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Pioneiro em IA deixa Google e cita medo do uso irresponsável da tecnologia

Geoffrey Hinton, um dos pioneiros em inteligência artificial, deixo o Google recentemente para alertar sobre perigos da tecnologia - Mark Blinch/Reuters
Geoffrey Hinton, um dos pioneiros em inteligência artificial, deixo o Google recentemente para alertar sobre perigos da tecnologia Imagem: Mark Blinch/Reuters

Simone Machado

Colaboração para Tilt*, em São José do Rio Preto (SP)

02/05/2023 11h25Atualizada em 02/05/2023 11h42

O britânico Geoffrey Hinton, 75, conhecido como um dos "Padrinhos da IA" por ter criado uma base importante para o funcionamento de sistemas de inteligência artificial, contribuindo para o "boom" dessa tecnologia, agora diz que lamenta parte do trabalho que exerceu durante a sua vida.

Para ele, que venceu o Prêmio Turing de 2018 (conhecido como "Nobel da computação"), os avanços desenfreados da IA podem representar riscos para a sociedade. Hinton recentemente deixou seu emprego no Google, após de mais de uma década de trabalho na empresa.

Eu me consolo com a desculpa normal: se eu não tivesse feito isso, outra pessoa teria feito. É difícil ver como você pode impedir que os maus atores o usem para coisas ruins Geoffrey Hinton, em entrevista ao The New York Time.

Neste momento, eles não são mais inteligentes do que nós, pelo que sei. Mas acho que logo poderão ser Geoffrey Hinton, em entrevista à BBC.

O que rolou?

Hinton renunciou ao seu cargo no Google no mês passado. Segundo informações do The Verge, na quinta-feira (27) ele conversou diretamente com o CEO Sundar Pichai. Os detalhes não foram divulgados.

Ainda segundo a entrevista, Hinton estava feliz com a administração da tecnologia pelo Google. Isso começou a mudar quando a Microsoft lançou a versão de seu buscador Bing com a integração da inteligência artificial da OpenAI.

Para o pioneiro em IA, essa competição acirrada pode ser impossível de parar, resultando em um mundo com tantas imagens e textos falsos que ninguém mais será capaz de distinguir o que é verdade, contribuindo para a desinformação da população.

O cientista-chefe do Google, Jeff Dean, tentou suavizar as declarações do ex-colaborador: "continuamos comprometidos com uma abordagem responsável da IA. Estamos continuamente aprendendo a entender os riscos emergentes, ao mesmo tempo, em que inovamos com ousadia."

Hinton também foi ao Twitter para esclarecer sua posição sobre a administração do Google.

"No NYT de hoje, Cade Metz insinua que deixei o Google para poder criticar o Google. Na verdade, saí para poder falar sobre os perigos da IA sem considerar como isso afeta o Google. O Google agiu com muita responsabilidade", escreveu.

Temor de que a IA elimine empregos humanos

O aumento da desinformação é apenas uma preocupação imediata de Hinton. A longo prazo ele teme que a IA elimine trabalhos rotineiros e, possivelmente, a própria humanidade, à medida que ferramentas de inteligência artificial comecem a escrever e executar seus próprios códigos.

"A ideia de que essas coisas poderiam realmente ficar mais inteligentes do que as pessoas (...). Eu pensei que estava longe. Eu pensei que era de 30 a 50 anos ou até mais longe. Obviamente não penso mais assim", disse Hinton ao NYT.

O pesquisador começou no Google depois que uma empresa aberta por Hinton e dois alunos, um dos quais se tornou cientista-chefe da OpenAI, foi comprada pela gigante de buscas.

Os três chegaram a desenvolver uma rede neural de IA que aprendeu sozinha a identificar objetos comuns como cães, gatos e flores após analisar milhares de fotos. Esse trabalho acabou sendo usado como base da criação do ChatGPT e do Google Bard.

*Com informações The Verge e Futurism