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Como dois ucranianos defenderam a última torre de internet em Mariupol

Morador de Mariupol, ao lado do túmulo de um amigo: cidade perdeu mais de 280 mil habitantes - Alexander Ermochenko/Reuters
Morador de Mariupol, ao lado do túmulo de um amigo: cidade perdeu mais de 280 mil habitantes Imagem: Alexander Ermochenko/Reuters

Ellen Alves

Colaboração para Tilt, do Rio de Janeiro

02/04/2022 09h23Atualizada em 04/04/2022 09h51

Desde o início da invasão da Rússia, os sistemas de comunicação de cidades na Ucrânia têm sido alvos frequentes de ataques. Mas, na cidade de Mariupol, uma única torre de celular resistiu durante dias — graças ao esforço de dois engenheiros da empresa ucraniana de telecomunicação Kyivstar, que se arriscaram para mantê-la funcionando.

Estima-se que Mariupol teve 90% dos seus prédios destruídos em bombardeios. A cidade já não tem mais fornecimento de água, energia elétrica ou medicamentos há mais de um mês. Mas graças a essa dupla, cujos nomes ainda não foram revelados, os moradores puderam continuar acessando a internet e realizando telefonemas, vitais na evacuação e no salvamento de várias famílias.

Avanço russo e o papel dos dois profissionais

Os ataques da Rússia chegaram a abrir um buraco no edifício da Kyivstar. Mesmo assim, segundo reportagem da revista norte-americana Wired, os dois profissionais decidiram continuar indo ao escritório todas as manhãs para ligar um gerador a diesel, que manteve a infraestrutura de telecomunicação funcionando.

À noite, para ajudar a economizar a energia de reserva, o gerador era desligado.

Por um tempo, os técnicos tiveram a proteção de soldados ucranianos. Mas, depois que os russos romperam os limites da cidade, os militares tiveram que abandoná-los para lutar nas ruas.

Apenas em 21 de março os soldados russos cortaram a energia da torre, o que marcou o fim da última forma de comunicação das pessoas em Mariupol.

A partir de então, Volodymyr Lutchenko, diretor de tecnologia da Kyivstar, ficou sem saber a localização dos engenheiros. Sequer sabia se estavam vivos ou mortos.

Mas, no último dia 25, os funcionários encontraram uma maneira de enviar uma mensagem de texto para dizer que tinham sobrevivido, com outros 150 mil residentes da cidade. (Antes da guerra, a população era de 434 mil.)

Segundo Lutchenko relatou à revista Forbes. ao que tudo indica, eles ainda estavam morando nos escritórios do Kyivstar (ou o que restava deles).

Outras empresas sob ataque

Semanas antes de o serviço da Kyivstar ser eliminado, a Ukrtelecom foi forçada a sair de Mariupol quando os russos bombardearam seus escritórios e sua infraestrutura. Fornecedora das Forças Armadas Ucranianas, a companhia é a maior provedora de telefonia fixa do país.

Em 18 de março, um dos trabalhadores da Ukrtelecom que tentava sair da cidade com sua família foi fuzilado por tropas russas. Segundo a Forbes, ele morreu e seus parentes ficaram feridos.

Outros engenheiros da Ukrtelecom desapareceram. A empresa continua tentando fazer contato. Enquanto isso, a companhia montou 230 abrigos em oito cidades para abrigar funcionários forçados a deixarem suas casas.

A Lifecell, terceira maior operadora de rede de telefonia móvel, não atende em Mariupol desde 27 de fevereiro, tão rápida foi a destruição de seus equipamentos.

Um porta-voz disse à Forbes que "locais de transmissão foram destruídos e cabos foram danificados nas rotas principais e de backup". No momento, é impossível alocar funcionários para fazer os reparos necessários.