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WhatsApp estabelece diretor no Brasil de olho no mercado informal e eleição

Guilherme Horn vai assumir a direção do WhatsApp no Brasil - Divulgação
Guilherme Horn vai assumir a direção do WhatsApp no Brasil Imagem: Divulgação

Vinícius de Oliveira

Colaboração para Tilt, em São Paulo

04/04/2022 04h00

Em março, o Brasil se tornou o segundo país no mundo a ter um diretor regional de WhatsApp —antes, o cargo só existia na Índia.

Mais do que mera sinalização aos 136 milhões de brasileiros da plataforma, a definição do executivo Guilherme Horn como "head" tem uma função estratégica. Para as fontes consultadas por Tilt, o serviço de mensagem está mirando especialmente no comércio informal —e se precavendo caso haja complicações no período de eleições.

Experiência de compra completa

Segundo o próprio WhatsApp, o foco de Horn é estreitar relações com empresas locais. Mas, para Eduardo Endo, um dos responsáveis pela implantação do WhatsApp Business na Caixa Econômica Federal, isso é só parte da história.

Para ele, a plataforma vai buscar se expandir no mercado informal: os ambulantes, microempreendedores e pequenos comércios que atualmente utilizam números próprios como canais de conversa com o cliente.

"Com um gasto pequeno, os comerciantes podem ter uma experiência diferente com o freguês", afirma. "O cliente faz o pedido pelo próprio WhatsApp e cai direto no sistema do restaurante, por exemplo."

"Esse é o grande nicho que o WhatsApp quer atacar, se tornando um verdadeiro ecommerce. Eles já têm experimentos de pagamentos via aplicativo. No futuro, você vai ter todo o ecossistema de compra dentro da plataforma", aposta.

Para o especialista em negócios digitais, o potencial do mercado brasileiro para o grupo Meta (ex-Facebook), proprietário da plataforma, é enorme. A própria Caixa foi um exemplo.

"Durante a pandemia, os atendentes da Caixa viraram atendentes virtuais, graças a uma ferramenta do aplicativo. É aí que eles ganham muito dinheiro", destaca — sem detalhar valores.

Novo modelo, novas regras

Com esse novo perfil, a chegada de Horn também cumpre uma demanda jurídica, segundo André Câmara, especialista em direito societário do escritório Benício Advogados.

"Caracterizando-se como uma forma de pagamento, o WhatsApp vai precisar cumprir as legislações e determinações impostas pelo Banco Central", avalia Câmara. "Logo, ter um head e uma estrutura jurídica é fundamental para que o aplicativo se enquadre nesse novo modelo de negócios."

O advogado reforça que, a partir da criação de uma representação efetiva no país, o aplicativo passa a ter os mesmos direitos e obrigações que qualquer empresa brasileira.

"Não que ele não tivesse que cumprir a lei antes, mas essa obrigação estava relativizada, porque não havia um responsável para cobrar e impor uma decisão judicial", diz.

Eleições: um momento de tensão

É impossível não lembrar do recente caso do Telegram, um dos principais rivais do WhatsApp, que foi ameaçado de ser bloqueado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por não colaborar com investigações da Polícia Federal a respeito da transmissão de fake news. Pressionada, a empresa definiu um representante legal no país.

A disseminação de desinformação nas redes sociais tem motivado ações constantes do Ministério Público Federal (MPF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). E elas devem se tornar ainda mais frequentes com a disputa pela presidência, em outubro.

"Com a chegada das eleições, pode acontecer de empresas ligadas a partidos políticos quererem utilizar o WhatsApp para veicular campanhas eleitorais", diz Endo. "Então, é importante ter [esse cargo] para abrir essas informações, caso haja uma investigação a pedido da Justiça", completa.

"O fato de a Justiça ter se manifestado sobre essa questão, no caso do Telegram, com certeza mudou a estratégia do WhatsApp. Agora, o head responde mais diretamente à legislação e às autoridades brasileiras", conclui Câmara.

Bloqueios do WhatsApp no Brasil

Vale lembrar que o aplicativo da empresa de Mark Zuckeberg chegou a ser bloqueado no Brasil em pelo menos quatro oportunidades.

A primeira foi determinada por um juiz de Teresina, em fevereiro de 2015. A ação foi movida porque a empresa não quis enviar informações à Justiça que seriam usadas em uma investigação policial.

Em dezembro do mesmo ano, o app ficou suspenso por 14 horas após o WhatsApp não cumprir uma determinação judicial da 1ª Vara Criminal de São Bernardo do Campo. A situação só foi revertida devido a uma liminar do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), que permitiu restabelecer o acesso ao aplicativo.

O terceiro bloqueio ocorreu em maio de 2016, após uma decisão da Justiça de Sergipe. Na época, o Facebook descumpriu uma ordem judicial para compartilhar informações que ajudariam em uma investigação criminal. Foram 24 horas fora do ar, o maior período até agora.

Em julho de 2016, foi a vez da Justiça no Rio de Janeiro. Novamente, o Facebook se recusou a cumprir fornecer informações para uma investigação policial em Caxias, na Baixada Fluminense.