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iOS 14: apresentação sem sal "esconde" as novidades mais úteis da Apple

Gabriel Francisco Ribeiro

De Tilt, em São Paulo

23/06/2020 16h24

Sem tempo, irmão

  • Apple deu destaque principal a mudanças para arrumar "bagunça" do celular
  • Novidade tem potencial, mas recursos mais úteis acabaram sendo "escondidos"
  • Ligação como notificação é algo óbvio e pedido há tempos; agora chega ao iPhone
  • App Clips também parece bacana, mas precisará de "forcinha" para emplacar

Ao apresentar nesta segunda (22) o seu novo iOS 14, sistema operacional que deverá chegar em setembro, a Apple focou bastante em recursos que ajudarão a arrumar a "zona" de apps do iPhone, mas algumas das novidades mais legais acabaram "escondidas" no evento.

A empresa começou a apresentação da WWDC 2020 falando muito sobre como reimagina a tela principal do seu celular e como quer dar uma arrumada naquela bagunça de aplicativos. Convenhamos: nada muito bombástico.

Se lembrarmos que com o iOS 11 tivemos a introdução da "central de controle" que mudou realmente nossos celulares, e que no ano passado ganhamos o aguardado "modo escuro" com o iOS 13, organizar apps não parece algo tão forte. O iOS 14 soa mais como o iOS 12 em sua falta de novidades.

Pior: para variar, a maioria dos principais recursos destacados pela empresa apareceu primeiro no Android há algum tempo e só agora vão para o iOS, mostrando uma tendência da Apple nos últimos anos de perder o pioneirismo —seja em novidades de hardware ou de software.

Bom, ao menos ela continua apostando na longevidade do que produz: o novo sistema valerá até para quem comprou iPhones 6S, aparelho lançado no longínquo ano de 2015. Isso mostra respeito aos usuários, no mínimo. A maioria das outras fabricantes interrompe atualizações poucos anos depois do aparelho ser lançado.

Mesmo assim, recursos como o "App Library" e "Widgets", que ganharam o maior destaque, não sustentam muito a empolgação. O App Library servirá para arrumar as várias páginas de aplicativo soltos pelo celular, mas o exemplo dado foi algo quase irreal: um celular com sete páginas de aplicativos soltos, sem pasta nenhuma.

Essa novidade deve impactar pessoas mais desorganizadas, mas não muda nada para quem já tinha o hábito de criar pastas e adicionar os apps a elas logo após baixá-los. É um recurso válido e útil, claro, mas serve para poucos casos.

Já os Widgets, não posso negar, ficaram bonitos demais no iPhone. É claro, contudo, que eles são cópia descarada do Android. E, quando uso o sistema do Google, raramente adiciono os tais widgets, com exceção do de clima. A Apple também não escapou de virar piada, com internautas comparando os "novíssimos widgets" a celulares da Nokia de mais de uma década atrás. "Pense diferente", ironiza o tuíte abaixo, citando um bordão da empresa.

Por esse parâmetro, tudo pareceu um pouco sem sal. Mas desenvolvedores podem gostar: um deles, nosso blogueiro Guilherme Rambo, já está experimentando e deixou na tela principal apenas os aplicativos mais usados com os widgets preferidos.

Novidades úteis escondidas

Após a apressada apresentação da Apple, pudemos ver com calma o que mais tínhamos pela frente no iOS novo. Algumas das principais novidades passaram despercebidas ou não foram citadas, e são detalhes com mais potencial para mudar de fato a vida do usuário.

Por exemplo: você, usuário de iPhone, finalmente não precisará mais parar de usar o celular ao receber uma ligação, se quiser ignorá-la. A chamada agora irá surgir na tela como uma notificação no topo e você poderá aceitar, recusar ou simplesmente ignorar - recurso existente há anos na maioria dos celulares Android. Até agora, uma ligação tomava a tela inteira do iPhone e não era possível só ignorar sem atender ou recusar.

