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Vendas, dívidas e caixa no vermelho: 5 pontos para entender a crise da Oi

Oi pediu nova recuperação judicial - Divulgação
Oi pediu nova recuperação judicial Imagem: Divulgação

Abinoan Santiago

Colaboração para Tilt, em Florianópolis

02/03/2023 15h35Atualizada em 06/03/2023 15h26

A operadora de telefonia Oi formalizou ontem (1º) o segundo pedido de recuperação judicial, declarando dívidas de R$ 43,7 bilhões. A reincidência da solicitação é inédita entre as grandes empresas do país e a deixa numa posição desconfortável, pois agora tem menos ativos para vender e quitar os credores, já que se desfez de vários nos últimos anos.

A empresa, que chegou a ter 47,68 milhões de clientes e ser a segunda maior operadora de telefonia móvel do país, está atualmente sem qualquer fatia nesse setor. Ela foi obrigada a abrir mão dele após a primeira etapa da crise. Como a Oi chegou até esse cenário? Ela terá como pagar suas dívidas? Do que a empresa ainda vive hoje? Entenda a seguir cinco pontos importantes.

1. Como tudo começou

  • A Oi entrou com o primeiro pedido de recuperação judicial em junho de 2016. A decisão aconteceu após fracasso nas negociações para dar conta da dívida de cerca de R$ 65 bilhões. A homologação aconteceu somente em fevereiro de 2018;
  • A crise financeira foi agravada após a tentativa fracassada de fusão com a Tim, com participação da empresa de investimento LetterOne, que depois desistiu do negócio sem investir os US$ 4 bilhões prometidos;
  • A Oi ainda fechou o trimestre que antecedeu a primeira recuperação judicial com um prejuízo líquido de R$ 1,64 bilhão. A dívida líquida então somava R$ 40,8 bilhões;
  • Sem a fusão e afundada em dívidas, a Oi viu suas ações caírem 47,5% em 2016, enquanto o Ibovespa subiu 16%.

2. Clientes transferidos para Claro, Tim e Vivo

No primeiro pedido de recuperação judicial, a Oi precisou se desfazer de ativos, colocando à venda as subsidiárias:

  • Oi Móvel (a sua principal venda; divisão responsável pela operação de telefonia celular)
  • Telemar Norte Leste
  • Copart 4 Participações
  • Copart 5 Participações
  • Portugal Telecom International Finance BV
  • Oi Brasil Holdings Coöperatief UA

A Oi Móvel foi arrematada pelo consórcio formado por Claro, Tim e Vivo por R$ 16,5 bilhões, em dezembro de 2020. O valor foi R$ 1,5 bilhão a mais do que a Oi pretendia arrecadar na apresentação do seu primeiro plano de recuperação judicial.

A venda foi aprovada somente em janeiro de 2022 pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), iniciando assim o processo de transição de clientes para as demais operadoras.

À época, o ativo possuía 36,5 milhões de linhas celulares, sendo 15,9% do mercado de telefonia móvel brasileiro.

Os clientes foram distribuídos da seguinte forma:

  • Tim: 14,5 milhões de contas, correspondendo a 40% do total;
  • Vivo: 10,5 milhões, 28% do total;
  • Claro: 11,5 milhões de contas, 32% do total.

3. O que a Oi ainda tem para negociar?

Desses serviços, a Oi já se desfez de 57,9% da operação da internet por fibra ótica através da venda da InfraCo, em abril de 2021, por R$ 12 bilhões ao Grupo BTG Pactual. O restante permanece com a empresa.

A companhia ainda aguarda a autorização da Anatel para sacramentar a venda da Lemivig, subsidiária da infraestrutura de torres de telefonia fixa, à NK 108 pelo valor de R$ 1,6 bilhão. Até lá, a Oi ainda controla a empresa.

Não se sabe ao certo o que a Oi ainda tem para vender para quitar suas dívidas. Mas em entrevista ao jornal O Globo, o presidente da companhia, Rodrigo Abreu, garantiu que a empresa ainda detém ativos capazes de pagar as contas.

Temos a discussão com a Sky para vender a operação de TV por assinatura via satélite. E vamos lembrar que um grande ativo que a companhia ainda tem e que, no futuro, a liquidez desse ativo seria importante para renegociar a dívida é a própria participação da Oi na V.Tal [empresa de fibra ótica]. No futuro não se descarta que uma liquidez de V.Tal ajude a fazer uma resolução definitiva das dívidas futuras da companhia. Ricardo Abreu, presidente da Oi

4. Com tantas dívidas, como a Oi fatura hoje?

Mesmo com a crise financeira, a Oi ainda está entre as líderes nos segmentos de TV por assinatura, telefonia fixa e internet banda larga, segundo dados de janeiro da Anatel. A divisão fica:

TV por assinatura

  1. Claro: 6 milhões de acessos
  2. Sky/AT&T: 3,9 milhões
  3. Oi: 2,4 milhões

Internet banda larga

  1. Claro: 9,7 milhões de acessos
  2. Vivo: 6,4 milhões
  3. Oi: 5 milhões

Telefonia fixa

  1. Claro: 8 milhões de acessos
  2. Oi: 7,7 milhões
  3. Vivo: 6,9 milhões

Ainda assim, a representação do ranking não reflete em lucro, pois a empresa tinha até setembro de 2022, um caixa de R$ 3,6 bilhões diante de uma dívida de R$ 35 bilhões. O ano passado fechou negativo em R$ 2,4 bilhões em seu fluxo de caixa.

5. Por que novo pedido de recuperação judicial?

Simplificando: para não ter a exigência de pagar a quem deve e ter mais tempo para apresentar um plano para acertar as contas. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, a operadora ainda acumulava R$ 35 bilhões em dívidas.

O fim da primeira recuperação judicial foi anunciado pela Oi em dezembro de 2022. Os credores, contudo, afirmam que essa primeira etapa ainda não havia sido concluída. A Oi rebateu dizendo que cumpriu as suas obrigações.

Devido ao impasse, a operadora buscou se prevenir e conseguiu, em fevereiro deste ano, uma decisão da Justiça do Rio de Janeiro que suspendeu por 30 dias execuções financeiras por credores, com vencimento em 3 de março.

A Oi também aproveitou para apresentar um novo pedido de recuperação judicial — assim a empresa deixa de pagar os credores por um tempo até que tenha um novo plano de ação.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado, o nome do presidente da Oi é Rodrigo Abreu. O erro foi corrigido.