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Com vídeo falso de Zuckerberg, artistas testam políticas do Facebook

Em deepfake no Instagram, Zuckerberg cita "bilhões de dados roubados"  - Reprodução
Em deepfake no Instagram, Zuckerberg cita "bilhões de dados roubados" Imagem: Reprodução

Bruno Madrid

do UOL, em São Paulo

12/06/2019 13h01Atualizada em 12/06/2019 13h31

Resumo da notícia

  • Uma montagem de Mark Zuckerberg falando sobre dados roubados surgiu no Instagram
  • Criado propositalmente para uma exposição, o vídeo foi mantido no ar
  • Objetivo é promover o debate e criar soluções para reprimir este tipo de conteúdo
  • Em maio, um vídeo falso foi tuitado por Trump; audiência sobre deepfakes está marcada

Criado por inteligência artificial, um vídeo que surgiu no Instagram pode ter assustado alguns internautas por segundos. Nas imagens (que você pode assistir abaixo), a figura de Mark Zuckerberg, executivo-chefe do Facebook, aparece falando algo chocante: "Imagine por um segundo: um homem, com controle total de bilhões de dados roubados. Todos os seus segredos, suas vidas, seus futuros".

O áudio e os lábios de Zuckerberg estavam sincronizados com as imagens. Para uma pessoa pouco ligada em notícias e fontes confiáveis, aquele conteúdo poderia ser tratado como real. E é por este motivo que o vídeo foi criado.

O deepfake (técnica de usar inteligência artificial para criar vídeos manipulados) do chefão do Facebook foi produzido pelos artistas Bill Posters e Daniel Howe - em parceria com uma empresa de publicidade britânica - e fez parte da Spectre, uma exposição de tecnologia que ocorreu na Inglaterra. O objetivo foi trazer o debate em torno da segurança em relação a este crescente tipo de conteúdo para as redes sociais.

No vídeo original, feito há dois anos, Zuckerberg nada falava sobre dados pessoais, mas sim sobre o papel do Facebook nas eleições russas. No vídeo novo, a voz com as declarações sobre "dados roubados" é de um ator imitando o Zuckerberg, e o rosto e lábios do executivo foram manipulados para sincronizar com o áudio.

E para a surpresa de alguns, a publicação com o "deepfake" continuou no ar no Instagram, rede social que faz parte do Facebook, empresa-mãe fundada e controlada por Mark Zuckerberg.

Tendência perigosa

A obra foi criada como uma resposta dos artistas a outro caso ocorrido no mês passado, em que um vídeo editado de uma política norte-americana balançou o país.

Em maio, um vídeo com velocidade menor que o normal de um discurso da presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi (Partido Democrata), viralizou nas redes sociais. Não tratou-se exatamente de uma "criação", como no caso de Zuckerberg, mas também houve manipulação de modo a parecer que Pelosi estivesse bêbada ou sob efeito de drogas e remédios.

O vídeo falso chegou a ser tuitado pelo presidente norte-americano Donald Trump (veja abaixo), que é do partido rival ao de Pelosi. Foi constatada a manipulação após perícias, e as televisões admitiram o "fake". Na internet, no entanto, alavancar o desmentido é mais difícil. Muitos acreditaram na manipulação, ou continuam acreditando até agora. E o tuíte do presidente continua no ar e já recebeu mais de 90 milhões de curtidas.

O Twitter recusou-se a comentar a polêmica, mesmo após pressões de internautas. O Google, por sua vez, removeu o conteúdo do YouTube. E o Facebook, de Zuckerberg, apenas sinalizou nas publicações que o vídeo era falso e reduziu sua exibição na plataforma, mas não tirou a montagem do ar.

O ato de não remover conteúdos falsos, que parece ter virado regra no Facebook, preocupa os norte-americanos, que passarão por eleições presidenciais em 2020.

Nesta quinta-feira (13), será realizada uma audiência sobre "deepfakes" na Câmara dos Deputados dos EUA, e a deputada Yvette Clarke apresentará um projeto de lei que tenta sanar o problema.

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