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Nome do filho no currículo? Campanha é bonita, mas pode ser perigosa

Campanha online pede para que pais e mães se valorizem com nome do filho no currículo - Getty Images/iStockphoto
Campanha online pede para que pais e mães se valorizem com nome do filho no currículo Imagem: Getty Images/iStockphoto

Felipe Oliveira

Colaboração para Tilt

03/01/2020 04h00

Sem tempo, irmão

  • Campanha online sugere colocar nomes dos filhos no currículo
  • Causa é bonita, mas pode ser perigosa e potencializar golpes
  • Quanto mais informações você expõe online, mais facilita a vida de criminosos
  • Dica é evitar dar detalhes excessivos, caso queira fazer parte da campanha

As redes sociais nunca estiveram tão presentes no dia a dia das pessoas. Basta um passeio ao shopping, uma ida à sorveteria ou uma caminhada no parque para fotos, postagens e compartilhamentos. Mas não são apenas ações do dia a dia que são expostas na Internet atualmente. Especialistas da empresa de segurança Kaspersky notaram uma nova moda seguida por algumas pessoas e potencialmente perigosa: compartilhar o nome dos filhos no perfil do LinkedIn, a fim de exaltar o papel da mãe no mundo profissional.

Apesar de a ação ser um passo importante no debate sobre a gestação e a carreira da mulher, ela pode esconder alguns riscos. O compartilhamento de informações extras - aquelas além do que somos obrigados a dar - cria facilidades que criminosos podem aproveitar.

"A campanha de valorizar a maternidade na carreira profissional faz todo sentido, mas o que a gente levanta é que cada vez que você publica uma informação adicional, você torna mais fácil a vida de um criminoso. Ele pode usar essa informação contra você ou a corporação que você está trabalhando", diz Claudio Martinelli, diretor-geral da Kaspersky no Brasil, ressaltando que não é apenas o compartilhamento do nome dos filhos no currículo que pode ser usado por criminosos, como também as fotos postadas no Instagram ou no Facebook.

Um dos principais problemas que essa exposição pode causar é ser vítima de um email de phishing - técnica na qual o criminoso se utiliza de uma isca, como enviar o nome de um conhecido por email, para que o usuário caia em um golpe.

"O criminoso pode desde as coisas mais básicas, como conseguir o telefone dessa executiva e fazer declarações ameaçadoras que partam do presídio como: 'mãe, aqui é a Mariazinha e preciso de ajuda'; como o golpe do WhatsApp, no qual ele toma a conta da pessoa e se passa por ela para enviar mensagens pedindo ajuda para amigos e familiares", aponta o diretor da Karspersky.

Como aderir a campanhas do tipo de forma mais segura?

Uma das maneiras de aderir a campanhas como essa e se proteger de cibercriminosos é colocar apenas a informação "mãe" ou "pai". Segundo Emilio Simoni, diretor do dfndr lab, laboratório de segurança digital da Psafe, o limite é colocar o primeiro nome. .

"O melhor a se fazer é não colocar o nome dos filhos. Em último caso, só o primeiro nome, não o nome inteiro. A outra questão é tomar cuidado com quem tem acesso. É um paradoxo no LinkedIn, já que ao mesmo tempo que as pessoas querem se proteger, elas querem que o perfil seja visto por conta da busca por emprego. O que é importante é não dar mais informações do que se precisaria", explica.

O alerta das empresas de segurança não visa desestimular campanhas do tipo, mas apenas manter usuários seguros em tempos de privacidade online cada vez mais ameaçada.

"Nosso alerta não tem o objetivo de desmotivar as mulheres que querem mostrar que são mães. Apenas queremos propor a elas para não expor o nome das crianças, pois esta informação é privada e valiosa para os criminosos. Ao invés disso, as mulheres e homens que tenham interesse em aderir a esta causa,podem indicar as idades dos filhos", sugere Juliana Mattozinho, gerente de marketing da Kaspersky e mãe de duas crianças.

Campanha é iniciativa de consultoria

A campanha é uma iniciativa da consultoria Filhos no Currículo em parceria com a aceleradora de carreiras B2Mamy. Em nota, as empresas disseram que o movimento nasceu da necessidade de afirmar a potência dos filhos na vida profissional de pais e mães. "Após a chegada de um filho, desenvolvemos diversas habilidades que devem ser mencionadas no nosso currículo, como empatia, liderança, negociação e criatividade".

"O movimento convida pessoas a mencionarem seus filhos no LinkedIn de forma consciente. A Internet colaborativa pode ser um lugar de muita transformação positiva e é isso que queremos. Caso a pessoa se sinta desconfortável em mencionar o nome, sugerimos que ela faça parte do movimento colocando em seu perfil a sua profissão: mãe e pai. E assim tem sido. Um movimento potente, transformador e muito positivo", completa a nota.

Limites nas redes

Quem nunca postou uma foto dos filhos nas redes sociais que atire a primeira pedra. A maioria das pessoas gosta de mostrar a rotina da família nas redes, mas será que existe um limite para essa exposição? Para o diretor da Karspersky, não existe uma maneira segura de compartilhar momentos nas redes, mas uma "menos insegura".

"Uma dica é não expor sobrenomes, uniformes escolares, fotos na frente de casa com o número aparecendo, esse tipo de coisa que facilita a vida de um bandido", alerta Claudio Martinelli.

"O maior problema é que quanto mais informações você disponibiliza, mais está suscetível a pessoas má intencionadas. No golpe do falso sequestro, isso é um prato cheio para o atacante. Se tiver nomes e fotos fica ainda mais perigoso, porque podem ser usadas as características físicas para dar o golpe", ressalta Emilio Simoni, da Psafe.

Caí no golpe! O que fazer?

A criatividade para os crimes na Internet tem crescido constantemente. Por isso, nem sempre conseguimos driblar os ataques que recebemos, seja nas redes sociais ou email. Uma dica para se proteger é ficar atento ao conteúdo do link que recebe.

"Os criminosos estão ficando cada vez mais inteligentes, estão se aperfeiçoando, mas ainda assim você percebe que os links têm erros de português, de pontuação. São coisas mal construídas", afirma Claudio Martinelli.

Se ainda assim a pessoa acessar a página, o ideal é deixá-la imediatamente e evitar expor os dados pessoais.

"Não continuar na página é o primeiro passo. Não digitar dados de cartão, de CPF, nada que possa te identificar e ser usado em uma fraude. Se você percebe que as informações não fazem sentido, para que fazer? A questão é: Duvide e, na dúvida, não faça. Se você percebeu que caiu na armadilha, vamos supor que seja um caso de banco, ligue e entre em contato, suspenda as operações, cancele os cartões, tome as atitudes preventivas imediatamente", completa o diretor da Karspersky.

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