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ANÁLISE

Musk suspende compra do Twitter por perfis fakes, mas o que isso significa?

Conta de Elon Musk no Twitter mostrada em um celular é mostrada ao lado de logotipo da rede social - Dado Ruvic/Reuters
Conta de Elon Musk no Twitter mostrada em um celular é mostrada ao lado de logotipo da rede social Imagem: Dado Ruvic/Reuters

Guilherme Tagiaroli

De Tilt, em São Paulo

13/05/2022 13h25Atualizada em 13/05/2022 15h07

É difícil saber a real intenção das pessoas quando não há uma comunicação clara. E o bilionário Elon Musk segue esse caminho nesta sexta-feira (13). Em um tuíte, o empresário sul-africano anunciou a suspensão temporária da compra do Twitter. Ele quer mais informações que provem que menos de 5% das contas de usuários representam perfis falsos e de spam.

A notícia fez as ações do Twitter caírem e o mercado ficar atento aos desdobramentos da decisão. Horas depois da primeira publicação, Musk afirmou que continua interessado no negócio. E foi apenas isso.

Até o momento, o Twitter ainda não se pronunciou e nem o empresário falou mais sobre o assunto. A pergunta que fica é: por que será que ele decidiu dar uma 'segurada' no processo de compra? Qual é exatamente o problema desses 5% de contas fake? Será que é mais uma estratégia do empresário para baixar o valor do Twitter?

Analistas da mídia internacional especulam dois motivos, que não são excludentes:

O que são contas falsas ou spam: de modo resumido, elas se "passam" por seres humanos e têm comportamento automatizado. Fazem interação (postam, curtem e retuítam), mas geralmente para atividades escusas, como aumentar a repercussão sobre um assunto, atacar um determinado alvo, espalhar notícias falsas ou links com tentativas de golpes.

1. Jogada para pagar menos pelo Twitter

O combate a esses perfis fake e/ou de spam é importante, mas alguns especialistas acreditam que, ao se apegar a isso, Musk estaria 'jogando' para tentar reduzir o valor de aquisição do Twitter, estimado no mês passado em US$ 44 bilhões.

Ao colocar em dúvida o número de bots (contas automatizadas) de spam que agem na rede social (que pode ser mais de 5%, segundo a própria rede; entenda melhor a seguir), Elon Musk estaria se "apegando" a esse dado para tentar negociar um valor menor.

"Ele [Musk] quer deixar o negócio sem pagar taxas e voltar com uma proposta de preço menor [pela compra do Twitter]", diz a jornalista especializada em tecnologia Kara Swisher. "A questão é será que a SEC [a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA] permitirá isso?".

2. Conter queda de ações da Tesla

Uma das formas de financiamento da compra do Twitter foi justamente baseado em empréstimos feitos por Musk, usando ações da Tesla como garantia. Desde então, as ações empresa de carros elétricos têm caído.

Depois do anúncio da suspensão temporária da aquisição do Twitter, elas voltaram a subir.

"O pretexto é sobre bots, mas eu acho que é por causa das ações da Tesla que estão caindo. Investidores claramente não querem que as duas companhias [Twitter e Tesla] tenham alguma ligação, e tudo isto é uma manobra para fazer com que a Tesla pare de sangrar", escreveu Brianna Wu, que é blogueira e desenvolvedora de jogos.

O curioso é que o próprio Musk se comprometeu a combater essas contas spam e bots, ao anunciar a compra do Twitter, mas agora dá a entender que elas são uma questão para o negócio seguir em frente.

Twitter já errou ao divulgar volume de contas fake

O argumento divulgado por Musk para suspender a compra enquanto aguarda resposta do Twitter tem a ver com a divulgação de dados errados sobre a quantidade de perfis falsos e de spam.

Na última divulgação de resultados financeiros, no fim de abril, o Twitter admitiu que havia calculado erradamente o número de usuários diários que acessam a plataforma nos últimos três anos.

O erro era que a empresa calculava como únicos perfis com múltiplas contas. Em média, havia um cálculo para cima de 1,9 milhão de contas a mais por trimestre.

Além disso, a rede informou que estimava que 5% das contas eram falsas ou spam no primeiro trimestre de 2022, porém esse volume poderia ser maior.

Do documento publicado pelo próprio Twitter: "Fizemos uma revisão interna de uma amostra de contas e estimamos que a média de contas falsas ou de spam durante o primeiro trimestre de 2022 representou menos de 5% de nossos mDau [usuários ativos diários monetizáveis]".

A empresa diz que o cálculo é baseado em amostras mensais durante o período do trimestre. Ao fazer isso, continua o Twitter, "aplicamos determinado julgamento, então nossa estimativa de contas falsas ou de spam pode não representar com precisão o número real de tais contas". Assim, "o número real de contas falsas ou de spam pode ser maior do que estimamos".

Os riscos dos bots

Ao informar que compraria o Twitter, uma das primeiras missões que Musk anunciou foi acabar com bots que compartilham spam na plataforma, sem dar muitos detalhes de como seria isso.

O problema desse tipo de conta, além de questões básicas de segurança (como fazer com que pessoas sejam alvo de golpes), é inflar número de seguidores e engajamento.

O Twitter é conhecido por ser um termômetro de assuntos. Se bots de spams conseguem fazer um assunto se tornar trending topics [tópicos mais mencionados na plataforma], significa que as discussões na rede podem não ser "orgânicas" o suficiente.

Isso pode comprometer a confiança das pessoas na rede, fazendo com que mais gente deixe de usar o Twitter. O mesmo vale para contas spam que só servem para aumentar o número de seguidores.

Uma reportagem do Washington Post, citando pesquisadores que se dedicaram a analisar o perfil de Elon Musk, explica que o próprio empresário já se beneficiou de bots no passado no Twitter.

Segundo o relato do jornal norte-americano, quando pessoas falavam mal da Tesla ou do empresário, contas bots rapidamente respondiam a elas. Os pesquisadores cunharam o termo "fanbot" para explicar o fenômeno. Não se sabe se esses bots são pagos pelo próprio empresário, por uma de suas empresas ou simplesmente por fãs.