Talvez a Apple não tenha dado muita ênfase a isso pela demora em trazer algo tão básico e simples. O mesmo valerá para a Siri: agora ela não vai mais tomar a tela inteira ao ser ativada, surgindo apenas como um ícone na tela.

Outra novidade que algumas pessoas notaram foi que o iOS 14 finalmente permitirá a busca de emojis no teclado. Atualmente ele oferece sugestões com base no que você está digitando, mas não possibilita efetivamente uma busca.

Guilherme Rambo também notou um detalhe que faz a diferença. Agora um ponto verde no topo da tela, próximo do ícone da bateria, avisará se a câmera do celular está ligada, como já ocorre em computadores da Apple. Parece besteira, mas é ótimo para a privacidade e segurança do usuário.

Outro recurso mostra uma ruptura da estratégia da Apple de priorizar seus aplicativos: aparentemente poderemos selecionar aplicativos de emails e navegadores terceiros como "padrão" no iOS 14, como Outlook, Google Chrome e outros. A Apple sequer falou sobre isso na apresentação.

Bom, teve alguma coisa que eles deram destaque e é legal: a possibilidade de ver vídeos em segundo plano no iOS, já presente no Android, agrada muito. Isso mostra a Apple adotando de vez as inúmeras possibilidades criadas pelas telas cada vez maiores de celulares.

App Clips promete

Outra novidade bacana que a Apple deu uma ênfase de três minutos —apesar de jogar lá para o fim da apresentação sobre o iOS— foi o App Clips. O recurso possibilitará utilizar funções de aplicativos sem de fato ter que baixar o app inteiro.

Em 2017, o Google lançou o Instant App, recurso voltado a celulares lotados (normalmente os mais baratos e com menos memória) em que era possível usar funções de aplicativos sem necessariamente baixá-los. Anos depois, isso não pegou no Android, mas agora a Apple apresenta algo parecido.

Como a Apple mesmo brincou na sua apresentação, "existe um app para tudo". E quantas vezes tivemos que usar um aplicativo, fazer um cadastro, usar a função que necessitamos no momento e depois o deletarmos, ou deixarmos abandonado no celular?

O Instant App não funcionou até o momento talvez por falta de apoio do Google, que não impulsionou tanto a função para seus desenvolvedores. Se a Apple der uma forcinha, quem sabe?

Vale lembrar, contudo, que a relação da Apple com seus desenvolvedores é tortuosa: ao mesmo tempo que eles reclamam das altas taxas da App Store, sabem também que o retorno em dinheiro de aplicativos para iPhone é maior do que no Android, apesar do sistema do Google contar com mais usuários.

O App Clips tem algumas boas ideias, como a possibilidade de logar pela Apple sem preencher cadastro e até a de pagar com Apple Pay. Se o Instant App foi pensado em função da falta de espaço no celular, o App Clips vai pelo lado da funcionalidade —até porque espaço não é tanto um problema para usuários de iPhone. Resta saber se vai "pegar".

E a tecnologia pós-Covid?

Como vivemos em um "novo normal" tendo que lidar com uma pandemia, imaginava-se que a Apple apresentasse tecnologias que ajudassem a enfrentar a doença. Diferentemente disso, o que rolou foram tecnologias supérfluas que viraram motivo de piada.

Na apresentação, a empresa mostrou, por exemplo, que o Apple Watch vai entender quando você estiver lavando a mão (e até quando pegar sabão) para contabilizar o tempo da lavagem e que agora você pode colocar máscara no seu Memoji.

Nada tão novo para ajudar a combater a pandemia. Resta esperar a apresentação de produtos físicos da Apple para saber se algo mudará para ajudar a enfrentar a doença —especula-se sobre medidor de temperatura e oxímetro embutidos no celular.

Vale reforçar que a Apple não esperou a WWDC para mudar seu software no combate ao coronavírus: tanto a maçã quanto o Google atualizaram há alguns meses seu sistema com tecnologias que ajudem no rastreamento de contágio por meio de bluetooth. Nesse ponto, foi algo louvável das empresas ao nos trazer algo urgente.