Topo

Garimpeiro descobre que rocha guardada era meteorito de 4,6 bilhões de anos

Meteorito de Maryborough - Museums Victoria
Meteorito de Maryborough Imagem: Museums Victoria

Juliana Stern

Colaboração para Tilt*

30/11/2021 17h24

O garimpeiro australiano David Hole fez uma descoberta importante enquanto procurava por ouro no Parque Regional de Maryborough, na Austrália. Com um detector de metal, ele encontrou uma rocha peculiar e a guardou por cerca de três anos na esperança de achar ouro em seu interior.

Nesse meio tempo, Hole chegou a usar uma serra de cortar pedra, uma rebarbadora, uma furadeira e até mesmo mergulhou a coisa em ácido, mas nem mesmo uma marreta conseguiu sequer rachar o material, descoberto por ele em 2015. Curioso, ele então que ele levou o material para análise no Museu de Melbourn, em 2018, confirmando que sua descoberta era na verdade um meteorito.

Após estudo aprofundado, os pesquisadores identificaram que a rocha espacial, de 17 quilos, tinha por volta de 4,6 bilhões de anos. A descoberta resultou em um artigo científico publicado na revista "Proceedings of the Royal Society of Victoria".

Os cientistas nomearam o meteorito de Maryborough, por causa da cidade onde foi encontrado.

"Meteoritos são a forma mais barata de exploração espacial. Eles nos transportam de volta no tempo, fornecendo pistas sobre a idade, formação e química de nosso Sistema Solar", afirmou o geólogo Dermont Henry, que confirmou que a rocha se tratava de um material de fora da Terra.

O meteorito de bilhões de anos

Além da cor avermelhada, pedra encontrada por Hole tinha uma aparência esculpida e com covinhas, segundo Henry. Essas características, de acordo com ele, são formadas durante a entrada do objeto na atmosfera terrestre — com a temperatura elevada, ele derrete do lado de fora.

Henry contou que é relativamente comum que pessoas levem rochas e pedras incomuns aos museus achando que são meteoritos. Em 37 anos que o geólogo trabalha no museu de Melbourne, milhares de rochas já foram analisadas com este fim. Porém, apenas dois acabaram sendo, realmente, meteoritos. O objeto levado por Hole foi um deles.

Usando uma serra de diamante para cortá-lo, também identificaram minúsculas gotículas cristalizadas de minerais metálicos, chamadas côndrulos, e uma alta concentração de ferro em sua composição, categorizando-o como um um condrito comum (H5).

Côndrulo radial de piroxênio formado no meteorito de Maryborough - Museums Victoria - Museums Victoria
Côndrulo radial de piroxênio formado no meteorito de Maryborough
Imagem: Museums Victoria

Mais valioso que ouro

A suspeita de que a pedra poderia conter ouro não foi em vão. O Parque Regional de Maryborough está localizado em uma região que se chama Goldfields, uma área conhecida pela corrida do ouro australiano no século 19.

Porém, para a ciência a descoberta vale muito mais. O meteorito de Maryborough é um dos 17 já registrados no estado australiano de Victoria. Além disso, é a segunda maior massa condrítica, depois de um espécime de 55 quilos identificado em 2003.

O geólogo destaca que alguns meteoritos podem carregar partículas mais antigas do que o nosso Sistema Solar, que podem ajudar a esclarecer como as estrelas se formam e evoluem para criar elementos da tabela periódica.

Outros, ainda mais raros, contêm moléculas orgânicas como aminoácidos, que podem ajudar a entender a origem da vida aqui na Terra e a possibilidade de vida extraterrestre.

Os pesquisadores ainda não sabem de onde veio o meteorito descoberto na Austrália, mas a suposição é que o objeto tenha saído do cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter. Em relação a quanto tempo ele está na superfície terrestre, a datação por carbono (usada para determinar a idade do materiais) sugere que o meteorito chegou por aqui entre os últimos 100 e 1.000 anos.

*Com informações do site Science Alert e do Museu Victoria.