet, conectando palestrantes, startups, multinacionais, investidores e entusiastas do assunto.

Os palestrantes têm se dividido em 14 palcos, abordando temas como transportes, finanças, negócios esportivos, criptomoedas, ciência de dados, design e empreendedorismo. Os organizadores esperam mais de 20 mil participantes.

Entre as principais atrações, estão palestrantes como Ayo Tometi, cofundadora do movimento da causa negra Black Lives Matters, e o fundador e chefe-executivo do Nubank, David Vélez.

Também merece destaque a presença de nomes como Catherine Powell, chefe global de hospedagem do Airbnb, e Chelsea Manning, ex-militar americana que ganhou notoriedade ao vazar documentos secretos para o WikiLeaks.

Já entre os brasileiros mais conhecidos, a conferência destaca Konrad Dantas, fundador da produtora KondZilla, Luiza Trajano, fundadora do Magazine Luiza, e a ativista indígena pela Amazônia Txai Suruí.

O UOL também marca presença no evento, com Murilo Garavello, diretor de conteúdo, Helton Simões Gomes, editor de Tilt, e Chico Barney, colunista de Splash, confirmados entre os painelistas. Veja a lista completa de palestrantes clicando aqui.

A expectativa é que o Rio de Janeiro receba o evento anualmente, como um encontro a mais do tradicional realizado em Lisboa. Já há um acerto para que a conferência ocorra na capital portuguesa pelo menos até 2028.