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Não é só social: 'Dependência das redes sociais é econômica no Brasil'

Letícia Naísa

De Tilt, em São Paulo

05/10/2021 16h14

Em um relatório de julho, o Facebook divulgou que mais de 2,7 bilhões de pessoas usam alguma das redes sociais da empresa diariamente, em todo o mundo. Esse é o número que ajuda a entender a dimensão da pane que afetou os três principais aplicativos do conglomerado nesta segunda-feira (4). Quando Facebook, Instagram e WhatsApp saíram do ar por sete longas horas, ficou evidente a nossa dependência.

Para Raquel Recuero, professora e pesquisadora da UFPel (Universidade Federal de Pelotas), no Rio Grande do Sul, coordenadora do MIDIARS (Laboratório de Pesquisa em Mídia, Discurso e Análise de Redes Sociais), esse impacto foi especialmente grave para quem depende das ferramentas para sobreviver.

Em entrevista a Tilt, ela explica que os brasileiros têm uma característica em especial: eles se apropriaram das redes sociais, especialmente o WhatsApp, para vender, trabalhar e estudar —como poucos países fizeram— e passaram a depender financeiramente das ferramentas.

"Os apps são centrais em muitos negócios e atividades econômicas no Brasil. O Instagram e o WhatsApp são um apoio para quem precisa entrar em contato com clientes ou fazer reunião. Para essas pessoas, o impacto foi maior", ressaltou.

Tilt: Como nos tornamos tão dependentes das redes do Facebook?

Raquel: Bom, tem o momento que estamos vivendo, da pandemia. As interações migraram para o digital, e essas ferramentas se tornaram muito importantes para as lojas conseguirem vender. Não é mais só social, é também uma ferramenta econômica. Já eram ferramentas muito usadas pelos brasileiros que acabaram sendo apropriadas também para esse uso econômico, principalmente entre os pequenos —pequenas lojas e pequenos vendedores.

O impacto é menos porque as pessoas ficaram sem poder se falar e mais porque as pessoas dependiam das ferramentas para exercer atividades econômicas. Tem loja vendendo pelo Instagram e mandando mensagem para cliente pelo WhatsApp, tem empresa que está usando o WhatsApp para se reunir, estudantes usando essas ferramentas para fazer um trabalho, grupos de professores. Dessa vez, esse apagão tem impacto não só social, como nas atividades econômicas.

Tilt: Existe uma forma de voltar atrás nessa dependência?

Raquel: Existe. No momento em que as redes sociais saíram do ar, as pessoas procuraram alternativas. É que não é muito fácil acontecer essa migração... A tendência é que apareçam outras ferramentas e, até por questões geracionais, as pessoas passem a usar outras coisas.

Não vamos ficar sempre usando o Facebook, a não ser que o Facebook consiga inovar. As novas gerações já usam outras ferramentas, como o Discord e o TikTok. O problema da pane nesse momento foi esse: as ferramentas do Facebook são muito usadas no Brasil, principalmente pelas pessoas comuns. Elas são muito populares em todas as classes sociais, então foram apropriadas pelas atividades econômicas por lojas e empresas.

Tilt: Essa dependência está conectada com a economia da atenção?

Raquel: Óbvio que o Facebook e o Instagram têm uma conexão com a economia da atenção, mas as pessoas estão migrado a atenção para o vídeo e a imagem. É o entretenimento que está conquistando boa parte da atenção. O WhatsApp hoje é uma ferramenta importante de comunicação. Quando ele cai, a gente busca alternativas, manda SMS ou usa qualquer outro meio para conversar.